sábado, 5 de novembro de 2016

Cultura é agregada à Ciência e Tecnologia

• Artistas e produtores lamentam extinção da secretaria nos ajustes fiscais; decisão vale a partir de janeiro

Luiz Felipe Reis * - O Globo

A Secretaria estadual de Cultura é uma das pastas do governo do Rio que serão extintas como parte das medidas de ajuste fiscal anunciadas oficialmente ontem. Na reestruturação administrativa do estado, ela deixa de ser uma secretaria independente e passa a ser uma subsecretaria, incorporada à de Ciência, Tecnologia e Inovação. Segundo o “Diário Oficial”, a partir de 1º de janeiro de 2017, o nome da secretaria será Ciência, Tecnologia, Inovação e Cultura (SECTIC).

Conduzida por Adriana Rattes entre 2007 e 2014 e por Eva Doris Rosental desde janeiro de 2015, quando teve início o governo de Luiz Fernando Pezão, a secretaria de Cultura vinha enfrentando uma grave crise por causa da penúria financeira que se abateu sobre o estado. Em janeiro deste ano, o orçamento da pasta encolheu quase à metade após um contingenciamento de 45%.

Antes, ainda no ano passado, as bibliotecas-parque, que já foram vitrines do governo, chegaram a fechar as portas por falta de recursos e acabaram recebendo socorro das prefeituras do Rio e de Niterói. A Escola de Artes Visuais do Parque Lage, o Teatro Municipal e a Sala Cecília Meirelles foram outros equipamentos culturais do estado que sofreram com a falta de verbas.

A secretaria também reduziu investimentos ou interrompeu editais de fomento às artes, como o dedicado às chamadas “ocupações artísticas”, que tinham dado novo fôlego à programação de seus teatros.

Ontem, após o anúncio oficial, o clima entre os funcionários da secretaria era de desânimo, mas não exatamente de surpresa. Eva Doris não quis se manifestar sobre a decisão. Já entre artistas, produtores e associações e coletivos de cultura, a notícia reverberou com força, num ano que já foi marcado pelo fim (e a volta) do Ministério da Cultura, no primeiro semestre, e que vive agora o receio de que a secretaria municipal de Cultura seja extinta pelo prefeito eleito Marcelo Crivella.

— O que podemos dizer quando temos um estado quebrado? Só lamentar — disse a empresária e produtora cultural Paula Lavigne. — Achava que cultura era estratégica, mas já não sei de mais nada. Estou muito pessimista.

Ator e diretor, Amir Haddad questionou:

— Estamos pagando essa tragédia em nome de quem? Quem faliu o estado? Como alguém pode imaginar que um estado como o Rio, que é em termos de cultura o mais rico do país, não precisa de um setor destinado a potencializar e promover suas criações? Já temos vivido com medo de o prefeito eleito acabar com a secretaria de Cultura do município, e agora é o estado que encerra a secretaria. O que iremos fazer?

CLASSE TEATRAL PEDE DIÁLOGO
Coletivos e associações culturais soltaram comunicados lamentando a decisão. “A notícia foi recebida com espanto’’, escreveu a Associação de Produtores de Teatro do Rio (APTR), que fez um apelo: “Para a APTR, que vem trabalhando há 15 anos sobre uma visão da cultura como setor econômico e fundamental para a sociedade brasileira, é um erro do governo do estado, que deveria ser corrigido. A exemplo do que aconteceu na esfera federal, a atitude foi tomada sem consultar o setor. Como setor produtivo, solicitamos diálogo”.

Apesar da crise e do fim da pasta, a presidente da Fundação Museu da Imagem e do Som, Rosa Maria Araújo, manteve um discurso otimista:

— A junção das secretarias não vai trazer malefício algum e não vai afetar as atividades. Claro que todos estão preocupados, mas, em momentos de crise, as pessoas se unem.

* Colaborou Aline Macedo

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