• Presidente interino elabora primeiro pronunciamento pós-impeachment
Maria Lima e Simone Iglesias - O Globo
-BRASÍLIA- Michel Temer definiu o 7 de setembro como o dia do seu primeiro pronunciamento oficial, em cadeia de rádio e TV, como presidente efetivo. O conteúdo ainda está sendo elaborado pelo presidente interino e sua equipe, mas o tom do discurso será o de pedir confiança e crença no futuro. O peemedebista falará em união nacional, como vem pregando desde as turbulências políticas de 2013. Dirá também que, para o país voltar a crescer, serão necessárias “medidas amargas”, entre elas a perda de benefícios e direitos, especialmente, previdenciários.
Inicialmente, o Palácio do Planalto pretendia gravar o pronunciamento de Temer no dia seguinte ao julgamento final da presidente afastada, Dilma Rousseff, no Senado. No entanto, o calendário incerto do impeachment e a necessidade da viagem à China, para encontro do G-20, fizeram com que o governo repensasse a data. Não seria adequado o pronunciamento ir ao ar com o presidente em viagem, avaliaram seus auxiliares.
Contenção de gastos
Em sua declaração, Temer pedirá confiança e falará sobre os sinais de recuperação da economia. Dirá que seu governo tem como prioridade recuperar empregos. Ele também falará na reforma da Previdência, que será enviada ao Congresso em setembro, e nas mudanças das leis trabalhistas e da reforma política. Dará, ainda, uma sinalização clara para o mercado de seu compromisso com a contenção de gastos.
Em jantar com tucanos na noite de quarta-feira, Temer disse que o pronunciamento terá três eixos: a situação que encontrou o país, o que conseguiu fazer nesse período de interinidade, e o que pretende fazer nos dois anos e quatro meses de governo efetivo. Ele fará um apelo ao apoio da sociedade para as medidas que terá que tomar.
O presidente interino pediu ajuda dos tucanos para redigir o discurso. O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), sugeriu — e Temer teria concordado — em abrir sua fala com a primeira frase do discurso de posse do ex-presidente Tancredo Neves, lido pelo então presidente José Sarney, que dizia: “Senhoras e senhores, é proibido gastar”.
Temer anunciará na sua fala que irá antecipar o encaminhamento da reforma da Previdência ao Congresso antes do fim das eleições municipais, para que o envio da proposta, com medidas duras, depois de fechadas as urnas, não configure estelionato eleitoral .
— Esse é o sinal que precisa ser dado. O momento é o de uma sinalização clara de que o governo inicia uma nova fase. O mote do ‘é proibido gastar’, de Tancredo, é mais atual do que nunca — defendeu Aécio.
Segundo o tucano, a conversa com Temer foi muito produtiva sobre uma agenda que iniba os gastos públicos e encaminhe as reformas até o fim do ano.
— Após o afastamento da presidente Dilma, o presidente Michel vai apresentar ao Brasil uma agenda ousada e corajosa de reformas. Ele não tem possibilidade de errar daqui para a frente. Vai apresentar uma agenda para recuperar o país.
Sobre o apelo que Temer fará à sociedade pelo apoio às medidas “amargas” que terá que tomar, o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), argumentou que a população terá que entender que “amargo mesmo é o desemprego”.
Explicação sobre concessões
No balanço que fez aos tucanos, Temer disse que conseguiu muita coisa nesses primeiros 100 dias, como montar o governo em sete dias, e a maior preocupação agora é votar a PEC do ajuste fiscal. Falou também das concessões que teve que fazer aos aliados para manter a governabilidade.
— Nesse período, o mais difícil foram as concessões. Mas os reajustes de salários foram negociados e deixados em documento no governo Dilma, não foi uma coisa só verbal. Se eu descumprisse, eu não estaria aqui hoje, as corporações parariam o país — justificou Temer.
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