sexta-feira, 27 de maio de 2016

Que PT surgirá dos destroços?

Por Malu Delgado – Valor Econômico

SÃO PAULO - Quando o impeachment de Dilma Rousseff ainda não era realidade, mas uma forte probabilidade a despontar no horizonte, e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, amargava altíssimos índices de rejeição à sua administração ao fim de 2015, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em algumas rodas de conversa de petistas, sempre em tom jocoso: "Eu devo mesmo ter o dedo podre".

Com seu jeito debochado, era também uma referência indireta à perda do dedo num acidente de trabalho, em 1964, quando metalúrgico. Meses depois, o "eleitor de postes" - título herdado por Lula ao conseguir alçar ao poder federal e à mais importante prefeitura do país, respectivamente, Dilma e Haddad, dois calouros em disputas eleitorais - aparecia com a face desoladora em fotos estampadas nas primeiras páginas dos jornais no dia em que a presidente eleita foi obrigada a se retirar do Palácio do Planalto diante da aprovação do processo de impeachment pelo Senado.

A imagem devastadora de Lula é a que melhor reflete a encruzilhada do PT no momento atual. O partido já considera liquidada a fatura do impeachment - internamente, os mais realistas não creem no retorno de Dilma ao Planalto - e deu largada a um processo de reestruturação para definir seu futuro. O PT colocou a reeleição de Haddad no primeiro item da lista de prioridades imediatas pelo simbolismo político da disputa na capital, conforme se vê nas duas últimas resoluções (sobre conjuntura nacional e eleições municipais) divulgadas pela sigla no dia 17. Haddad é a principal trincheira eleitoral do PT e, paralelamente, passou a ser citado como o político que pode encarnar algo novo no partido e conduzir, em 2018 ou adiante, o "legado petista".


Os obstáculos para o prefeito ser catapultado a uma eleição presidencial são inúmeros, a começar por sua difícil relação de identidade com o partido, do qual tenta se distanciar para dirimir a rejeição, e pela incerteza de sua reeleição. Em novembro de 2015, na última pesquisa feita pelo Datafolha, 49% dos paulistanos rejeitavam a administração de Haddad; 34% a consideravam regular e apenas 15% aprovavam a gestão do petista.

Na reflexão recente sobre a conjuntura política, a direção do partido interpreta o jogo do impeachment como um movimento necessário para "avançar na escalada de criminalização do PT e de demais forças de esquerda" e interditar "o ex-presidente Lula como alternativa viável nas eleições de 2018". A despeito das implicações de Lula nas investigações da Operação Lava-Jato - há risco iminente de o líder petista ter a prisão decretada -, o ex-presidente ainda é a única opção plausível de candidatura para o PT em 2018.

Sondagem do Datafolha, no mês passado, comprova a força política de Lula. Ao lado de Marina Silva, o ex-presidente lidera as pesquisas, com 21% ou 22% das intenções de voto, dependendo do cenário, e supera os tucanos em todas as projeções, inclusive o senador Aécio Neves (MG), que concorreu à Presidência em 2014 e tem o maior "recall" no PSDB. A mesma amostragem, porém, revela a surpreendente rejeição a Lula: 53% dos entrevistados declararam não votar no petista sob nenhuma hipótese.

Por mais que nomes como o de Haddad, o do ex-ministro e ex-governador da Bahia Jaques Wagner e até mesmo o do ex-ministro José Eduardo Cardozo surjam como possíveis "novidades", nenhum deles tem ainda respaldo interno do partido e tampouco visibilidade nacional para encarar uma disputa num momento de terra arrasada. Não por acaso, o partido marcou para novembro, passadas as eleições municipais, um encontro nacional com dirigentes, filiados e militantes de todo o país para debater o que será o PT nas próximas duas décadas.

Ex-ministro da Justiça e ex-advogado-geral da União, José Eduardo Martins Cardozo diz acreditar na possibilidade de retorno do PT à Presidência em 2018. Cardozo mantém uma agenda atribulada em Brasília e é o homem de confiança de Dilma, responsável por organizar a defesa jurídica e política da petista no processo de impeachment.

Em entrevista ao Valor, um dia após a revelação do áudio que derrubou o senador Romero Jucá (PMDB-RR) do Ministério do Planejamento, ele demonstrava otimismo com o cenário. "A cada dia fica mais claro que houve ação política que buscou afastar um governo legitimamente eleito, sem crime de responsabilidade, para alcançar objetivos que não são nobres, como a interrupção da investigação da corrupção no país. Temos falado isso desde o início do processo do impeachment e agora, com a divulgação da conversa do senador Jucá, isso fica indiscutível."

A avaliação do ex-ministro é que se o impeachment for entendido pela maioria da sociedade como um processo cujo objetivo central era "parar investigações e salvar pessoas que tinham o temor de serem atingidas pela Lava-Jato", o PT ganhará um "fortalecimento indiscutível". "Fica claro que o governo do PT e a presidente Dilma eram a mola propulsora do combate à corrupção."

As últimas revelações poderão ter consequências importantes nas próximas eleições presidenciais, avalia Cardozo. "Acho muito cedo falar o que vai acontecer em 2018. Temos visto várias forças políticas que traziam para si a bandeira da moralidade promovendo um processo justamente para que essa moralidade não fosse alcançada com as investigações que eram garantidas com autonomia no governo Dilma", afirma. "Isso está sendo percebido cada vez mais pela sociedade. Às vezes, a verdade demora a aparecer, mas, quando aparece, tem um efeito demolidor das intenções espúrias."

• Haddad precisa de aproximar-se do partido diz Emídio de Souza: "O diálogo dele com o PT hoje é muito pequeno, restrito, tímido"

Integrante da corrente Mensagem ao Partido, minoritária no PT, e um petista que não conta com o afeto e o aval de Lula, Cardozo vê no ex-presidente a principal possibilidade para o partido em 2018. "O presidente Lula é a grande liderança desse processo político, que o PT viu nascer na década de 80 e até hoje. Ele é candidato natural e muito forte à Presidência da República." Apesar de citado, o ex-ministro da Justiça não vê possibilidade de encarar desafios eleitorais futuros em nome do PT. "Cumpri meu papel no Ministério da Justiça, cumpri meu papel na Advocacia-Geral da União, cumpro agora meu papel [na defesa de Dilma], mas não prevejo para mim nenhum horizonte político. Não mesmo."

Cardozo é categórico ao dizer que não tem e não almeja absolutamente nenhum objetivo político-eleitoral. Em 2010, chegou a escrever uma carta a seus eleitores explicando o desencanto com a política e as razões pelas quais não mais disputaria eleições, por não concordar com a organização do sistema político brasileiro.

"Meu primeiro posto de envergadura na política foi secretário de governo da Luiza Erundina em 1989 [na Prefeitura de São Paulo]. Fiquei quase quatro anos como secretário. Depois disso, fui vereador por oito anos. Depois, deputado por oito anos. Depois, ministro por mais de cinco anos. Ou seja, acho que está na hora de voltar para a minha vida acadêmica, cuidar da minha vida pessoal, francamente. Eu não me coloco nenhum objetivo político-eleitoral daqui para frente. Pretendo retomar com muito vigor a minha carreira acadêmica, que ficou tanto tempo paralisada pela política."

Cardozo e Haddad pertencem à mesma corrente do PT, liderada pelo ex-ministro e ex-governador Tarso Genro. Para esse grupo, a saída que pode dar oxigênio ao partido e renovação política ao cenário brasileiro é a formação de uma frente ampla de esquerda, que seja capaz de se organizar também eleitoralmente no futuro. Esse será um dos principais debates travados dentro do PT no encontro de novembro. Há forte resistência do campo majoritário do partido a essa tese, pois ainda se aposta na candidatura de Lula como o caminho mais fácil e a saída mais plausível para sanar a crise atual de imagem da legenda.

Aliados de Haddad dizem que o momento é extremamente delicado para o prefeito. Apesar de depender do apoio do PT e da militância para a eleição, Haddad tenta descolar-se da crise nacional e evitar que ela tenha efeito nefasto em sua tentativa de retomar o comando da capital em 2017. Em entrevista recente ao Valor, Haddad defendeu a aglutinação de forças progressistas, citando o PDT, PT, PCdoB e PSOL. Sobre Marina Silva, disse ter dificuldade de situá-la ideologicamente, mas certamente vê lideranças do Rede alinhadas a esse campo progressista. Haddad tem construído, recentemente, pontes com o ex-ministro Ciro Gomes, o nome mais provável do PDT para disputar a Presidência em 2018.

"O Haddad é uma promessa, mas depende muito desta eleição [municipal, em outubro], depende muito do clima e do papel que ele jogue dentro do PT. Ele precisa dialogar com o PT. O diálogo dele com o PT hoje é muito pequeno, restrito, tímido", diagnostica o presidente do PT de São Paulo, Emídio de Souza. Ele admite que, para o partido, a opção em 2018 ainda é Lula. "Não trabalhamos com outra hipótese." Nenhuma liderança do PT, reflete o dirigente, acumulou credenciais para disputar uma eleição presidencial. "Jaques Wagner ainda é uma liderança muito regional", diz.

O foco do PT, agora, insiste o dirigente paulista, é lutar contra o impeachment. "Não estamos com pressa. Agora a prioridade das prioridades é combater o Temer, caracterizá-lo como governo ilegítimo e, com esse balanço, ir reconstruindo o PT e apontar para o futuro, mesmo que não esteja claro quem serão as lideranças neste futuro."

"Querem tirar o Lula da frente, mas ele é quem reúne as condições de liderar uma coalizão em 2018. Não sendo o Lula, o PT tem outros nomes. Vejo dois com muita condição: um é Fernando Haddad, e o outro é o ex-governador Jaques Wagner. Não necessariamente nesta ordem", afirma o deputado federal Paulo Teixeira, vice-presidente nacional do PT. Cardozo, segundo o deputado, "não gostaria de exercer esta função".

Também membro da Mensagem ao Partido, Teixeira diz ver "com enorme simpatia" a construção de uma frente democrático-popular para discutir ideias e interesses de partidos como PDT, PCdoB, segmentos do PSB e até mesmo do PMDB e Rede que se posicionaram contra o impeachment. "Os setores democráticos e de esquerda não têm o direito de ficar desunidos neste momento em que posturas conservadoras e fascistas brotam com grande vigor e força nesta conjuntura", opina o ex-ministro da Justiça. "Acho que tem que ser uma união que enfrente questões sociais e políticas postas - o que é imprescindível para barrar o impeachment, que a meu ver é um golpe -, mas também [essa frente] deve apontar para o futuro para trajetórias eleitorais."

De novo, a presença de Marina Silva nessa frente parece ser uma incógnita para os petistas. "Diria que todos os setores democráticos e de esquerda devem dialogar, devem construir propostas unitárias de ação. Não gostaria de nominar A, B ou C, mas todos aqueles que têm visão democrática, transformadora, que eu chamaria de progressista, defensores da cidadania, do combate à exclusão social, do preconceito, esses setores têm de estar juntos."

O ex-ministro Tarso Genro admite que Lula "segue sendo" a principal referência do PT, o principal líder e o principal condutor das vitórias do partido. "Como todo grande dirigente, acertou e errou. Na minha opinião, acertou mais do que errou." O momento, porém, é tão complexo que exige do PT adotar uma nova concepção, de direção coletiva. Genro define esse novo momento como uma espécie de "Estado-maior político" que vá além da mera inspiração numa liderança única.

"Penso que Lula deve estar no centro de uma nova frente política, mas se articulando de forma horizontal, num mesmo plano, com um conjunto de dirigentes de outras forças. E, se ele for candidato, que não o seja por mera 'indicação' do PT, mas, sim, fruto de um novo consenso de esquerda, plural e democrático. E não simplesmente porque ele seja o mais viável, em termos eleitorais, mas seja o mais adequado para representar esta nova pluralidade." A frente ampla defendida por Genro teria a missão de "fazer o Brasil transitar para outro modelo de desenvolvimento, alternativo ao rentismo liberal", que, segundo ele, ganha força com o impeachment de Dilma.

Genro nega que esteja articulando a criação de um novo partido. Assegura que concentra suas forças no debate sobre a viabilidade de uma ampla frente democrática de esquerda no Brasil que possa tirar o país da "fatalidade de governar com o fisiologismo tradicional". O ex-ministro também nega ter transferido seu domicílio eleitoral para o Rio - para a oposição, Tarso Genro busca seguir o caminho de Leonel Brizola para se viabilizar como uma liderança nacional dentro da esquerda.

"Não mudei [o domicílio eleitoral] e não tenho nenhum plano eleitoral. Meu 'plano' é ser um coadjuvante na reorganização da esquerda brasileira", disse o gaúcho. "Quem vai conduzir o PT, depois de Lula, vai depender do que o PT vai fazer de si mesmo, ou seja, se ele vai sair da crise fortalecido ou renovado como perspectiva socialista, humanista e democrática, ou aprofundará a sua condição de partido democrático mais tradicional", disse Genro ao Valor, em entrevista concedida por e-mail.

O futuro do PT, afirmou, não está atrelado ao resultado das próximas eleições municipais. "Acho que o PT vai sair melhor do que a direita gostaria, mas pior do que os nosso companheiros mais otimistas desenham." O futuro do partido, acrescentou, dependerá do tipo de frente política, programa e candidatura que o PT apresentará em 2018.

• Dutra alerta para o equívoco do PT de olhar para 2018: "A maioria do partido já está, de novo, empurrando o Lula para ser candidato"

Também adepto da mesma corrente, outro ex-ministro de Lula, Olívio Dutra, alerta para o equívoco do PT de voltar seus olhares para a disputa de 2018. "É uma precipitação. A maioria do partido já está, de novo, empurrando o Lula para ser candidato." Aos 75 anos, Dutra diz que não pretende disputar nenhum cargo político e que deseja, apenas, ajudar o PT a defender seu projeto "coletivo e solidário". Esse projeto, afirma, não será retomado apenas com outra vitória eleitoral e tampouco em curto espaço de tempo. Exigirá profunda reflexão e redefinição do PT, avalia. "Uma vitória numa eleição não vai resgatar o que o PT perdeu. Não é por aí. O PT não é uma máquina de vencer eleições. Não é meramente eleitoreiro. Neste momento, o PT vai aprender muito mais se perder", critica.

O PT passará por um deserto sem precedentes, com eleições municipais à porta, prevê o cientista político e professor da Universidade Federal do Rio Jairo Nicolau. Mas ele adverte: "Ninguém está falando em desaparecimento do PT. O PT tem uma estrutura incomparável, é a maior organização partidária da história republicana do Brasil". Há petistas espalhados em todas as esferas de poder - municípios e Estados -, diz o professor, e o partido conta com simpatia do mundo intelectual e forte expressão no mundo sindical. "Esse partido não desaparece, não está condenado a sumir na próxima eleição."

Muito mais complexo do que definir que nomes vão carregar o PT ao futuro, porém, é definir que futuro o PT quer carregar. Segundo o professor, o partido terá de escolher que legado quer defender. O PSDB, pondera, não lidou bem com o legado de Fernando Henrique Cardoso. "Qual o legado do FHC? É a era do Real, as pessoas com carro importado, viajando, do dólar um para um, ou é o fim do seu governo, melancólico, com alta taxa de rejeição? É a mesma coisa com o PT agora. Hoje é um péssimo momento para debater a agenda das conquistas petistas, porque um economista vai dizer que 2010 é uma coisa e 2014 é outra. Então, qual é o legado do PT?", pontua Nicolau.

Se na década de 80 o partido podia se apoderar do discurso do "modo petista de governar, da justiça social, do socialismo", os 13 anos de gestão petista no governo federal tiram do partido a possibilidade de se agarrar apenas em questões doutrinárias e ideológicas. "Não tem como descolar a doutrina da sua experiência. Não se pode falar do socialismo do amanhã tendo indicado o Joaquim Levy para tocar as suas finanças. Em 13 anos que passou no governo federal, o PT criou políticas, acertou e errou."

Há dois cenários para se pensar no futuro do PT, segundo o cientista político Sérgio Fausto, diretor-executivo do Instituto Fernando Henrique Cardoso. No primeiro, Lula sobrevive politicamente e se torna um candidato competitivo em 2018. No segundo, o PT tem que se imaginar sem Lula e será obrigado a enfrentar um debate programático mais profundo.

"A perspectiva de ter o Lula candidato em 2018 fará com que, por razões pragmáticas, o partido deixe essas discussões e divisões internas amortecidas. Não me parece o cenário mais provável." Com o cenário do impeachment ainda inconcluso, o PT, na avaliação de Fausto, age como um exército derrotado em sua batalha mais importante: "Recua para a retaguarda para poder se reorganizar. E essa retaguarda do PT é a retomada do discurso dos anos 90, enxergando no governo Temer uma versão mais conservadora ainda do que foi o governo FHC, isso me expressando nos termos petistas, não que eu subscreva essa tese".

Essa "manobra defensiva", segundo Sérgio Fausto, terá de ser temporária e o PT se verá obrigado a reconstruir uma "cara nova". "O PT fez uma aposta num certo capitalismo de Estado, de relações de intimidade excessiva de grandes empresas, governo e partido que evidentemente resultou num desastre. A cara nova do PT não pode ser a reedição desse modelo." Esse debate, avalia, foi evitado pelo partido até o momento. "E o Lula mata essa discussão porque une o partido em torno da personalidade e da perspectiva de poder que representa. Na falta do Lula, na ausência dele, há um deserto de lideranças. Nenhuma delas tem, até aqui, envergadura suficiente para liderar essa discussão dentro do partido, pautar e liderar."

O grupo liderado por Tarso Genro, na opinião de Fausto, é o que teria as melhores condições de formulação programática, mas não possui viabilidade eleitoral no momento. "O Haddad seria uma figura também desse campo, mas tem muita dificuldade de se reeleger em São Paulo. O Cardozo é outra figura, mas agora talvez tenha ido longe demais na defesa de Dilma e tenha dificuldades de se firmar como uma liderança capaz de fazer a ponte do PT com a sociedade. É uma situação de extrema dificuldade para o partido, e não por outra razão, diante desta dificuldade, PT adotou movimento quase que instintivo de recuar às trincheiras dos anos 90, com o mesmo estilo e conteúdo do embate que travou com o governo FHC."

Dividendos só ocorrem quando há lucro, e este definitivamente não é o cenário para o PT, observa a cientista política Raquel Meneguello, professora titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo ela, é fato que o ciclo petista tenha terminado com a combinação de uma forte crise econômica e um processo de impeachment, mas ainda assim o PT possui um "legado inegável no governo associado às suas ações sobretudo entre 2003 e 2013, com a implementação e expansão exitosas dos programas de redução da pobreza, transferência de renda e inclusão social".

Para Raquel, novos atores foram redimensionados na sociedade brasileira por causa da atuação do PT, e isso não ocorreu apenas pela mudança de patamar de consumo. "Houve definição de novos direitos e oportunidades." "É inegável, no entanto, que o PT sofre sua mais definitiva crise e mesmo com esse reconhecimento da importância das mudanças promovidas, o partido deverá sofrer impacto significativo nas próximas eleições locais."

• Para Raquel Meneguello, PT sofre sua mais definitiva crise e deverá sofrer impacto significativo nas próximas eleições locais

A professora considera que, desde o mensalão, o PT patina para articular uma safra competitiva de lideranças, em especial no cenário nacional. "Isso não significa que o PT perderá todos os espaços ganhos, pois boa parcela desses espaços foi estabelecida com grau de enraizamento social e político importante. Também não significa que o partido não se recomporá, pois tem estrutura, capilaridade e organização para isso."

Lula é a força histórica que o PT cultiva e deve cultivar, advoga Raquel. "Será parte das tarefas do partido preservar o que Lula representa. É nesse contexto que nomes específicos do partido devem emergir com incursão nacional, como é o caso de Haddad." A forte rejeição ao PT, para a cientista política, não necessariamente inviabiliza a projeção de novas figuras no cenário, como a de José Eduardo Cardozo.

Os nomes de Cardozo e Haddad também ecoam nas reflexões do professor emérito da UFMG e cientista político Fábio Wanderley Reis sobre as possibilidades eleitorais futuras do PT. "De repente o José Eduardo Cardozo pode ser um ponto de partida, um nome viável para o PT, inclusive nas camadas menos populares." Ele, porém, é taxativo: "Em princípio, sem dúvida nenhuma, Lula é um candidato potencial. E ele é um nome para ganhar a eleição".

Reis pondera que Lula transmite a impressão de estar "envelhecido, cansado", o que suscita dúvidas sobre sua real viabilidade para voltar a disputar uma eleição presidencial. Para o professor, é impossível dissociar o PT de políticas públicas implantadas no governo federal, que tiveram relação direta com a promoção social de camadas menos favorecidas e mais vulneráveis da sociedade. O cenário atual, no entanto, é bastante distinto do de eleições anteriores, em que Lula estava revestido de certa "mística populista".

As surpresas do cenário político têm sido inúmeras e pode ser que o PT, como brinca o cientista Jairo Nicolau, guarde alguma semelhança com times de futebol. "Pode ter um menino lá na Sub-20 treinando, mas não chegou aos meus ouvidos."

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