Embora a presidente Dilma Rousseff (PT) ainda não tenha sido afastada da Presidência da República, Michel Temer (PMDB) já joga com as brancas. O vice sabe que não pode esperar o Senado abrir o processo de impeachment para mover suas peças.
Não se trata apenas de chegar ao Planalto com um gabinete definido. Temer tem pouco tempo a perder também porque as bancadas de deputados e senadores que votaram e votarão pela deposição de Dilma estão ansiosas para ocupar posições centrais no tabuleiro.
Partidos como PP, PR, PSD e PRB deixaram a base de apoio de Dilma para endossar o impeachment e agora querem a recompensa. Por sua vez, PSDB, DEM e PPS, siglas que se opõem ao governo petista, supõem merecer espaços generosos na administração do PMDB.
Conhecedor das negociações fisiológicas tão valorizadas pelos deputados, Temer saberá utilizar os milhares de cargos federais disponíveis para retribuir o esforço da maioria. Encontra maiores obstáculos, porém, ao tentar alocar aliados no futuro primeiro escalão.
O peemedebista havia manifestado a intenção de promover redução radical no número de ministérios, passando dos atuais 32 para cerca de 20. A medida teria cunho sobretudo simbólico, pois a economia de gastos dela resultante não vai além do irrisório.
Seja como for, Temer parece admitir que a radicalidade do corte será abandonada. Pelas contas atuais, precisará de pelo menos 26 pastas para acomodar os indicados de sua provável base –uma realidade que um político experiente como ele jamais terá ignorado.
O PSDB, por exemplo, provavelmente demandará três ministérios, correspondendo cada um deles aos interesses do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e aos dos senadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP). Naturalmente farão do Executivo uma alavanca para suas pretensões presidenciais de 2018.
Essa disputa por protagonismo, todavia, não há de estar entre as maiores preocupações de Temer. Tendo definido um nome de peso para comandar a economia (Henrique Meirelles), e flertando com quadros de indiscutível capacitação técnica para áreas como saúde e educação, o vice-presidente patina no Ministério da Justiça.
A pasta de maior visibilidade em tempos de Lava Jato ainda não tem um favorito, e Temer começou suas buscas de forma tortuosa. Sondou um advogado criminalista crítico das operações –mas soube sair-se bem do episódio logo desautorizando o comentário inapropriado.
Ainda assim, a posição mais vulnerável no tabuleiro do vice-presidente continua ligada ao flanco investigativo. Parece inevitável que peças cruciais para a estratégia do peemedebista sejam derrubadas pela Lava Jato –e mesmo um político profissional como Michel Temer terá dificuldades para resolver os problemas desse xadrez.
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