Foi especialmente importante, para fixar posições e desmentir rumores, a primeira entrevista coletiva do novo presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn. Ele prometeu trabalhar para conduzir a inflação a 4,5%, meta oficial, até o fim do próximo ano. O compromisso foi confirmado, com todas as palavras, durante o lançamento do relatório trimestral de inflação, um exame periódico da economia brasileira e das condições internacionais. Não há condições, de acordo com o documento, para afrouxamento da política monetária. A redução da taxa básica de juros continua, portanto, fora da pauta. Essa advertência já havia aparecido uma semana antes, na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A repetição no relatório deveria bastar, em outra circunstância, para eliminar dúvidas e boatos. Ainda assim, a insistência no assunto, durante a entrevista, foi oportuna.
Rumores de mudança na ação do Copom circularam durante semanas, desde a indicação de Goldfajn para a presidência do BC. Mesmo depois de seu discurso no Senado, na sabatina regulamentar, e de seu pronunciamento na cerimônia de posse, fontes do setor financeiro insistiram no assunto. A meta de 4,5% ficaria para mais tarde, segundo essas fontes, e a autoridade monetária adotaria provisoriamente um algo menos ambicioso, ou “meta ajustada”. As palavras do novo presidente, naquelas duas ocasiões, dificilmente poderiam justificar essas previsões, ou desejos, mas dúvidas permaneceram.
Goldfajn negou explicitamente, na entrevista, a busca de um objetivo mais fácil em 2017. A adoção da meta ajustada, segundo ele, pode justificar-se em algumas circunstâncias. É preciso, nesse caso, anunciar a decisão com clareza, indicando o novo caminho a ser percorrido. Em certas condições, pode ser aconselhável afrouxar a política e buscar provisoriamente um alvo mais acessível e menos custoso. Não é esse o caso, neste momento, insistiu o presidente.
Retomando palavras de seu discurso de posse, ele classificou a meta de 4,5% em 2017 como desafiadora e, ao mesmo tempo, crível. Expressa de outra forma, essa mensagem havia aparecido com clareza na ata da última reunião do Copom, realizada ainda sem a presença de Goldfajn. Sua primeira participação deverá ocorrer nos dias 19 e 20 de julho.
A manutenção da meta de 4,5% para o próximo ano tem claras implicações quanto à política de juros. Segundo a ata, aquele objetivo seria alcançável com juros básicos de 14,25% e câmbio de R$ 3,60 por dólar. No cenário central incluído no relatório, a taxa prevista para 2017, naquelas condições, é ligeiramente mais alta, 4,7%. Mas isso faz pouca ou nenhuma diferença, nesse caso. Ao manter o compromisso, o Copom reafirma a expectativa de atingir o centro do alvo, ou um ponto muito próximo, com aquelas condições de juros e de câmbio. Pelas projeções contidas no relatório, a inflação oficial anual poderá cair para 4,2% no fim do segundo trimestre de 2018. O prazo de dois anos é normalmente o horizonte considerado na formulação da política e nas previsões do BC.
No cenário central, a trajetória da inflação é compatível com uma pequena melhora da atividade. As estimativas de março foram revistas e a contração econômica deste ano foi recalculada de 3,5% para 3,3%. A mudança deve ser puxada principalmente por um desempenho menos desastroso da indústria. A redução esperada para a produção industrial passou de 5,8% para 4,6%. Mas o consumo das famílias deve cair 4%, bem mais do que os 3,3% antes previstos.
Há, no relatório, uma forte aposta na melhora geral das expectativas, com a implantação de uma política mais firme de arrumação das contas públicas. A importância do ajuste fiscal para a estabilização dos preços foi ressaltada muitas vezes nos documentos do BC, nos últimos anos, mas as finanças do governo pioraram sempre na gestão da presidente Dilma Rousseff. Pela primeira vez em muito tempo, há chance de uma política mais séria.
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