quinta-feira, 21 de julho de 2016

Gerente liga Setor de propinas a Marcelo Odebrecht

• Em depoimento a Sérgio Moro, juiz da Lava Jato, funcionário diz que chefe de departamento respondia diretamente ao presidente afastado da empresa

Mateus Coutinho e Fausto Macedo - O Estado de S. Paulo

O gerente de Recursos Humanos da Odebrecht Marcos Paula de Souza Sabiá afirmou ao juiz Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, que o executivo Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho, líder do Setor de Operações Estruturadas do grupo, se dirigia e respondia diretamente ao empresário Marcelo Bahia Odebrecht. O setor é apontado pela força-tarefa do Ministério Público Federal como a ‘Diretoria de Propinas’ da empreiteira.

Sabiá não é réu da Lava Jato. Nesta quarta-feira, 20, ele depôs como testemunha de defesa e respondeu a questionamentos de Moro na ação penal relativa à 26.ª fase da Lava Jato, a Operação Xepa. São réus executivos ligados ao grupo – entre eles Hilberto Mascarenhas – e o publicitário João Santana, marqueteiro das campanhas de Lula e Dilma.

O relato de Sabiá confirma a denúncia da Procuradoria da República sobre o elo de Odebrecht com Hilberto Mascarenhas.


O depoimento do gerente de RH da Odebrecht a Moro:
Marcelo Bahia Odebrecht foi preso na Operação Erga Omnes, fase da Lava Jato deflagrada em 19 de junho de 2015. Ele está fazendo delação premiada.

Segundo a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, a Odebrecht realizava pagamentos ilícitos por meio do Setor de Operações Estruturadas. A denúncia do setor de propinas não tem relação com a Petrobrás. As investigações da Lava Jato revelaram que o setor de propinas movimentou muito mais dinheiro, sem relação com a estatal petrolífera

Na audiência desta quarta, Moro perguntou a Sabiá, que depôs como testemunha de defesa, o que era o Setor de Operações Estruturadas.

“Era uma estrutura como todas as demais estruturas da organização, não tinha nada que eventualmente fosse diferente de uma outra na estrutura”, respondeu Sabiá.
“O sr. Hilberto era subordinado a quem na empresa?”, indagou o juiz da Lava Jato.

“Ele tinha sua delegação e, dentro da macroestrutura, ficava ligado ao diretor presidente da organização”, disse a testemunha.

“Ao diretor presidente do Grupo Odebrecht?”, insistiu Moro.

“Ao diretor presidente da organização”, disse Sabiá.

Moro foi direto. “Isso seria o sr. Marcelo Odebrecht?”

“Isso”, declarou a testemunha, que trabalha há dezoito anos na empreiteira.

Na ação penal da Xepa, o Ministério Público Federal delimitou a denúncia aos repasses do setor de propinas para João Santana e sua mulher e sócia, Mônica Moura, presos desde fevereiro. O casal de marqueteiros teria recebido US$ 6,4 milhões no exterior de contas atribuidas à Odebrecht e R$ 23,5 milhões no Brasil.

Além dos funcionários do setor de propinas da empreiteira, que tinham um software próprio para fazer a contabilidade dos pagamentos ilícitos e um outro, chamado Drousys, em que eles se comunicavam por apelidos, o Ministério Público Federal afirma na denúncia que dois doleiros também teriam atuado para o “departamento da propina”. Segundo o MPF, eles atuariam por meio de operações dólar-cabo, nas quais eles recebiam repasses da Odebrecht no exterior e entregavam o valor em dinheiro vivo no Brasil.

Ao todo foram 45 pagamentos aos marqueteiros no Brasil, de 24 de outubro 2014, ainda durante o período eleitoral daquele ano em que Dilma se reelegeu até 22 de maio 2015, ‘o que mostra um acinte em relação à Justiça’, afirmou o coordenador da Lava Jato, procurador Deltan Dallagnol, quando a denúncia foi entregue à Justiça Federal.

“Eles (Odebrecht) não paravam de cometer crimes, o que reforça a necessidade da manutenção da prisão de Marcelo Odebrecht”, seguiu Dallagnol, na ocasião. Ele fez duras críticas à conduta da empreiteira ao longo das investigações.

A contadora da ‘Divisão de Propinas’, Maria Lúcia Tavares colaborou com a Lava Jato e entregou como operava o esquema de pagamentos ilícitos. Ela disse que Hilberto Mascarenhas tinha o apelido de ‘Charlie’ no sistema de comunicação codificada Drousys – utilizado pelo departamento de propina para os funcionários da empresa se comunicarem entre si e com os doleiros e operadores que atuavam para a empresa.

Na denúncia à Justiça, a Procuradoria da República já apontava a ligação de Hilberto com o empresário Marcelo Odebrecht. “acerca do conhecimento e orientação exercida por Marcelo Odebrecht nas atividades espúrias desenvolvidas no âmbito do Setor de Operações Estruturadas, a análise do conteúdo armazenado no seu celular apreendido revelou a existência de anotação específica sobre a equipe dirigida por Hilberto Silva e de sua vinculação com as atividades ilícitas desenvolvidas pelo Grupo Odebrecht (…) Marcelo Odebrecht tinha conhecimento de que Hilberto Silva (HS) e Luiz Eduardo (LE) compunham uma equipe envolvida com atividades ilícitas em favor do grupo Odebrecht.”

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