As Eleições 2016 terminaram no último dia 30 com a realização do segundo turno em algumas cidades e mostraram uma nova cara do eleitor. O movimento de insatisfação que levou milhões às ruas desde 2013, e levou ao impeachment de Dilma Rousseff, chegou às urnas e modificou definitivamente nosso sistema eleitoral.
Não por acaso, cerca de 85% dos eleitores em todo o Brasil serão governados por partidos da base aliada ao governo do presidente Michel Temer. Pesaram na balança para a definição dos votos o efeito da operação Lava Jato e o esgotamento do ciclo petista.
Aliado a novas regras para campanha, como prazos mais curtos e a ausência de financiamento de empresas, este movimento mostrou que não se pode mais fazer a mesma política de antes. Para se ter uma ideia desta nova “cara” das campanhas eleitorais, nos dois turnos de 2016, as doações não chegaram a R$ 3 bilhões. Nem metade do que foi registrado em 2012: R$ 6,09 bilhões.
Os 32.987.108 eleitores brasileiros querem mudança de fato – uma proposta de desenvolvimento, outras formas de “fazer política” e novo comportamento no trato da máquina pública. Quando não se sentiram representados, anularam seu voto ou votaram em branco.
O total de votos brancos ou nulos e de abstenções chegou a superar a votação de prefeitos eleitos em grandes capitais. 10,8 milhões pessoas não compareceram ou votaram nulo ou em branco neste segundo turno. Em 2012, foram 8,4 milhões de pessoas.
Nos últimos 16 anos, falando somente em segundo turno, o número daqueles que não aparecem para votar só aumentou: eram 16,25% em 2000; 17,28% em 2004; 18,09% em 2008; 19,11% em 2012 – com um salto neste ano e o maior percentual já registrado, com 21,55% de eleitores e eleitoras que se abstiveram de sua escolha.
Isso mostra àqueles que insistem em fazer política sem ouvir a voz das ruas, que eles perderam e continuarão perdendo espaço. Com a enxurrada de informações trazidas pela internet, o eleitorado mostrou nestas eleições que está mais crítico, mais atento e disposto a cobrar as promessas feitas. Rejeitou as posturas populistas e as campanhas ostensivamente perdulárias.
Tivemos uma eleição mais participativa, transparente e limpa. Literalmente mais limpa por conta da ausência de toneladas de materiais impressos que eram despejados pelas cidades – provocando até mesmo acidentes em casos mais isolados de eleitores escorregando nos montes de papel.
É preciso que agora o eleitorado mostre sua indignação – esta indignação que produziu enormes números de abstenções – de forma prática e produtiva. Depois desse protesto silencioso feito com o voto, ou a ausência dele, os eleitores devem cobrar os agentes públicos.
Prefeitos e vereadores foram eleitos para melhorar a vida da população. É mais do que direito, é um dever, acompanhar os projetos, participar de audiências públicas, cobrar e sugerir. Pela internet é possível acessar os projetos de lei, se informar sobre as ações antes que elas se tornem efetivas – momento certo para receberem a colaboração da população.
A insatisfação do eleitorado brasileiro que observamos nestes dois últimos turnos não será nada produtiva se ficar restrita apenas à cabine de votação.
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Arnaldo Jardim é secretário de Agricultura de São Paulo e deputado federal licenciado (PPS-SP)
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