Por Ricardo Mendonça – Valor Econômico
MACEIÓ - A campanha eleitoral em Maceió, disputada com chances de vitória pelo atual prefeito, Rui Palmeira (PSDB), e por Cícero Almeida (PMDB), segue uma tradição alagoana - a troca de alianças eleição após eleição. Em 2004, quando Cícero foi eleito prefeito, o grupo liderado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), hoje acusado de lhe favorecer, era seu rival. Em 2006, os tucanos, que hoje acusam os Calheiros, recebiam apoio da família do senador na campanha de Téo Vilela ao governo. Palmeira lidera as pesquisas de intenção de voto, com 35%. Cícero tem 28% e é candidato numa coligação de 12 siglas, do PRB, da Igreja Universal, ao PC do B.
PSDB e PMDB disputam em Maceió
"O futebol alagoano vive um grande momento. CRB a caminho da série A. O CSA, neste domingo, se Deus quiser, subindo para a série C. E eu tive a felicidade de montar grandes parcerias, durante oito anos, com os dois clubes. Quero me colocar à disposição. Na condição de prefeito de Maceió, vamos continuar vibrando, torcendo, representando bem o nosso Estado lá fora. Com CRB e CSA. Vamos que vamos. E contem comigo."
A mensagem acima, veiculada como propaganda política, aparece nos canais de divulgação do ex-prefeito de Maceió e deputado federal Cícero Almeida, 58 anos. Pelo PMDB, seu sexto partido, ele é candidato a comandar novamente a capital de Alagoas numa coligação de 12 siglas, do PRB, da Igreja Universal, ao PC do B.
Expressivo, sorridente e com uma disposição que impressiona seus interlocutores, Ciço, como gosta de ser chamado, costuma mesclar promessas com três assuntos de apelo popular: futebol, Deus e forró. Usa um grande anel prateado com o nome "Jesus" vazado e exalta que, antes de ser político, foi encanador, pedreiro, taxista e motorista das Organizações Arnon de Mello, o grupo da família do senador e ex-presidente da República Fernando Collor de Mello (PTC-AL). Com ensino médio, diz que aprendeu na "escola da vida".
Exalta também que é radialista há mais de três décadas. Ele começou em 1982 com o codinome Luneta, um alcagueta que recebia cartas de ouvintes e, com base nisso, "denunciava" bocas de fumo e brigas de casal em Maceió. Hoje, comanda o "Forrozão 96", transmitido diariamente numa FM. Ao vivo, o ex-prefeito interage e faz piadas com personagens criados pela produção: Zé Burrinho, um sujeito inteligente, mas que finge burrice e fala um inglês que ninguém entende, segundo sua própria definição, e Cicinha, "uma bichona bem louca", diz.
Cícero Almeida tem 28% das intenções de voto, segundo pesquisa Ibope realizada na semana passada para a TV Gazeta, a Globo local. É o principal concorrente do atual prefeito, Rui Palmeira (PSDB), que lidera com 35%.
Rui, 40 anos, é, em muitos sentidos, uma espécie de antítese de Cícero. Fala em tom moderado. Durante a entrevista, pede para seus assessores saírem da sala, pois a conversa paralela atrapalha seu raciocínio, justifica. Advogado especializado em direito tributário, fez pós-graduação no Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), instituição ligada ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Diferentemente de Cícero, a relação de Rui com a política vem de berço. Seu avô, usineiro, foi constituinte em 1946 pela UDN (partido-símbolo do conservadorismo da época) e senador. Perdeu duas disputas pelo governo de Alagoas. Já o pai, Guilherme Palmeira, militante da Arena (partido da ditadura), foi nomeado governador em 1978 com apoio do general e ex-presidente Ernesto Geisel. No cargo, lançou Collor na política, nomeando-o prefeito de Maceió. Com o fim do regime militar, migrou para o PFL (atual DEM) e acabou indicado para ser vice de Fernando Henrique Cardoso na vitoriosa chapa presidencial de 1994. Após denúncia de que teria favorecido uma empresa com emendas ao Orçamento, acabou substituído por Marco Maciel.
Rui Palmeira tem ainda outros dois parentes famosos na política: os ex-deputados Thomaz Nonô (DEM), primo de seu pai que exerceu seis mandatos, e Vladimir Palmeira, tio, um dos fundadores do PT que, alegando desilusão, deixou a sigla em 2011.
Na terceira via da disputa, quem corre é o jovem deputado federal João Henrique Caldas (PSB), 29 anos, que adotou como nome eleitoral a sigla JHC. Filho do ex-deputado João Caldas, condenado no escândalo das Sanguessugas (compra superfaturada de ambulâncias, 2006), JHC colocou como vice um médico militante do Movimento Brasil Livre (MBL). Ele aposta no estilo inovador. Seu mote é "trazer a administração do analógico para o digital", diz. "Vou levantar a bandeira da minha geração, a geração Y". Atualmente, JHC cursa pós em direito digital. Demonstra empolgação quando fala sobre novas tecnologias e guerras cibernéticas. Na parede atrás de sua mesa de trabalho, na sede do PSB, ostenta uma foto sua tirada em 2015 no Vale do Silício (EUA) ao lado do fundador do Facebook, Mark Zuckerberg. JHC tem 18%.
Com 1 milhão de habitantes, Maceió é a 13ª maior das 26 capitais do Brasil, e a 5ª do Nordeste. Da receita anual de R$ 1,6 bilhão (17ª do país e 7ª do Nordeste), 65% são provenientes de transferências da União. Esses dados a colocam na antepenúltima posição no ranking de receita per capita das capitais, com R$ 1.683 por habitante - em Vitória, a primeira, a média é de R$ 4.573.
Maceió, como várias cidades de seu porte, tem limitações evidentes em saúde, educação e transporte. Mas é especialmente precária em saneamento. Segundo o IBGE, só 31% das residências têm sistema adequado de esgoto. Com população parecida, São Luís (MA) tem 47%. Com receita semelhante, João Pessoa (PB) tem 57%. Recentemente a prefeitura fez um levantamento mais detalhado e descobriu que a cobertura é ainda menor, 25%. Apesar de instalado, o sistema simplesmente não funciona em algumas localidades.
Em escala, as maiores carências estão em Benedito Bentes, enorme distrito periférico com vários conjuntos habitacionais, e no bairro Jacintinho, também muito populoso. Em degradação, a pior situação é a da favela às margens da lagoa Mundaú, uma ocupação irregular com milhares de famílias vivendo em barracos de madeira em meio ao lixo e à deterioração ambiental.
Mas o tema aparece pouco nas campanhas. Na semana passada, a notícia mais comentada, além do Ibope, era a tentativa de Palmeira de tirar Cícero da disputa pela via judicial. A coligação que representa o tucano entrou com uma ação na Justiça Eleitoral acusando o rival de abuso do poder econômico. Reclama da participação de servidores do Estado na convenção do adversário em horário de expediente e do uso de imagens do governo estadual na propaganda eleitoral.
O governador Renan Filho (PMDB), filho do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), nega a acusação.
A história também ilustra uma tradição da política alagoana: o troca-troca de alianças eleição após eleição. Em 2004, quando Cícero foi eleito prefeito pela primeira vez, os Calheiros, hoje acusados de lhe favorecer, eram seus rivais. Em 2006, os tucanos, que hoje acusam os Calheiros, recebiam apoio da família do senador na vitoriosa campanha de Téo Vilela ao governo.
A ideia de tirar o rival da disputa a poucos dias da eleição tem precedente em Maceió. Em 2012, o próprio Palmeira foi beneficiado quando a Justiça Eleitoral, no final da campanha, tirou Ronaldo Lessa (PDT) do pleito. Os concorrentes afirmam que Palmeira quer ganhar novamente por WO.
Outro tema forte da disputa são os processos que pesam contra Cícero. Num deles, é acusado de ter favorecido uma empresa de coleta de lixo ao contratá-la sem licitação quando prefeito. Cícero afirma que fez isso em regime de urgência, pois a companhia que antes cuidava do serviço não tinha mais condições de continuar. Diz ainda que seu sucessor e hoje rival manteve o contrato que ele costurou.
Os demais candidatos a prefeito de Maceió não demonstram ter chance de vencer. Com alta rejeição, o deputado federal Paulão paga o preço pela crise de seu partido, o PT. Marca apenas 2%. Já o nome apoiado por Collor, Paulo Memória (PTC), tem 1%. Mesmo no meio político local, muitos afirmam que nunca haviam ouvido falar desse personagem.
O Ibope ouviu 602 pessoas entre os dias 10 e 13 de setembro. A margem de erro da pesquisa é de três pontos, com nível de confiança de 95%. Na Justiça Eleitoral, está registrada com o código AL 07132/2016.
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