• Após virar réu pela 2ª vez na Lava-Jato, ex-presidente ataca procuradores e afirma que há tentativa de ‘destruir PT’
- O Globo
-FORTALEZA- Um dia depois de ser transformado em réu pelo juiz Sérgio Moro, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro pelo caso do tríplex no Guarujá, o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou ontem um périplo pelo interior do Nordeste para fazer campanha por candidatos do PT nas eleições municipais. Em Barbalha, no Ceará, ele se disse “ofendido e magoado” por ter tido a vida “futucada por uns meninos do Ministério Público Federal”. Lula disse achar que é uma tentativa de “destruir o PT” e impedir que ele possa ser candidato a presidente em 2018.
— Depois de dois anos de futuca, futuca e futuca, não encontrando provas, não encontrando nenhuma prova, porque eles têm de saber que eu não tenho o estudo que eles têm, mas eu tenho a vergonha na cara que muita gente não tem — disse Lula, em palanque, ao lado do candidato a prefeito Fernando Santana, do PT. — E se tem uma coisa que eu me orgulho é de olhar na cara de uma mulher, olhar na cara de um homem e de uma criança e dizer que no dia que acharem um real na minha vida que não seja meu, eu não valho mais ter a confiança de vocês.
Transmissão pela internet
Ao lado do governador do Ceará, Camilo Santana (PT), e da mulher dele, Onélia, Lula continuou:
— Ao futucarem a minha vida durante dois anos, eles já disseram que eu tenho um apartamento que não é meu, já disseram que eu tenho uma chácara que não é minha. Quero dizer para vocês que eu estou com a minha consciência tranquila.
Em Crato, também no Ceará, Lula fez outro discurso transmitido pela internet pelo Instituto Lula e repetiu que, se encontrarem um centavo roubado por ele, pedirá desculpas publicamente.
— Mas, se não encontrarem, quero que tenham a mesma dignidade e peçam desculpas por desonrar um homem que teve a ousadia de tirar o povo do século XVIII — disse, falando de si mesmo em tom de discurso político.
O PT está preparando uma campanha nacional e internacional para reforçar a defesa de Lula usando este argumento: o processo que será julgado pelo juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava-Jato na primeira instância, faz parte de um golpe continuado, que começou com o impeachment da presidente Dilma Rousseff e continua com a tentativa de afastar Lula da política e inviabilizá-lo para 2018.
O PT também está preocupado com o tamanho do estrago que as denúncias da Lava-Jato podem fazer nas candidaturas do partido em todo o país, e por isso Lula fará uma série de comícios e atos de campanha no Nordeste para tentar ajudar os candidatos aliados. Hoje, ele estará em Pernambuco.
— Cada eleição é hora de inventar uma história. Eles agora querem acabar com o PT. Eles precisam destruir o PT — disse Lula no palanque de Barbalha. — Além de afastar Dilma, eles sabiam que tinham que cuidar do Lula: “Se esse Lula se mete a ser candidato de novo, vai ser ruim pra nós”.
O ex-presidente voltou a fazer críticas à imprensa:
— Desde 2005 que esse partido apanha, apanha, apanha, de uma imprensa nojenta, mentirosa. A História vai julgar cada um de nós. A História não acontece no mesmo dia.
Em Brasília, em sua estratégia de tentar defender Lula, o PT estuda até apresentar uma reclamação ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) contra os procuradores da força-tarefa da Lava-Jato responsáveis pela denúncia contra o ex-presidente por corrupção e lavagem. Vão alegar que Lula está sendo vítima de perseguição por motivos políticos.
Oito viraram réus
Os procuradores denunciaram Lula, a mulher dele, Marisa Letícia, e mais seis pessoas, incluindo o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, e ex-executivos da construtora OAS, por suspeitas de envolvimento no pagamento de vantagens indevidas ao ex-presidente por meio da reforma do tríplex no Guarujá e de um contrato para armazenar presentes recebidos por Lula durante seus dois mandatos.
Para Sérgio Moro, há “razoáveis indícios” de que Lula obteve vantagens ilícitas da OAS, e que a empreiteira pode ter se mantido como proprietária formal do tríplex para ocultar a “real titularidade” do imóvel. Lula já era réu num inquérito que corre na Justiça Federal de Brasília sob acusação de atrapalhar as investigações da Lava-Jato no episódio que provocou a prisão do ex-senador Delcídio Amaral.
Em Barbalha, Lula tentou adotar um discurso emocional para defender sua inocência:
— E eu olho na cara de cada um e digo: se acharem um real na minha vida, que não for meu, eu não serei mais nada nessa vida. Talvez o meu crime tenha sido criar o Bolsa Família, ou de ter colocado o filho do pobre no banco da universidade — disse ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário