Por Fernando Taquari - Valor Econômico
SÃO PAULO - O desgaste sofrido nos últimos anos pelo PT, com a Operação Lava-Jato e o naufrágio do governo Dilma Rousseff, afetou boa parte das candidaturas petistas pelo país nas próximas eleições e não poupou nem mesmo as cidades ao redor da capital paulista tradicionalmente governadas pelo partido. Apoios e doações minguaram no chamado "cinturão vermelho", formado por municípios como Osasco, Guarulhos, São Bernardo do Campo, Diadema e Santo André.
Em São Bernardo, berço do PT e comandada pelo partido, o candidato petista, Tarcísio Secoli, aparece em terceiro lugar na última pesquisa de intenção de voto, de setembro, atrás de Orlando Morando (PSDB) e Alex Manente (PPS), ambos com arrecadação de doações praticamente duas vezes maior que a do petista.
O 'cinturão vermelho' no último furo
Candidato do PT à Prefeitura de Osasco, na região metropolitana de São Paulo, Valmir Prascidelli enfrenta um cenário bem diferente da última eleição municipal, quando foi eleito vice-prefeito da cidade na chapa encabeçada por Jorge Lapas, então correligionário, em uma coligação com outros 19 partidos. Em 2016, o petista conta com o apoio apenas da própria sigla, enquanto o atual prefeito, que trocou o PT pelo PDT, disputa a reeleição com 17 legendas aliadas.
O isolamento do PT em Osasco não é exclusividade do município, que até a desfiliação de Lapas, em março de 2016, era administrado pelo partido desde 2005, quando Emídio de Souza saiu-se vitorioso. O avanço do desemprego nas cidades que formam o cordão industrial de São Paulo e o desgaste do PT e do governo Dilma Rousseff em nível nacional afetou boa parte das candidaturas petistas pelo país e não poupou nesta eleição nem as cidades da região metropolitana de São Paulo, boa parte governada por prefeitos da sigla. Assim, apoios e doações minguaram até no chamado cinturão vermelho, onde candidatos da base aliada do governador Geraldo Alckmin (PSDB) lideram as pesquisas.
Prascidelli responsabiliza o "uso abusivo" da máquina pelo atual prefeito para justificar a falta de aliados. "No Brasil, as coligações são feitas mais de forma pragmática do que programática. O que acontece em Osasco é reflexo desse processo. Quem tem a máquina tem mais condição para negociar. Além disso, quando houve a definição de nossa candidatura já havia uma configuração das coligações", afirma.
Isolado, Prascidelli também tem tido dificuldade para arrecadar recursos de campanha. Até a semana passada, o petista acumulava uma receita de R$ 54 mil, valor bem modesto se comparado aos principais adversários. Lapas declarou R$ 737 mil no mesmo período. Já o ex-prefeito Celso Giglio (PSDB) arrecadou R$ 179 mil. A exemplo de 2012, o tucano teve a candidatura impugnada pela Justiça Eleitoral porque suas contas na prefeitura em 2004 foram rejeitadas pela Câmara, o que o enquadra na Lei da Ficha Limpa. Ele promete recorrer.
Não há desde o início da campanha uma pesquisa para aferir as chances dos candidatos em Osasco, cidade com 696 mil eleitores. Nos levantamentos anteriores a agosto, Giglio aparecia na frente, seguido por Lapas. Prascidelli, que renunciou à vice-prefeitura para assumir o mandato de deputado federal em 2015, não acredita que a crise do PT possa prejudicá-lo. "Acho que numa eleição municipal, o eleitor escolhe o prefeito por aquilo que ele pode fazer para melhorar sua rua, bairro e cidade. Não há uma escolha do partido para depois escolher o candidato", diz.
Em Guarulhos, com 1,3 milhão de eleitores, onde o PT administra a cidade desde 2001, a situação não é muito diferente. Velho conhecido do eleitor local, o ex-prefeito Elói Pietá (2001-2008) tem o apoio somente do PR para manter a hegemonia petista. Sua coligação é mínima perto da aliança de 14 partidos que se uniu em torno da reeleição do então prefeito Sebastião Almeida (PT) em 2012. Embora em condição melhor do que Prascidelli, Pietá também recebeu menos doações (R$ 624 mil) do que os concorrentes diretos.
Segundo colocado na eleição passada, Carlos Roberto (PSDB) arrecadou R$ 778 mil. Já o deputado estadual Eli Corrêa Filho (DEM) totaliza uma receita de R$ 842 mil. O parlamentar despontava na frente, tecnicamente empatado com Pietá, em um levantamento do Ibope do fim de junho. A amostra, no entanto, revelou que o petista tinha disparada a maior rejeição (50%) entre os candidatos a prefeito de Guarulhos, o que reduz as chances de vitória no município em um eventual segundo turno.
As pesquisas tampouco são animadoras em outros bastiões petistas. No domicílio eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, São Bernardo do Campo, com 822 mil eleitores, o prefeito Luiz Marinho escolheu o ex-secretário de Serviços Urbanos e Coordenação Governamental, Tarcísio Secoli, para encabeçar a coligação governista. Ele aparecia em um distante terceiro lugar em um levantamento feito pelo instituto de pesquisas do jornal "Diário do Grande ABC" (DGABC) no começo de setembro. Bem à frente, estão o deputado federal Alex Manente (PPS), primeiro colocado, e o deputado estadual Orlando Morando (PSDB), em segundo.
Os dois candidatos de oposição na cidade também somam mais recursos de campanha em relação ao petista e ao que tudo indica devem fazer o segundo turno. Manente tem até aqui R$ 620 mil arrecadados, Morando R$ 719 mil e Secoli R$ 372 mil. O ex-secretário reuniu 11 partidos em sua coligação, cinco a menos do que Marinho em 2012.
Conhecida por ser a primeira cidade administrada pelo PT, a partir de 1983, Diadema, com 515 mil eleitores, pode trazer uma nova marca ao partido, só que desta vez negativa. Uma eventual derrota do candidato Maninho representará o maior jejum do petismo no município. Desde que Gilson Menezes - hoje no PDT - venceu a eleição em 1982, os petistas nunca ficaram mais de quatro anos longe do poder. Sem alianças, Maninho encara um quadro mais adverso do que enfrentou o então prefeito Miguel Reali (PT) na eleição de 2012.
Com 14 partidos na sua coligação, Reali perdeu a reeleição para o atual prefeito, Lauro Michels (PV), que lidera no ranking de arrecadação (R$ 285 mil) e na pesquisa realizada pelo "DGABC". Nos dois casos, o segundo colocado é o candidato do PRB, o vereador Vaguinho do Conselho, que recebeu R$ 196 mil em doações, montante bem superior aos R$ 15 mil de Maninho.
À exceção das demais cidades do cinturão vermelho, em Santo André, 712 mil eleitores, o prefeito Carlos Grana (PT) conseguiu ampliar de seis para 10 o número de partidos aliados. Além disso, totaliza mais recursos no caixa (R$ 423 mil) do que a soma dos seus principais adversários, o ex-prefeito Aidan Ravin (PSB) e o ex-vereador Paulo Serra (PSDB), que arrecadaram R$ 61 mil e R$ 64 mil, respectivamente. "Nós ampliamos serviços, temos projetos reconhecidos nacionalmente, restabelecemos o diálogo com a população. A cidade está em obras. É um movimento natural conseguir mais alianças para se juntar ao nosso projeto de cidade", afirma Grana.
O prefeito colhe os frutos, na comparação com os outros municípios, da menor variação entre vagas abertas e fechadas ao longo de 2015. Apesar disso, Grana está em segundo lugar na amostra do "DGABC", tecnicamente empatado com Serra, e atrás de Ravin. Contra a sua candidatura ainda pesa a maior rejeição (32%) entre os postulantes. "É natural que o candidato à reeleição esteja em evidência e seja mais cobrado", diz o petista, que descarta a hipótese do desgaste da política em nível federal interferir municipalmente. "As pessoas querem discutir a rua, a creche, a escolha municipal, a iluminação. São as realizações e propostas nestas áreas que serão avaliadas na hora de escolher o voto".
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