Por Fabio Murakawa e Vandson Lima – Valor Econômico
BRASÍLIA - A atuação do senador Jorge Viana (PT-AC) durante a crise que levou ao afastamento de Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência do Senado causou irritação e frustração entre seus correligionários.
Parlamentares e lideranças petistas ouvidas pelo Valor afirmam que Viana, primeiro vice-presidente do Senado, agiu diversas vezes à revelia da bancada. Eles se dizem decepcionados com a postura "pouco combativa" adotada pelo acreano diante da possibilidade de o partido assumir a cadeira de Renan - e, por consequência, o comando sobre a pauta de votações.
Também afirmam, com certo desgosto, que as gestões de Viana foram "fundamentais" para a decisão do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) que revogou liminar do ministro Marco Aurélio Mello e devolveu ao pemedebista o comando da Casa.
Na noite de segunda-feira, a notícia de que Mello havia concedido liminar à Rede afastando Renan da presidência, por ser réu em processo no Supremo, foi vista como um "presente de Natal" pelos senadores petistas.
Mas, horas depois, já durante uma reunião da bancada do PT no Senado, Viana foi logo jogando um balde de água fria a euforia dos colegas. "Notou-se logo um clima dele de apreensão total", afirma uma fonte do partido. Segundo essa fonte, Viana logo disse que não foi eleito para ser presidente, mas para ser vice-presidente.
O argumento causou indignação. "É um argumento idiota, aos olhos do PT, porque o Temer foi eleito para ser vice e está lá na cadeira da Dilma", disse a fonte. "Principalmente alguém do PT dizer isso em relação a um sujeito do PMDB [de Temer e Renan]."
A orientação da bancada foi, segundo as fontes, que Viana não tripudiasse sobre o infortúnio de Renan, mas que também não o ajudasse a retornar ao posto. Viana, porém, saiu da reunião da bancada diretamente para a residência oficial do presidente do Senado, onde Renan estava com aliados. Ali, tranquilizou o pemedebista de que não tinha vontade de permanecer na presidência.
Outras atitudes de Viana desagradaram os colegas. Por diversas vezes ele se disse favorável à manutenção do calendário de votações acertado entre Renan e os líderes partidários. O PT queria que Viana, se ficasse no cargo, segurasse o ritmo dos trabalhos do Senado a fim de empurrar a votação da PEC do teto dos gastos para 2017, impondo, assim, uma derrota a Temer.
Também chegou aos ouvidos dos petistas que Viana foi ao STF e conversou com cinco ministros, a quem teria alertado sobre os riscos de uma grave crise institucional, caso se confirmasse o afastamento de Renan.
Viana, tido dentro do próprio PT como alguém "fiel a Renan", também assinou a nota divulgada pela Mesa Diretora, desafiando a liminar de Mello. "Ele podia ter sido, pelo menos, mais discreto", diz um senador petista.
Ontem, de volta ao cargo, Renan chamou Viana de " instituição suprapartidária maior do que o PT". A fala foi vista como uma provocação pelos petistas, e só fez aumentar sua mágoa em relação a Viana.
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