• Ex-senador afirma a Sérgio Moro que corrupção na Petrobras era conhecida por toda a classe política
Tiago Dantas, Dimitrius Dantas, João Carlos Silva e Sérgio Roxo - O Globo
SÃO PAULO - O ex-senador Delcídio Amaral disse ontem, em depoimento à Justiça Federal, achar “surreal” o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmar que não sabia de um esquema de pagamento de propina montado nas diretorias da Petrobras para sustentar partidos políticos.
Ex-líder do governo Dilma e agora delator da Lava-Jato, Delcídio foi ouvido como testemunha de acusação no processo em que Lula é acusado de receber um tríplex em Guarujá, em São Paulo, da construtora OAS. O ex-presidente alega que nunca teve a posse desse apartamento.
— Queria só registrar. Ele vai dizer assim: “Eu não sei”. A classe política e a torcida do Flamengo inteira sabiam disso aí (corrupção na Petrobras). Toda a classe política sabia. É uma coisa até surreal esse tipo de afirmação — disse Delcídio.
Apesar disso, o ex-senador disse que nunca conversou diretamente com Lula sobre o esquema de pagamento de propinas na estatal e que não teria como apresentar provas de suas afirmações. O delator disse que, após o escândalo do mensalão, o governo buscou ampliar sua base no Congresso e aceitou a entrada de partidos como PP e PMDB entre seus aliados. Esses partidos passaram, então, a indicar nomes para cargos importantes.
Para o ex-senador, Lula escapou de ser responsabilizado do mensalão por causa desse acordo político:
— O presidente Lula, no mensalão, usou a tese do não sabia e só escapou por causa de um acordo político que votou o relatório da CPI. Mas agora é muito difícil que prevaleça a desculpa do “não sei".
Também ouvidos ontem, o ex-executivo da Setal Augusto Mendonça e o ex-presidente da Camargo Corrêa Dalton Avancini falaram sobre o esquema na Petrobras. Nenhum dos dois, no entanto, envolveu Lula em seus depoimentos.
DEFESA DISCUTE COM MORO
Os depoimentos de ontem foram marcados por discussões entre os advogados de Lula e o juiz Sérgio Moro. Os defensores reclamaram que as perguntas não tinham relação com a denúncia, e o juiz disse que os advogados tentavam tumultuar a audiência.
Delcídio foi questionado se, em troca das indicações, os diretores da Petrobras tinham que arrecadar propina para os partidos que os sustentavam. Ele confirmou:
— Sem dúvida nenhuma. Existia uma estratégia montada para bancar as estruturas partidárias. Isso é inegável.
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