- O Estado de S. Paulo
• As condições objetivas para a retomada do crescimento são adversas
Não foi a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos ou os respingos no presidente Michel Temer da crise produzida pela tentativa de interferência do secretário da Presidência, Geddel Vieira Lima, em outro ministério, em nome de interesses pessoais, que determinaram a agora mais disseminada volta do pessimismo com o futuro próximo da economia. Esses eventos, aos quais se poderia adicionar o desconforto geral com as manobras para aprovar no Congresso uma anistia aos políticos envolvidos em esquemas de caixa 2, às vésperas de uma anunciada superdelação premiada de executivos da Odebrecht, ajudaram a compor o clima, mas nenhum deles pode ser responsabilizado pelas novas projeções de recuperação mais lenta e mais tímida da economia.
Os mercados reagiram mal a todos esses episódios e a opinião pública mostrou insatisfação com o rumo dos acontecimentos políticos domésticos, mas os sinais de que a economia ainda corria o risco de cair num alçapão depois de bater no fundo do poço, se foram reforçados depois desses eventos, já vinham se acumulando. A verdade é que as condições objetivas adversas da economia há algum tempo não permitiam sustentar o otimismo bancado por muitos e hoje perfeitamente classificável como exagerado.
Canais de liberação do consumo, por exemplo, continuam interditados. Aí está a taxa de desemprego, que ainda não encontrou o teto, e faz decrescer a renda pessoal, reduzindo o ímpeto consumidor, já enfraquecido pelo alto grau de endividamento familiar. Esse quadro, por sua vez, exige adequação para baixo da oferta, expressa, nas empresas, em aumento do volume de estoques ou da capacidade ociosa, quando não de ambos.
Também os caminhos para a expansão do investimento se encontram entupidos. Não é só o custo do dinheiro, onerado por taxas de juros ainda muito elevadas, e a demanda enfraquecida que operam no sentido de desestimular as decisões de renovar ou ampliar a capacidade de produção. A barreira mais crítica ao investimento é a combinação do alto nível de endividamento das empresas com a queda no faturamento, do caixa e do lucro. Pesquisas mostram que metade de um grupo de mais de seis centenas de empresas de grande porte não está conseguindo gerar caixa nem para cobrir os juros de suas dívidas.
Essas são algumas das principais pedras no caminho da recuperação econômica que devem estar presentes nos resultados da evolução do Produto Interno Bruto (PIB), no terceiro trimestre de 2016, previsto para ser divulgado amanhã pelo IBGE. Com a ressalva de que os números podem trazer alguma surpresa, visto refletirem série histórica revisada, as melhores projeções são praticamente unânimes em apontar resultado pior do que o registrado no segundo trimestre, quando o PIB recuou 0,6% sobre o trimestre anterior. As previsões atuais são de uma queda nas vizinhanças de 1%, com destaques negativos para a indústria e o investimento, que, depois de números positivos no período abril-junho, voltaram a cair entre julho e setembro. Em relação ao terceiro trimestre de 2015, a queda pode chegar a 3,5%.
Consequências quase imediatas da previsível frustração do terceiro trimestre não se resumem à prorrogação do momento em que a economia voltará a crescer — não mais no último trimestre de 2016, talvez no segundo quarto de 2017, mais provavelmente somente no segundo semestre. Dizem respeito também ao ritmo mais lento em que a recuperação deve ocorrer. Aquelas projeções de que a expansão da economia, no ano que vem, poderia chegar a 2% sumiram do mapa e as previsões, em paralelo com recuos dos índices de confiança depois de meses de alta, agora se concentram em metade daquele porcentual. A propósito, no Boletim Focus de ontem, a mediana das projeções do crescimento em 2017, que em outubro chegara a 1,36%, já desceu para 0,98%.
Nenhum comentário:
Postar um comentário