A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) trouxe um retrato controverso da renda, igualdade social e emprego em 2015, que reflete o forte impacto da queda de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) na vida da população e explica em parte a crescente rejeição ao governo da então presidente Dilma Rousseff. Se alguns resultados são definitivamente ruins, outros apresentados como positivos são discutíveis. Pela primeira vez em 11 anos, o rendimento total, incluindo salário, aposentadoria, benefícios sociais, aluguéis, juros e dividendos, caiu 5,4%. O rendimento apenas do trabalho recuou 5%; e o domiciliar nada menos que 7,5%. Em todos os casos, foi uma queda superior à da variação do PIB, que atingiu tanto o trabalhador com carteira assinada como quem trabalha por conta própria e empregados domésticos.
A diminuição do rendimento atingiu todas as faixas, mas foi mais intensa entre os que ganham mais, o que deu mais um empurrão na trajetória de redução da desigualdade, medida pelo Índice de Gini (quanto mais perto de um, mais desigual). Ou seja, a desigualdade diminuiu não porque os mais pobres passaram a ganhar mais, mas sim porque os mais ricos ganharam menos. A metade da população com maiores rendimentos perdeu 5,7% dos ganhos em relação a 2014; os outros 50%, com os rendimentos mais baixos, tiveram perda média de 4%. Assim, levando em conta todas as fontes de rendimentos, o Índice de Gini passou de 0,497 em 2014 para 0,491 em 2015; para os rendimentos de trabalho, o índice caiu de 0,490 para 0,485 e, no caso do rendimento domiciliar, variou de 0,494 para 0,493.
No entanto, se for comparada a renda dos 10% mais pobres com a dos 10% mais ricos, verifica-se que todos saíram perdendo. Entre os 10% mais pobres, estão geralmente aqueles com trabalho informal, precário ou desemprego, não beneficiados pela política de aumento real do salário mínimo e prejudicados pelo não reajuste do Bolsa Família determinado por Dilma. Em 2015, houve uma queda de 10% no rendimento per capita dos domicílios e de 7,1% no rendimento do trabalho nessa faixa. Já quem ganhava salário mínimo se beneficiou do reajuste de 8,8% do piso e teve perda menor, de 1%. Nos domicílios dos mais ricos, a redução foi de 8,2%; e no trabalho, de 5,9%. Nota-se ainda que, entre os mais jovens, de 20 a 24 anos, a renda caiu 12,49%, em termos reais.
Estudos feitos a partir dos dados da Pnad são ainda mais preocupantes. A Fundação Getulio Vargas estima que a fatia dos mais pobres, com renda per capita mensal de até R$ 206, tenha aumentado 20% no ano passado, de 8,38% para 10% da população. Desde 2003 não havia sinais de aumento da pobreza no país. Cálculos do diretor da FGV Social, Marcelo Neri, indicam que mais 3,6 milhões de brasileiros foram jogados na pobreza (O Globo, 26/11), totalizando 20,5 milhões no país. A miséria aumentou ainda mais, 23,4%, levando à pobreza extrema mais 2,7 milhões de pessoas, o que representa 2,9% da população.
No mercado de trabalho os resultados foram igualmente desanimadores. Pela primeira vez desde 2004 houve queda no total de empregados, com a indústria e a agricultura como os setores que mais fecharam postos. A população ocupada caiu 3,9%, de 98,6 milhões para 94,8 milhões, encolhendo em 3,8 milhões de pessoas, engrossando um contingente que atingiu 10 milhões de pessoas. O grupo de ocupados com carteira assinada caiu mais, 5,1%. Todas as grandes regiões registraram queda da população ocupada em 2015, sendo que no Nordeste a redução foi de 5,4%.
Outro reflexo da queda da população ocupada se deu na população economicamente ativa, que passou de 105,9 milhões de pessoas para 104,8 milhões, queda de 1%. Enquanto isso, a população não economicamente ativa cresceu 6,7%, chegando a 57 milhões de pessoas. Em 2014, eram 53,4 milhões.
Saem hoje novos dados da Pnad Contínua Mensal que, a partir de 2017, será a fonte de informação sobre as características da população, de educação, trabalho, rendimento e habitação. A Pnad Contínua a ser divulgada hoje traz os dados de outubro. Desde o início do ano, os indicadores vêm mostrando uma deterioração ainda mais expressiva. No trimestre encerrado em setembro, o número de desempregados chegou a 12 milhões, equivalente a 11,8%. O desemprego assume assim papel de principal agente do aumento da desigualdade, que já está aumentando de acordo com dados da FGV, assim como o rendimento médio vem caindo, acentuando ainda mais os problemas delineados em 2015.
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