Um dia após o ministro Geddel Vieira Lima defender que políticos não sejam punidos por caixa dois feito no passado, caso a prática vire crime, o presidente Michel Temer afirmou que essa é a “opinião personalíssima” de seu assessor, que lhe surpreendeu.
• Presidente afirma que posição de ministro, que defendeu não punição à prática, é ‘ personalíssima’
Henrique Gomes Batista*, Isabel Braga Letícia Fernandes - O Globo
-NOVA YORK E BRASÍLIA- O presidente Michel Temer afirmou ontem, em Nova York, que tomou conhecimento, “lendo os jornais”, das opiniões do ministro-chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, que, em entrevista ao GLOBO, defendeu que políticos que fizeram caixa 2 não sejam punidos caso a prática passe a ser tipificada como crime no Código Penal. Temer disse que a declaração é a “opinião personalíssima” do ministro, e não um posicionamento do Planalto.
— Li as declarações do ministro Geddel e isso é uma opinião personalíssima dele e não do governo. Eu pessoalmente acho que isso é matéria do Congresso Nacional, mas eu não vejo razão para prosseguir ou prosperar esta matéria.
Questionado como seria a orientação do seu governo para a questão, ele afirmou que ainda vai decidir:
— Isso foi surpreendente para mim. Quando eu chegar ao Brasil, vou examinar esta questão. Não tem orientação nenhuma, não daria uma orientação daqui. Pessoalmente, eu acho que não é bom, mas quero esclarecer isso, se não parece interferência minha no Poder Legislativo. Registrem bem que vou examinar essa questão lá no Brasil, mas não vou interferir no Legislativo.
Ao GLOBO, Geddel, que é responsável pela articulação política do governo Temer, disse na última terça-feira que se o projeto enviado pelo Ministério Público à Câmara pede a criminalização do caixa 2, isso pressupõe que a prática não é crime. “Quem foi beneficiado no passado, quando não era crime, não pode ser penalizado”, defendeu o ministro.
Relator das dez medidas de combate à corrupção propostas pelo MP, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) reagiu às declarações de Geddel:
— Não temos mais espaço para tratar o caixa 2 como crime menor. Isso acabou lá atrás, com o Márcio Thomaz Bastos e o Lula em 2006, no escândalo do mensalão. A sociedade brasileira quer que o caixa 2 seja criminalizado e a comissão aprovará isso. O ministro terá que rever seus conceitos.
Anistia é rechaçada
O relator destaca que a criminalização do caixa 2 chegou ao Congresso entre as medidas de combate à corrupção, em forma de projeto de lei de iniciativa popular, com o apoio de mais de 2,5 milhões de brasileiros. Segundo Onyx, a criminalização do caixa 2 será analisada cuidadosamente, mas com firmeza. A intenção é aprovar o relatório no fim de outubro.
O relator afirmou que não há qualquer chance de incluir no relatório a emenda que garante anistia para crimes de caixa 2 cometidos até a sanção da lei. A emenda circulou entre líderes de vários partidos — da base do governo e da oposição — que queriam aprová-la na última segunda-feira.
— Isso está enterradinho. Com sal grosso em cima — afirmou Onyx.
O presidente da comissão especial da Câmara, Joaquim Passarinho (PSD-PA), não polemizou com Geddel, mas ressaltou que caixa 2 sempre foi crime, apenas não está tipificado.
— O Brasil clama por isso. Muita gente fala contra, quero ver na hora de votar dizer que não é crime. Quem vai topar fazer isso — desafiou.
Passarinho também descarta a volta da emenda da anistia para quem cometeu caixa 2 nos debates da comissão.
— Eu acho que esse defunto está enterrado, a partir dessa maldita tentativa.
Temer foi questionado em entrevista sobre sua baixa popularidade, e disse não se importar com isso:
— Se a minha popularidade cair para 5% mas eu salvar o Brasil nesses dois anos e quatro meses, e colocar o país nos trilhos, eu me dou por satisfeito.
(*) Enviado Especial
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