- O Estado de S. Paulo
À primeira vista, o artigo do ex-deputado tucano Xico Graziano, intitulado Volta, FHC, publicado pela Folha de S. Paulo de quinta-feira passada, dá a impressão de ser um manifesto pelo impeachment do presidente Michel Temer. Ele chega a sugerir que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acelere o processo político e casse a chapa Dilma/Temer. Nesse caso, escreve o ex-deputado, o Congresso elegeria um presidente-tampão. E completa: “Seria Fernando Henrique, com certeza. Ele prepararia o País rumo ao “porvir”, aqui no sentido mais romântico possível para o uso de “porvir” na política: o futuro grandioso.
Mas Xico Graziano especula também que talvez a Justiça não acelere as coisas. Temer completaria o mandato. Então, o candidato das forças que estão no governo seria Fernando Henrique. Os 87 anos do ex-presidente em 2018 não atrapalhariam, porque ele os compensaria com inventividade.
Como era de se esperar, Fernando Henrique disse logo que não será candidato, pois prefere a renovação geracional. E também, como era de se esperar, o mundo político só falou do artigo de Graziano, logo exposto pelo próprio autor nas redes sociais.
O que está por trás do Volta, FHC é outra coisa. Nem o sugerido impeachment de Temer nem a volta de Fernando Henrique. E sim uma tentativa de neutralizar, dentro do PSDB, o poder que o governador Geraldo Alckmin ganhou com as eleições municipais. Observe-se que Graziano ignora todos os hoje pré-candidatos do partido: Aécio Neves, Alckmin e José Serra.
Como ocorre com os partidos orgânicos, caso do PSDB, quando um lado das forças internas que dão equilíbrio à legenda cresce mais do que o outro, a tendência é que uma delas se torne hegemônica. Nesse momento, Alckmin ameaça as outras forças. E elas começam a reagir. Como escreveu a colunista Eliane Cantanhêde no Estado de ontem, são capazes até de levar à improvável união de Aécio e Serra.
Nesse ninho de passarinho, para se usar uma batida expressão, o que mais tem é cobra.
Nos artigos que tem escrito nos últimos tempos, Fernando Henrique Cardoso costuma divulgar o perfil de quem ele considera ideal para ser o candidato das forças que hoje estão no governo, e que ontem faziam oposição ao governo petista. Em resumo, deve ser um candidato que vá do campo do centro político para a esquerda, que seja tolerante, pregue o diálogo, seja contrário à redução da maioridade penal e busque a unificação do País.
Não se pode dizer que esse é o perfil de Geraldo Alckmin, mais dado ao enfrentamento. Basta ver a forma como a Polícia Militar de São Paulo atua para conter protestos. Em parte, o crescimento de Alckmin pode estar vindo daí, visto que parte da sociedade tem ficado cada vez mais incomodada com bloqueios de rua, queima de pneus, atuação de black blocs e assim por diante.
Portanto, se o artigo de Xico Graziano tinha um objetivo, ele já foi alcançado. Há um incômodo no PSDB com o indiscutível crescimento de Geraldo Alckmin e as lembranças para que o nome dele fique na cabeça da chapa das forças que hoje estão no governo.
Resta saber se as movimentações partidárias que já começam a ocorrer, seja na questão da disputa para a Presidência da República daqui a dois anos, seja para a eleição dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, não vão atrapalhar o projeto que sustenta Michel Temer. No Senado, tucanos descontentes com o PMDB ameaçam bater chapa. Na Câmara, há um visível trabalho para dar a Rodrigo Maia (DEM-RJ) condições legais para disputar a reeleição. Cada passo desses pode gerar uma crise.
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