- O Globo
A economia patina, e o governo bate cabeça. Houve uma piora recente das expectativas e dos indicadores, depois da ligeira melhora na economia após a definição do impeachment. Em um primeiro momento, o que foi dominante foi a sensação de alívio com o fim do longo impasse político e isso se refletiu nos índices de confiança. No segundo, entraram na análise as muitas dificuldades do governo Temer e a fraqueza da atividade econômica.
A economia parou de piorar por um tempo, mas o que parecia ser um período de estabilidade se transformou em um novo ciclo de queda. Os últimos indicadores do comércio, da indústria e dos serviços foram muito fracos, e a alta recente do dólar deixou o Banco Central com uma margem menor para cortar os juros. As apostas que antes eram de redução de meio ponto na Selic agora são de uma queda de 0,25 no final do mês. Ao governo, só resta focar no ajuste fiscal.
O IBGE vai divulgar no dia 30 a sétima contração consecutiva do PIB, com o resultado do terceiro trimestre. Nunca antes o país passou por um ciclo de recessão tão forte e prolongado. Quando a economia voltar a crescer, a recuperação será lenta, porque a economia foi atingida por uma combinação de crises. As projeções para o crescimento do ano que vem, que estavam em alta, voltaram a encolher. Aliás, as projeções este ano mostram bem a gangorra das expectativas. No começo de 2016, o mercado esperava, segundo o Boletim Focus, um crescimento de 1% em 2017. Com o agravamento da crise do governo Dilma, essa previsão foi encolhendo e chegou a 0,2% em abril. Depois, voltou a subir, devagar, até chegar a 1,3%. Agora, caiu de novo, para 1%, o mesmo percentual anunciado ontem pelo Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Mesmo assim, o cenário para 2017 em todas as projeções é de algum crescimento com a inflação em queda e os juros sendo reduzidos devagar. O ano que vem será melhor do que 2016, mas a esperança de que a recuperação começasse neste quarto trimestre já foi deixada de lado.
Há muitas razões para a preocupação. Cinco ministros do governo já caíram, e o quinto pediu demissão atirando em outro. Mais do que um simples desentendimento, o que houve entre o ex-ministro Marcelo Calero e o ministro Geddel Vieira Lima mostra uma das pessoas mais próximas do círculo palaciano cometendo um erro inaceitável e achando isso normal. Nas suas entrevistas, ele se perguntou o que fez de errado. Ainda não entendeu que um ministro não pode usar o cargo para obter uma decisão que o favoreça. Será que é preciso avisá-lo que o país está travando uma luta contra a corrupção, o compadrio, o patrimonialismo?
Como a crise fiscal é grave, qualquer erro como este enfraquece a capacidade do governo de lutar por um ajuste no Congresso. E a situação das contas públicas é grave demais: 3% de déficit primário, 70% de dívida bruta e 9% de déficit nominal. Quanto mais crises internas enfrentar, mais incapaz o governo ficará para enfrentar a correção de rumos que precisa ser feita.
O Governo Federal e os estados estão no vermelho, e a inflação está elevada, o que obriga o Banco Central a manter a Selic num patamar muito alto. Tanto as famílias quanto as empresas estão endividadas. A inadimplência das pessoas jurídicas no país saltou de 4,1% para 5,5% em um ano. Somente com o pagamento de juros, o brasileiro compromete 10% do orçamento.
A eleição de Donald Trump provocou uma alta súbita do dólar e com isso o mercado agora aposta que o Banco Central vai manter o ritmo de corte da Selic em 0,25 ponto. Antes, havia a expectativa de que essa redução fosse mais rápida, o que ajudaria a impulsionar os indicadores de confiança e os investimentos no ano que vem.
O governo Temer ainda não disse como pretende resolver o problema da crise fiscal dos estados. As duas propostas que surgiram nos últimos dias repetem ideias que já deram errado no governo Dilma. Em Nova York, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, defendeu que os estados possam captar recursos no exterior, dando como garantia empresas estatais e royalties do petróleo. Já o ministro Eliseu Padilha falou em utilizar os cerca de R$ 100 bilhões que o BNDES precisa devolver ao Tesouro.
A economia voltou a se enfraquecer, o governo bate cabeça, a proposta de ajuste é insuficiente e a reforma da Previdência não saiu do papel. Os temores são de que a recuperação seja adiada uma vez mais.
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