- O Globo
• Mercado de trabalho mostra progressiva deterioração e aumento da informalidade, mas ‘desalento’ volta a evitar avanço da desocupação
A taxa de desemprego manteve-se em 11,8% da força de trabalho, no trimestre encerrado em setembro, conforme anunciou ontem o IBGE. Repetiu o índice do trimestre encerrado em agosto, segundo os dados da Pnad Contínua, pesquisa que traça o retrato do mercado de trabalho, mas mostrou que a deterioração das condições do emprego se aprofundou e o fechamento de vagas ainda está longe do seu fundo do poço específico.
Como tantos outros indicadores da atividade econômica, a taxa de desemprego não é exatamente o que parece. Não mede o total de pessoas que, podendo trabalhar, não estão trabalhando. Computa apenas aquelas que estão procurando trabalho e não conseguem. Estranho à primeira vista — o cidadão, bem ou mal, não está trabalhando —, o critério é internacional e não considera os “desalentados” — aqueles que avaliam não haver, no momento, chances de conseguir trabalho ou que consideram não valer a pena ir atrás de um serviço —, que não procuram emprego, como desempregados.
No terceiro trimestre do ano, por exemplo, o fechamento geral de postos de trabalho, considerados tanto o mercado formal quanto o informal, registrou recorde histórico, com um recuo de 2,4% sobre o mesmo período do ano passado, no conjunto da população ocupada. A taxa de desemprego, porém, permaneceu estável sobre o trimestre anterior simplesmente porque aumentou o “desalento” e, com isso, a força de trabalho efetiva avançou em ritmo mais lento.
É essa mesma “mágica” que, em direção invertida, está na base das projeções de elevação da taxa de desemprego até pelo menos meados de 2017, em aparente contradição com a provável tendência de melhora no nível de atividade da economia, ainda que mais moderada e devagar do que se chegou a prever. O desemprego, que hoje afeta 12 milhões de trabalhadores, tem tudo para atingir, segundo uma média de boas estimativas, pelo menos mais um milhão até que comece a refluir.
O que deve impulsionar a taxa de desemprego até as alturas de 13%, contudo, não será, como agora, principalmente a desocupação. Antes que o fechamento de vagas chegue ao ápice, costuma ocorrer um movimento de acomodação, com aumento da informalidade e a precarização de condições de trabalho. Esse movimento já estava em curso e se acentuou no último trimestre.
A expectativa é a de que o fechamento de vagas, sobretudo em segmentos do setor de serviços mais resistentes, ainda se estenda pelos próximos meses, elevando diretamente a taxa de desemprego. Mas a principal força motriz do aumento da desocupação viria da expansão mais rápida da população ativa. Traduzindo: a combinação do aumento da necessidade de obter renda com a captura de sinais, mesmo que fracos, de recuperação econômica, tende a estimular pessoas que se encontram fora da força de trabalho a voltar a procurar ocupação e, sem sucesso, engrossar as estatísticas de desemprego.
É assim mesmo que funciona. Nos primeiros tempos dos ciclos de retomada do crescimento ou de queda no rumo da recessão, a taxa de desemprego evoluiu numa direção invertida — demora a acompanhar tanto a alta quanto a baixa. Em 2014, por exemplo, quando a economia estagnou e o PIB variou apenas 0,1% sobre o ano anterior, a taxa média anual de desemprego, de 6,8%, ficou abaixo da taxa média de 7,1%, observada em 2013, quando o PIB avançou 3%. Também em 2015, apesar da forte queda na produção, com o PIB descendo às profundezas de 3,8% negativos, a taxa média de desemprego no ano resistiu a cair e mal ultrapassou 8,5%.
Essa resistência se explica, em primeiro lugar, pelos elevados custos de demitir empregados, no início das recessões, e de contratar mão de obra carente de treinamento, nas primeiras etapas das retomadas. Mas o “fenômeno” também é influenciado pelo ritmo mais lento de avanço da força de trabalho, quando jovens estudantes em idade de trabalhar, idosos e mulheres mais dedicadas às tarefas domésticas não são pressionados a procurar algum trabalho para compor a renda familiar, nas fases de alta do crescimento da economia. E, inversamente, de aceleração no aumento da força de trabalho, quando a situação econômica aperta.
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José Paulo Kupfer é jornalista
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