• Ex-ministro diz que acusações do MPF são uma ‘deplorável injustiça’
Cleide Carvalho, Dimitrius Dantas e Katna Baran* - O Globo
SÃO PAULO E CURITIBA - O Ministério Público Federal denunciou ontem o ex-ministro Antonio Palocci e mais 14 pessoas por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do pagamento de US$ 10,2 milhões feito pela Odebrecht a João Santana, ex-marqueteiro do PT. A operação teria sido feita a pedido do ex-ministro, segundo a investigação. Foram 19 transferências para uma conta secreta do publicitário na Suíça, entre julho de 2011 e julho de 2012.
Palocci é acusado pela força-tarefa da Lava-Jato de gerenciar uma conta de propinas para o PT que recebeu R$ 128 milhões apenas com a Odebrecht. O “caixa geral” de propina do PT, dizem os procuradores, não recebeu apenas dinheiro do esquema de desvios na Petrobras, mas também de outras fontes. Outras denúncias serão apresentadas.
Em nota, a defesa de Palocci afirmou que a denúncia “veicula mais uma deplorável injustiça e se mostra inepta porque não tem o menor apoio nos fatos”. Os advogados disseram que Palocci não é, nunca foi e jamais será o Italiano referido no “apócrifo papelucho em que se apoia a irreal acusação".
“AMPLO ACESSO E ASCENDÊNCIA”
A Lava-Jato afirma que Palocci é o “Italiano” nas planilhas de propina da Odebrecht. O pagamento a Santana foi vinculado a um contrato do Estaleiro Enseada do Paraguaçu para a venda de seis sondas à Petrobras, via Sete Brasil. A Odebrecht é a dona do estaleiro.
Segundo os procuradores, Palocci exerceu “papel central” na gestão do PT, influenciando os governos Lula e Dilma. Na denúncia, o MPF afirma que o ex-ministro era uma das principais autoridades do partido na definição de plataformas políticas e de governo e era reconhecido tanto por autoridades quanto por empresários.
Na administração federal, teria “amplo acesso e ascendência” nas decisões dos dois presidentes, de ministros e de diretores de autarquias e de estatais. No empresariado, era visto como “grande interlocutor” com a cúpula do governo e personagem-chave na definição dos rumos político e econômico do país nas gestões de Lula e Dilma.
Em depoimento de delação, citado pelo MPF, o ex-senador Delcídio Amaral afirmou que Palocci apresentava as demandas de empresários aos ministros e passava a “acompanhar o andamento em reuniões posteriores”.
Os procuradores da Lava-Jato dizem que Palocci, como o principal interlocutor do ex-presidente Lula, ia com frequência a reuniões no Instituto Lula, onde era consultado pelo ex-presidente sobre os projetos do governo. “Antonio Palocci continuava a discutir os projetos de governo; em reuniões no Instituto Lula, era atualizado e consultado frequentemente pelo ex-presidente sobre os projetos de governo; tinha forte contato com os empresários; nesses contatos, trazia reivindicações dos empresários para o governo”, disse o MPF, na denúncia.
Procurado, o Instituto Lula não quis se manifestar.
O MPF pediu à Justiça que decrete bloqueio de até R$ 252,5 milhões dos envolvidos, equivalente a 0,9% do valor do contrato. Pediu ainda pagamento de dano mínimo à estatal de R$ 505 milhões.
A lista de denunciados pelo MPF inclui, além de Palocci, o empresário Marcelo Odebrecht; João Santana e a mulher dele, Mônica Moura; o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto; o ex-diretor da Petrobras Renato Duque; o ex-gerente da Petrobras e da Sete Brasil Eduardo Vaz Musa e João Ferraz, além de executivos da Odebrecht e operadores que teriam atuado na lavagem de dinheiro: Fernando Migliaccio, Hilberto Mascarenhas, Luiz Soares, Olivio Rodrigues Junior, Marcelo Rodrigues e Rogério Araújo. Musa e Ferraz são delatores da Lava-Jato e confirmaram a propina. (*Especial para O GLOBO)
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