- Folha de S. Paulo
O nítido mau humor que tomou conta do noticiário relacionado à Rio-2016 e contaminou as expectativas da população quanto aos Jogos, como mostrou o Datafolha, não é uma particularidade brasileira.
Antes de cada Olimpíada, o cenário se repete: a conquista do direito de sediar acontece em meio a um otimismo irreal, inflado por interesses políticos e econômicos nem sempre confessáveis. Em seguida começam as obras e as críticas, da imprensa, dos cidadãos, da oposição política.
É comum que as cidades-sede —mesmo as que entregam todas as obras antecipadamente— cheguem às vésperas dos Jogos cercadas de dúvidas e reclamações. Isso é o corolário inevitável do papel fiscalizador da imprensa, e não significa torcer contra. No caso nacional, as desconfianças foram acentuadas pelas crises política e econômica do Estado do Rio e do país.
A raiz do problema, no entanto, é que o modelo de Olimpíada que se fez até aqui, com cada nação tentando superar a antecessora em exibicionismo, provou-se furado —coisa que o próprio Comitê Olímpico Internacional foi forçado a reconhecer.
Não por acaso, o COI criou a Agenda 2020, projeto para tornar os Jogos sustentáveis, contendo o gigantismo de construções e gastos. O evento seguinte ao do Rio, em Tóquio, já será organizado de acordo com essa nova lógica. Acaba a concentração de competições em um só lugar, como há no Parque Olímpico da Barra. O novo modelo prevê a utilização de infraestrutura já existente, em vez da construção de novas arenas.
A Rio-2016 será a última Olimpíada em um modelo ultrapassado. Chegamos tarde e compramos um produto que estava saindo de linha.
Agora é tentar evitar que os gastos com a sua manutenção façam ressurgir o mau humor e as críticas pós-Jogos.
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