- Folha de S. Paulo
A esperança de Michel Temer era que a melhora das expectativas após o impeachment de Dilma lhe desse fôlego para atravessar os primeiros meses. Ele conseguiria ainda algum oxigênio extra com a aprovação das reformas, e isso deveria bastar até que a economia começasse a reagir positivamente. É da recuperação que seu governo extrairia a legitimidade que não conquistou nas urnas. Se a Lava Jato não acertasse em cheio o núcleo duro de sua administração, Temer poderia sonhar até com reeleição. Bem, não está dando certo...
É verdade que a saída de Dilma melhorou as expectativas, mas as reformas vêm num ritmo muito mais lento do que o necessário. E, nesse meio tempo, o cenário econômico mudou para pior. Ainda não apareceram sinais inequívocos de recuperação, e os analistas já reveem para baixo as previsões para 2017. A eleição de Trump adiciona mais algumas incertezas que não ajudam o Brasil.
É na política, contudo, que a deterioração foi mais rápida. O Congresso está acuado pela Lava Jato, e parlamentares já partem para o salve-se quem puder. As movimentações em torno da suposta anistia ao caixa dois são o melhor exemplo disso. Mas, como a opinião pública deixou claro que não vai aceitar passivamente que tudo termine em pizza, o governo não poderá contar com um acordão para acalmar a base aliada e facilitar a aprovação das reformas. E, se houver a percepção de que elas não virão, as expectativas irão para o buraco, levando junto a economia.
A essa altura, nossa melhor esperança é a de que os parlamentares desvinculem a votação da agenda econômica de seus interesses pessoais. Em condições normais, isso não aconteceria. Mas, com exemplos como o do RJ, a gravidade da crise fiscal que nos ameaça está ficando difícil de ignorar. Se isso não bastar para comovê-los, deveriam lembrar que a comida da cadeia tende a ficar ainda pior se o Estado estiver falido.
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