– Valor Econômico
Banco Central não tem "preconceito" contra formas de intervenção
O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, disse ontem ao Valor que "não tem qualquer preconceito em relação aos instrumentos de intervenção no mercado de câmbio". Tanto o Banco Central pode avaliar e entender que a situação recomenda que volte a comprar reservas cambiais, que retorne com os leilões de "swaps" tradicionais ou reversos ou, ainda, que compre dólar no mercado à vista. Uma quarta alternativa também não é descartada: simplesmente o BC pode entender que não deve fazer intervenções.
Diante de nova rodada de valorização do real frente ao dólar, decorrente da repatriação de capitais, o BC avisou que não vai rolar os US$ 3,5 bilhões de swaps que vencem no dia 1º de novembro. Se essa é uma medida suficiente para conter eventuais excessos de volatilidade da taxa de câmbio, Ilan não sabe. Se não for, ele ainda pode lançar mão dos demais instrumentos de intervenção. "A repatriação é um fato pontual com data para terminar [dia 31, segunda-feira]. Não sabemos de quanto é o fluxo de entrada, pois parte importante [do pagamento do Imposto de Renda e das multas] é feita em reais", comentou.
Nos dois últimos dias, por sinal, houve valorização do dólar decorrente de eventos externos. Justamente ontem, que foi o ultimo dia de fechamento de contratos de câmbio para a repatriação, o dólar encerrou o dia cotado a R$ 3,1546, com apreciação em relação à cotação do dia anterior, que foi de R$ 3,1424. Ainda assim, no mês de outubro, até agora, o real teve uma valorização de 3,08% frente ao dólar.
Para Ilan, porém, uma coisa é clara e vai reger a política do Banco Central agora e no futuro: "O câmbio é flutuante e a tendência [seja de apreciação ou de depreciação] será respeitada". A tendência da cotação da moeda deve ser estabelecida pelos fundamentos da economia e não por intervenções do BC no mercado.
Quando viu a janela para reduzir os estoques de swaps cambiais, o BC foi adiante. O estoque chegou a US$ 110 bilhões, caiu para a faixa de US$ 60 bilhões ainda na gestão anterior, de Alexandre Tombini, e hoje é de apenas US$ 28 bilhões. Esse é um patamar que, para o presidente do BC, deixou de ter importância em termos de risco e de impacto sistêmico na economia. "Hoje considero o estoque de swaps menos relevante", observou.
Quando a economia entrar em fase de recuperação e a situação de crise estiver superada, será o momento de discutir no governo sobre a política de acumulação de reservas cambiais, disse Ilan.
Nessa hora, "vamos discutir o montante de reservas cambiais" e esse é um debate que "não vai se restringir ao Banco Central", indicou, tendo que envolver também as autoridades que cuidam das metas fiscais.
Antes de considerar o custo fiscal dispendido no carregamento das reservas cambiais, porém, o presidente do BC avalia que se deve fazer a conta do benefício de ter reservas para depois ver o impacto fiscal, no nível da dívida bruta.
Não há clareza sobre qual será a tendência da taxa de câmbio no médio e longo prazos. Se a economia se normalizar, a inflação convergir para a metade 4,5% e as privatizações forem bem-sucedidas, o viés seria continuidade do processo de apreciação do real frente ao dólar. Essa tem sido a trajetória da moeda desde o pico da cotação do dólar no dia 21 de janeiro deste ano, quando chegou a R$ 4,16 e ontem. Nesse período, o real já se apreciou 31,9%, certamente com uma contribuição importante sobre a desinflação.
Ao mesmo tempo, porém, se tudo der certo, os juros domésticos vão cair, diminuindo o diferencial de taxas interna e externa que atraem capitais de fora para o país.
Há, também, questões externas que vão determinar os rumos do câmbio no Brasil. Tudo aponta para a normalização das condições monetárias nos Estados Unidos, com a elevação da taxa de juros ainda este ano. A redução do estoque de swaps cambiais foi uma providência de cautela para o país se preparar para enfrentar essa realidade que pode ou não gerar solavancos para as economias emergentes.
Outra fonte de preocupação é com a situação dos bancos europeus, fragilizados pela prática de taxas de juros negativas. Por diversas razões, portanto, a tendência da taxa de câmbio no Brasil não é óbvia, assim como o impacto de uma moeda mais ou menos valorizada também não é unilateral.
Ilan ressaltou que há vantagens e desvantagens em uma taxa de câmbio apreciada ou depreciada. "O câmbio sempre tem dois lados", ponderou ele. "Por exemplo, a questão do câmbio [desvalorizado] de um lado é muito importante para a exportação, importante para a competitividade de quem está substituindo as importações. Essa parte é relevante. Para crescimento e balanço de pagamentos, as duas partes são. Isso porque, por outro lado, o crescimento também é feito de investimentos, de importações de bens de capital. Se os bens intermediários ficam mais baratos, se os investimentos ficam mais baratos, porque você está importando mais barato bens de capital, isso também gera crescimento. Tem sempre os dois lados. Então o que a gente tem que fazer é deixar o câmbio flutuar."
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