segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Candidatos sem viés ideológico lideram disputa em grandes colégios

• Favoritos conseguem fazer sobressair nas campanhas a imagem do não político

Isabel Braga e Evandro Éboli - O Globo

-BRASÍLIA- As eleições municipais deste ano em três dos maiores colégios eleitorais do país têm uma característica em comum: estão na cabeça da disputa, segundo as pesquisas de opinião, candidatos que não têm viés ideológico de esquerda ou de direita, que estão fora do sistema político tradicional ou, apesar da vinculação partidária, que conseguem fazer sobressair nas campanhas a imagem do não político.

Alguns têm recall eleitoral, como é o caso dos dois candidatos do PRB — Celso Russomano, em São Paulo, e Marcelo Crivella, no Rio — que lideram em suas cidades. Em Belo Horizonte, o tucano João Leite, que igualmente está em primeiro nas pesquisas, também surfa na onda da popularidade como ex-goleiro da seleção brasileira, mas construiu uma trajetória política em Minas e é reconhecido por ela.

Outros se sobressaem pela popularidade em campo diferente, verdadeiros outsiders da política, como o tucano João Dória, em São Paulo, e Alexandre Kalil (PHS), em Belo Horizonte. Dória é empresário e apresentador de TV, e Kalil foi presidente do Atlético Mineiro na época em que o time se sagrou campeão da Taça Libertadores. Escolhido pelo grupo do governador Geraldo Alckmin, Dória vende a imagem de empreendedor, mas não tem adotado o discurso forte contra os políticos como faz Kalil. O candidato mineiro se aproveita do desgaste do sistema político tradicional para se destacar.

Russomano e Crivella já estão há tempos na política e ainda hoje ocupam postos no Congresso — o primeiro é deputado e o segundo, senador. As imagens de defensor do consumidor e apresentador de programa de Russomano e de ex-bispo da Igreja Universal com atividades filantrópicas de Crivella prevalecem sobre as de homens de partido.

Se conseguirão manter a popularidade em eventual segundo turno é uma incógnita. No passado, largaram na frente, mas perderam força e morreram na praia. Desta vez, em campanhas de menor tempo — são apenas 35 dias na TV e no rádio, meios que mais influenciam o eleitor em seu voto —, estão isolados à frente na disputa segundo as pesquisas.

Carisma embala candidatos
Líder do PRB, o deputado Márcio Marinho (BA) admite que é o carisma, e não o partido, o responsável pelo bom desempenho dos dois candidatos do partido em São Paulo e no Rio. Para o líder, os eleitores estão cansados da polarização esquerda e direita. No caso de Crivella, diz ele, é uma liderança que se solidifica a cada eleição, com a força do trabalho filantrópico e das ligações com a Igreja Universal.

— Somos uma partido de centro. O que vale é mais o candidato, quem é gestor. Se sabe administrar, independente do partido — disse Marinho.

Para o líder do PRB, Russomano enfrenta a máquina dos governos estadual, municipal e até federal:

— Russomano é um líder que defende o povo a partir da defesa do consumidor. O Crivella, acredito, já ultrapassou a barreira e irá ao segundo turno. Também acredito no Russomano, mas na política existe o golpe baixo. Ele não tem máquina para trabalhar por ele, como os outros três candidatos. E nosso tempo de TV é pequeno.

Favorito até o momento para terminar o primeiro turno na liderança da corrida pela prefeitura de Belo Horizonte, o ídolo do Atlético e deputado estadual João Leite (PSDB) nunca esteve tão perto de conquistar esse feito. Seis vezes deputado estadual, o tucano se arriscou duas vezes a concorrer à prefeitura, mas não logrou êxito. Perdeu para dois candidatos — Célio de Castro (PSB) e Fernando Pimentel (PT) — do chamado campo da esquerda.

Esse espectro político que o derrotou agora, porém, está fragilizado. O PT tem um candidato — o deputado federal Reginaldo Lopes — que patina nas pesquisas e está próximo do traço.

— Perdi das outras duas vezes também porque os candidatos estavam no poder. É difícil lutar contra a máquina — justificou João Leite ao GLOBO.

Um dos tucanos mais atuantes na reforma política, o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), correligionário de João Leite, acredita que a crise político-econômica é a grande responsável pela situação nessas capitais:

— Há a mistura explosiva da inflação, do desemprego, com corrupção generalizada, crise de confiança, crise política. Tudo isso leva o cidadão a ficar desconfiado e decepcionado com o que o sistema político produziu. E uma parcela da população tende a buscar algo fora do padrão convencional, os outsiders, seja no meio artístico, no empresarial, no jurídico — afirma o tucano.

Para Pestana, no entanto, o segundo turno poderá trazer resultados surpreendentes, uma vez que os eleitores passariam a avaliar bem os candidatos com maior condição de governar.

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