sexta-feira, 19 de agosto de 2016

PSDB quer conter projeto político de Meirelles

PSDB quer limitar Meirelles

• Partido exige ministro da Fazenda fora da política para evitar concorrência em 2018

Maria Lima - O Globo

-BRASÍLIA- Em uma longa conversa, de quase quatro horas, com o presidente interino, Michel Temer, e o núcleo do governo, dirigentes tucanos pressionaram para evitar que o projeto do PSDB para 2018 não seja atropelado por uma agenda eleitoral comandada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Os dirigentes do PSDB manifestaram apoio a Meirelles, mas avisaram: que ele cuide da economia e deixe a política para o núcleo político, para não misturar a disputa presidencial de 2018 com a aprovação do pacote de ajuste fiscal. O nome de Meirelles já foi cogitado como potencial candidato à Presidência daqui a dois anos, pelo PSD, partido ao qual é filiado, o que poderia reduzir o apoio do mercado aos tucanos.

Ao fim do encontro, que começou com um jantar e foi até o início da madrugada de ontem, no Palácio do Jaburu, Temer teria atendido todos os pleitos dos tucanos, que deixaram a reunião satisfeitos.


Nas últimas semanas, o clima entre tucanos e governo azedou por conta de concessões vistas pelo PSDB como eleitoreiras por parte de Meirelles, especialmente nas negociações dele para atenuar as regras que limitam gastos dos estados com o funcionalismo. O desconforto foi manifestado pelo presidente do partido, Aécio Neves (MG), que pediu a Temer que retomasse o comando de seu “time”. Na conversa de ontem no Jaburu, coube ao senador Tasso Jereissatti (PSDB-CE) enquadrar Temer sobre Meirelles.

— O ministro Meirelles tem todo nosso apoio e simpatia. Mas deixa o Meirelles cuidando da economia e deixa o núcleo político cuidando da política, sem deixar 2108 contaminar o ajuste que tem que ser feito — cobrou Tasso.

Aloysio integrará núcleo político
Além do enquadramento de Meirelles, os tucanos também acertaram que o líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), irá participar do núcleo político que definirá o perfil econômico e social do governo nos próximos dois anos.

— Sobre o ministro Meirelles, o fundamental é a palavra do presidente Temer. Vai haver um realinhamento e uma convergência clara do PSDB com o governo — afirmou Aécio.
E, pela fala de Aécio, Temer conseguiu dissipar as dúvidas em relação à implementação da agenda de reformas do Estado, da Previdência e política. Ele disse que foi a conversa mais produtiva que tiveram com Temer e o núcleo do governo até agora.

— Iniciamos uma nova fase no nosso relacionamento. Todo o nosso esforço é para fazer valer a pena a participação do PSDB no governo, com todos os riscos do mundo que corremos. Nós estamos juntos em apoio ao governo. Não há tempo a perder.

Compreendemos que a interinidade traz limitações. Mas o presidente Temer disse que dia 30 começa para valer o seu governo e para isso não pode haver ambiguidades — disse o presidente do PSDB.

Segundo Aécio, foi uma conversa “republicana” sobre uma agenda que iniba os gastos públicos e o encaminhamento de reformas, até o fim do ano, para sair do abismo “que o PT” jogou o país. Sobre o rito de julgamento do impeachment, Aécio disse que Temer está confiante que já no dia 30 de agosto Dilma não seja mais presidente.

Para atender às reclamações de maior participação do PSDB no núcleo de decisões, ficou acertado que Aloysio Nunes Ferreira vai ser chamado a participar de núcleos de trabalho criados para formulação de políticas e reformas. O ministro Moreira Franco sugeriu, e foi acatado, que Temer se reúna com grupos de 50 a 60 deputados, mostrando o que poderá acontecer ao país se determinadas medidas amargas não forem aprovadas.

Os tucanos cobraram pulso firme de Temer para implementar as reformas e as medidas de ajuste, sem concessões vistas como populistas.

— O Brasil está numa bifurcação. Tem o caminho mais fácil, da gastança e das concessões às corporações que nos levará ao abismo, ou o caminho mais tortuoso e mais difícil, das reformas estruturantes para coibir o aumento do endividamento, que nos levará à saída do abismo — disse, na conversa, o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB).

— Ou se faz esse ajuste para conter o endividamento agora, ou em 2025 100% do orçamento da União será para pagar dívida, previdência e folha de pagamento. Estamos à beira do precipício, vamos em frente com essa agenda do PSDB — concordou o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.

Além de Aécio, Cássio Cunha Lima, Aloysio Nunes Ferreira e Tasso Jereissatti, também participaram do jantar no Jaburu o líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA), e o senador Ricardo Ferraço (ES). Na saída, Aécio buscou assegurar que os desentendimentos ficaram para trás.

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