• Petista nega e diz que despesas com marketing foram declaradas
- O Globo
-BRASÍLIA- Em gravação feita pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, o ex-presidente José Sarney diz que a presidente afastada, Dilma Rousseff, negociou diretamente com a construtora Odebrecht um pagamento para o marqueteiro João Santana, preso na Operação Lava-Jato. Foi Santana quem comandou o marketing da campanha petista de 2014. As gravações estão no âmbito da delação premiada de Machado, homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e foram reveladas ontem pela TV Globo. Para Dilma, as tentativas de envolvê-la no esquema são “escusas e direcionadas”.
Na conversa com Machado, no dia 10 de março, Sarney diz que, com a eventual colaboração da Odebrecht, a Lava-Jato avançaria para “pegar a Dilma”, porque teria sido ela quem tratara “diretamente sobre o pagamento do João Santana”.
— A Odebrecht [...] eles vão abrir, vão contar tudo. Vão livrar a cara do Lula. E vão pegar a Dilma. Porque foi com ele. Quem tratou diretamente sobre o pagamento do João Santana foi ela. Então eles vão fazer. Porque isso tudo foi muito ruim pra eles. Com isso não tem jeito. Agora precisa se armar. Como vamos fazer com essa situação? A oposição não vai aceitar. Vamos ter que fazer um acordo geral com tudo isso — disse Sarney a Machado, que concordou com o posicionamento.
Em outra gravação divulgada na quarta-feira pela “Folha de S.Paulo”, Sarney comparou a delação de executivos da Odebrecht a uma “metralhadora de calibre 100”. Em março, o juiz Sérgio Moro decretou a prisão preventiva de Santana e de sua mulher, Monica Moura, com base em provas de que o casal se relacionou ilicitamente com a construtora Odebrecht desde 2008 e até 2015.
Segundo o juiz, os “álibis” apresentados por eles para justificar o recebimento de pelo menos US$ 7,5 milhões não declarados no exterior eram “inconsistentes com a prova documental já colhida”.
Monica Moura negocia com procuradores da força-tarefa da Lava-Jato uma colaboração que poderia explicar a origem de recursos que foram injetados em campanhas do PT.
Em outras gravações, reveladas ontem pelo “Jornal Nacional”, Sarney e Machado falam da resistência de Dilma Rousseff em renunciar ao mandato presidencial.
— (Ela) acha que não tem rabo. Tudo isso foi... é o governo, meu Deus! Esse negócio da Petrobras. São os empresários que vão pagar, os políticos! E o governo, que fez isso tudo? — pergunta Sarney.
Em outro trecho, Sarney diz considerar a prisão de João Santana fatal para Dilma:
— Agora não tem jeito. Depois desse negócio do Santana não tem jeito.
O ex-presidente ainda prevê que, se Dilma cair, “Michel (Temer) vai sair também”.
Uma outra conversa entre Machado e o presidente do Senado, Renan Calheiros,
publicada pela “Folha” na quartafeira, também apontou o potencial risco para a imagem de Dilma de eventuais revelações de executivos da Odebrecht.
— Mas, Renan, com as informações que você tem, que a Odebrecht vai tacar tiro no peito dela, não tem mais jeito — disse Machado.
— Tem não, porque vai mostrar as contas. E a mulher é... — respondeu Renan.
— Acabou, não tem mais jeito. Então a melhor solução para ela, não sei quem podia dizer, é renunciar ou pedir licença — disse Machado, em seguida.
— Isso... Ela avaliou esse cenário todo. Não deixei ela falar sobre a renúncia. Primeiro cenário, a coisa da renúncia. Aí ela, aí quando ela foi falar, eu disse: ‘Não fale não, pelo que conheço, a senhora prefere morrer’. Coisa que é para deixar a pessoa... Aí vai: impeachment. ‘Eu, sinceramente, acho que vai ser traumático. O PT vai ser desaparelhado do poder’ — concluiu Renan.
Pagamentos regulares
Em nota, Dilma disse que todos os pagamentos feitos a Santana na campanha de sua reeleição totalizaram R$ 70 milhões (R$ 50 milhões no primeiro turno e R$ 20 milhões no segundo turno). “Os referidos pagamentos foram regularmente contabilizados na prestação de contas aprovadas pelo TSE.”
Para a assessoria de imprensa de Dilma, os valores destinados ao pagamento do publicitário, conforme indica a prestação de contas, “demonstram por si só a falsidade de qualquer tentativa de que teria havido outro pagamento não contabilizado para a remuneração dos serviços prestados”.
Dilma ainda questiona o apontamento de eventuais pagamentos por pessoas alheias à coordenação de sua campanha. “É curioso que pessoas que estiveram distantes da coordenação da campanha presidencial, de sua tesouraria, possam dar informações de como foram pagos e contabilizados os recursos arrecadados legalmente para a sua realização”. De acordo com a nota, comentários feitos em conversas entre terceiros e que não apontam a origem das informações não têm nenhuma credibilidade.
Ainda segundo a nota, as tentativas de envolver o nome de Dilma em situações das quais ela nunca participou ou teve qualquer responsabilidade são escusas e direcionadas. “E só se explicam em razão de interesses inconfessáveis.”
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