- O Estado de S. Paulo
Independentemente de uma surpresa aqui e ali no segundo turno da eleição municipal, que será realizado amanhã, o resultado desse pleito atípico, que se ressentiu da falta da costumeira contribuição das empreiteiras, já é conhecido desde o primeiro turno.
Ao contrário do que reclamam alguns, o eleitor não pendeu para a direita. Até porque no contexto de mundo atual o conceito de direita e esquerda ficou bastante ultrapassado. O sociólogo José de Souza Martins, respeitado pensador político do País, por exemplo, diz que hoje o PT é de direita, porque se agarrou ao poder pelo poder, e que o PPS, que os petistas dizem ser de direita, é hoje o partido que se destaca na esquerda doutrinária.
Bem, então vamos lá. Não é que o eleitor pendeu para a direita. Usando as urnas como arma de seu protesto, ele reagiu imediatamente ao caos econômico e político em que o País foi jogado pelo governo de Dilma Rousseff e à identificação do PT com a corrupção. Uma parte do eleitorado procurou na eleição municipal aquele que julga ser o que pratica a maior responsabilidade fiscal, que é o PSDB, partido que mais ganhou prefeituras importantes.
Outra optou pelo PMDB, que está no poder e é muito enraizado no interior, em qualquer parte do País. Outra, considerável, preferiu não aparecer para votar, ou, se votou, apertou a tecla do branco ou do nulo. Acha que assim está dizendo aos políticos que os rejeita.
Houve ainda aumento de votos no PSB, provavelmente porque a legenda tem conseguido manter-se à margem dos escândalos recentes e frequentes, mesmo com as suspeitas já levantadas sobre a propriedade do avião que servia ao ex-governador Eduardo Campos, morto num acidente aéreo durante a campanha presidencial de 2014. Não é à toa que o governador Geraldo Alckmin, individualmente o maior vencedor das eleições municipais e hoje nome forte para disputar a Presidência da República em 2018, tem se aproximado tanto dos socialistas.
O PSOL, que se identifica com a classe média de pensamento moderno, também conquistou seu espaço, não importa mais se será vencedor ou perdedor em Belém e no Rio de Janeiro, onde disputa o segundo turno. O eleitor conservador também se posicionou de forma clara. No Rio, pode dar a vitória ao senador Marcelo Crivella, da Igreja Universal. Nesse caso, nota-se também que a crescente parcela da população que vem fazendo sua opção religiosa pela doutrina evangélica direcionou o voto para um candidato único.
Por fim, o PT. O partido sai moído da eleição. Perdeu São Paulo no primeiro turno, e para o maior adversário, os tucanos. Não conseguiu lançar candidato no Rio, segunda maior cidade, e Salvador, a terceira. Os que apoiou nas duas capitais, Jandira Feghali e Alice Portugal, ambas do PCdoB, tiveram desempenho pífio.
Por certo, estudiosos farão centenas de ensaios e teses sobre o que aconteceu com o PT. Cada uma vai procurar com certeza a explicação que o assunto merece.
De forma superficial, talvez seja possível recorrer ao próprio Lula para tentar entender um pouco as razões que levaram à queda do PT.
Logo que assumiu, e por dezenas de vezes, Lula costumava dizer que ele era o único presidente do Brasil que não poderia cometer nenhum erro. Porque um errozinho qualquer serviria para que dissessem que um metalúrgico não tinha condições de governar o País, o que impediria os trabalhadores de novamente conquistar a Presidência. Em alguns desses discursos, Lula dizia que dava graças a Deus por não ter vencido a eleição de 1989, quando disputou com Fernando Collor. “Teria feito muitas besteiras, porque era muito impetuoso”.
Pois Lula e o PT erraram muito.
As consequências apareceram no resultado da eleição. Uma ruína só.
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