- Valor Econômico
SÃO PAULO - A presidente afastada Dilma Rousseff afirmou que não dará a renúncia de presente aos seus inimigos políticos diante do processo de impeachment que enfrenta no Senado. A afirmação foi feita em entrevista ao repórter Roberto Cabrini, no Palácio da Alvorada, iniciada em 4 de agosto e que foi ao ar no SBT na madrugada desta segunda-feira.
Ao ser questionada sobre a possibilidade de pedir a renúncia, Dilma afirmou: “Não tenho a menor intenção de renunciar. Não dou esse presente a eles [adversários políticos]”. Ela afirmou que “jamais vai jogar a toalha”.
Ela afirmou ainda que “a conversa” é a forma de tentar reverter votos a favor dela no Senado e que o governo atual tem pressa de encerrar o processo de impeachment porque seus adversários “temem alguma delação”, referindo-se às investigações da Lava-Jato, sem dar detalhas sobre eventuais delatores e acusados.
Dilma afirmou que há uma campanha contra ela, que motivou o impeachment, com o objetivo de “descontruir” sua imagem e “engendrar um golpe de estado”.
“Sou vítima de um julgamento fraudulento, que tem como objetivo fazer uma eleição indireta”, afirmou.
Voltou a dizer que as pedaladas e a assinatura dos decretos que hoje a enredam na Justiça tinham sido praticados nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva e em seu primeiro mandato, mas que somente agora viraram crime. “Ou é crime para todo mundo ou não é para ninguém”, reclamou ela.
A presidente se recusou a “definir” o presidente interino Michel Temer, a pedido do entrevistador, e disse que a presidência dele é “bastante questionável” porque “Temer não foi eleito para fazer o que está fazendo. Foi eleito com o meu programa de governo”. Ela afirmou que “se sente inteiramente traída” pelo presidente interino e que não se sente fora do cargo.
Dilma afirmou ainda que está sendo investigada desde sua primeira eleição presidencial e “que nunca encontraram nada”. “Se tem uma coisa que não sou, é corrupta”, afirmou ela em relação às investigações da Lava-Jato. A presidente afastada afirmou que não tem receio de ser presa pela operação caso venha a ser destituída definitivamente ao fim do processo de impeachment.
Ela negou responsabilidade no petrolão. “Não tenho responsabilidade nenhuma se um funcionário da Petrobras resolveu ser corrupto”. Afirmou ainda que o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró a acusa porque ela o demitiu.
Também negou a acusação de seu marqueteiro, João Santana, de que houve caixa dois na campanha de 2014. “Eu não reconheço, eu não paguei. Não vou assumir responsabilidade sobre o que eu não controlo. É público e notório que não participei.” Segundo ela, “pode dizer que houve corrupção na minha campanha, mas para mim ninguém deu dinheiro nenhum”, disse.
No programa, foi entrevistado o ex-senador Delcído do Amaral, que perdeu o mandato após ser preso pela Lava-Jato e fez acordo de delação premiada. Ele reafirmou que Dilma sabia da corrupção apurada pela Lava-Jato e que ela tentou obstruir a operação, pedindo a Delcídio para que conversasse com um ministro do STJ para frear as investigações, o que Dilma nega.
Ao ser questionada sobre seus erros, ela disse: São imensos os meus erros, mas também os meus acertos”. Como exemplo de “erro” ela citou “ter acreditado nas pessoas”.
A despeito das críticas que recebeu de dirigentes petistas recentemente, ela afirmou que não se sente abandonada pelo PT. “O partido tem me respaldado inteiramente”, afirmou.
Ela também defendeu o presidente Lula, dizendo que uma eventual prisão do ex-presidente seria “uma temeridade”.
Sobre a saúde, ela disse estar “dada como curada”, em relação ao tratamento contra um câncer. Ela atribuiu os 12 quilos que perdeu ultimamente aos cuidados com a saúde e exercícios, como pedalar diariamente.
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