Por Vandson Lima, Andrea Jubé, Thiago Resende e Lucas Marchesini - Valor Econômico
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff deve apoiar a aprovação de um projeto de decreto legislativo para a realização de um plebiscito, pelo qual a população decidiria pela continuação ou não de seu governo e do vice-presidente Michel Temer e convocação de nova eleição presidencial.
Diante da iminência de seu afastamento do cargo pelo Senado, Dilma também estaria disposta a apoiar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para a escolha de um novo presidente em outubro. Ela não pretende, no entanto, tomar a iniciativa de encaminhar uma medida nesse sentido.
Dilma debateu a possibilidade em reunião ontem com seus dois principais auxiliares - os ministros da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, e da Chefia do Gabinete Pessoal da Presidência, Jaques Wagner -, em que também avaliaram a repercussão do anúncio do "pacote de bondades" no domingo, no ato relativo ao 1º de Maio.
A discussão sobre o apoio do governo, e mais precisamente da presidente Dilma à realização de uma nova eleição presidencial, é assunto no Palácio do Planalto e entre aliados há pelo menos um mês e meio, desde antes de a Câmara dos Deputados aprovar o prosseguimento do processo de impeachment, que agora tramita no Senado.
A conversa esquentou na última semana. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo senadores de seu círculo próximo, estava empolgado com a ideia. Chegou-se mesmo a discutir o lançamento da proposta de nova eleição nas comemorações do Dia do Trabalho.
As tratativas arrefeceram, no entanto, após os representantes da Frente Brasil Popular, composta por 65 entidades do movimento sindical, popular e estudantil, como CUT, UNE e MST, comunicarem na sexta-feira a Berzoini que não concordavam com a realização de novas eleições.
Alegaram que isso seria "jogar a toalha" antes do tempo, o que levaria à perda do discurso do "golpe" orquestrado por Temer e pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e, consequentemente, a bandeira para saírem às ruas.
Para os movimentos, em última instância, "o povo tem que ver o golpe", sentir a dificuldade de um eventual governo de Michel Temer para aí então se conseguir mobilizar as massas por uma nova eleição presidencial. Ou seja, lançar a ideia agora é oferecê-la ao fracasso.
Dilma levou em conta a ponderação. Segundo petistas que estiveram com ela no evento de domingo, se nos dias anteriores ela se mostrava favorável ao envio, nos próximos dias, de uma proposta de nova eleição em 2 de outubro, como uma espécie de "cartada final" antes do afastamento das funções ser aprovado pelo Senado, agora ela a reavalia.
Com a estratégia do plebiscito, Dilma crê que pode obter o apoio da população ao discurso de que o eventual governo de Michel Temer seria ilegítimo, e o melhor caminho seriam os brasileiros escolherem, nas urnas, um novo presidente. Há expectativa no Palácio do Planalto, ainda, de que o ex-presidente Lula volte a Brasília nesta semana para retomar conversas com senadores.
Lula não subiu ao palanque junto com Dilma no ato relativo ao 1º de Maio promovido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) em São Paulo. No ato, Dilma anunciou um "pacote de bondades" para a base eleitoral do PT, como o reajuste dos benefícios do Bolsa Família em 9% e a correção de 5% na tabela do Imposto de Renda.
Segundo a assessoria do ex-presidente, ele estava afônico. Mas auxiliares de Dilma temem que se Lula não retornar a Brasília nesta semana, como tem feito nos últimos meses, a imagem que prevalecerá é de que ele terá abandonado a sucessora às vésperas da votação da admissibilidade do impeachment, quando senadores determinam o seu afastamento do cargo.
O cronograma atual prevê que Dilma será afastada na próxima semana, por volta do dia 11. No Senado, os parlamentares do PT já abandonaram as buscas por votos para barrar a admissibilidade do processo. Farão até o fim o debate, mas avaliam que é possível, inclusive, que Dilma seja destituída provisoriamente com o aval de mais de dois terços dos senadores (54).
Os 18 senadores do PMDB desembarcaram quase em sua totalidade do rol de apoio do governo. O líder da maior bancada do Senado, Eunício Oliveira (CE), anunciará no dia da votação a orientação da sigla pela saída de Dilma Rousseff.
Por isso, a tese de nova eleição causa empolgação nos senadores do PT, que anteveem um cenário dificílimo para Temer, sem o respaldo das urnas e obrigado a tomar medidas impopulares.
É contando com esse panorama que se começaria um movimento para evitar a cassação definitiva de Dilma - que pelo calendário do impeachment terá de ocorrer até meados de setembro - diante da promessa de que ela voltaria à Presidência apenas para organizar a nova eleição.
Se afastada, Dilma pretende descer a rampa presidencial, acompanhada de ministros e seus principais auxiliares. Ela poderá continuar morando no Palácio do Alvorada, residência oficial da Presidência, até o fim do processo de impeachment, que tem 180 dias para ser analisado pelo plenário do Senado.
Até lá, a presidente pretende manter uma agenda positiva com diversas aparições públicas. Somente nesta semana há a recepção da tocha olímpica em Brasília, o lançamento do Plano Safra da agricultura familiar do Ministério da Agricultura e também inauguração do Minha Casa Minha Vida.
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