Por Andrea Jubé e Raphael Di Cunto - Valor Econômico
BRASÍLIA - O líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), foi convidado pelo presidente Michel Temer para assumir o lugar do pemedebista Geddel Vieira Lima na Secretaria de Governo. Mas a reação contrária de parte da base aliada - o "centrão" reivindica o cargo - adiou para a próxima semana sua confirmação no posto, colocando em xeque o avanço da reforma da Previdência na Casa.
Além de fidelizar o PSDB - que há poucos dias deu sinais de recuo - a nomeação de Imbassahy o retira da disputa pela presidência da Câmara.
Mais do que ampliar o espaço dos tucanos no governo, a escolha tem um peso simbólico, porque significa o retorno do partido a um gabinete no Palácio do Planalto após 14 anos.
Convite a Imbassahy provoca crise na base
O presidente Michel Temer convidou o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Antonio Imbassahy (BA), para assumir o lugar do pemedebista Geddel Vieira Lima na Secretaria de Governo. A reação contrária de setores da base aliada postergou para a semana que vem a confirmação do nome do tucano, o que colocou em xeque o avanço da reforma previdenciária na Câmara. Mais do que ampliar o espaço do PSDB no governo, a escolha tem um peso simbólico porque significa o retorno do partido do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a um gabinete no Palácio do Planalto 14 anos depois da saída dos tucanos do poder.
Essa possibilidade irritou o Centrão, formado por PP, PR, PSD, PTB, PSC, PRB e SD e que rivaliza com o bloco dos tucanos (PSDB, DEM, PSB e PPS) o protagonismo na base governista. Para o grupo, a escolha demonstra clara preferência do governo pelo atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e uma interferência indevida na eleição da presidência da Casa, que ocorrerá em fevereiro.
A resposta imediata foi ameaçar a reforma mais importante para o governo: a proposta de emenda à Constituição (PEC) da Previdência, que o Palácio quer votar a toque de caixa na próxima semana. "Se é assim vamos derrotar a admissibilidade da PEC [na CCJ]", afirmou o presidente do Solidariedade e da Força Sindical, deputado Paulinho da Força (SP).
Em tom menos beligerante, outros líderes do Centrão criticaram a postura do governo. Líder do PSD, Rogério Rosso (DF) afirmou que o partido votaria de qualquer forma a favor da PEC da Previdência, mas que confia que o presidente Temer vai seguir o caminho que unirá a base. "Essa escolha mostra que o Planalto tem um candidato e, se é assim, me avisem que vou tirar minha candidatura [à Presidência da Câmara] porque não vou brigar com o governo", disse.
A avaliação do grupo é que o governo fechou um acordo pela reeleição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tenta uma manobra jurídica para continuar no cargo no próximo biênio. O PMDB ficaria com a 1ª vice-presidência - seis deputados já pedem votos internamente. Maia acertou o apoio do PSDB e DEM, tem costurado aliança com a oposição - jantou com o PDT na terça-feira, por exemplo-, negocia a adesão do PSB, que está dividido, e faz investidas em busca de traições no próprio Centrão.
O presidente da Câmara, contudo, precisa se viabilizar juridicamente - a Constituição veda a reeleição dentro de uma mesma legislatura, proibição que ele tenta contornar alegando que está em um mandato tampão e evitando atritos com o Supremo Tribunal Federal (STF), a quem caberá, em última instância, julgar o impedimento. O centrão aposta nessa instabilidade para ganhar terreno. Além de Rosso, o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), é pré-candidato - e hoje é visto como favorito dentro do grupo, caso o PP não lance um nome.
Diante da repercussão negativa dentro da base, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB), entrou em contato com líderes do Centrão para dizer que o presidente Temer "desmentia" o acerto com o PSDB. Não houve manifestação pública e a nomeação foi adiada até, pelo menos, a análise da PEC da Previdência na CCJ na quarta-feira.
Imbassahy seria responsável pela articulação política do governo e sua primeira missão é, justamente, impulsionar a votação da reforma da Previdência Social na Câmara. Além de fidelizar a participação do PSDB no governo - que há poucos dias deu sinais de recuo -, Temer retira Imbassahy da disputa pela presidência da Câmara - o tucano é a alternativa nos neogovernistas se Maia não se viabilizar.
As conversas para que um tucano assumisse a função remontam ao final de novembro, a partir do almoço de Temer com a cúpula do PSDB no Palácio da Alvorada, no dia 25, do qual participou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O acordo foi selado nesta semana, durante um voo para São Paulo em que a cúpula tucana dividiu a cabine presidencial com Temer: o presidente da sigla, senador Aécio Neves (MG), e os ministros da Justiça, Alexandre de Moraes, e das Cidades, Bruno Araújo.
Araújo foi sondado para trocar a Esplanada pelo Palácio, mas preferiu ficar onde está. O nome do senador José Aníbal (PSDB-SP), um velho amigo de Temer, foi outro cotado. Mas aliados avaliaram que Imbassahy tem mais perfil para a função porque é mais ligado a Aécio, que controla a máquina partidária, é "paciente" para ouvir as queixas dos parlamentares - um dos deveres da Pasta- e seria um nome a menos no embate pela sucessão de Maia.
Se Imbassahy for confirmado no Planalto, o PSDB ficará com quatro ministérios no governo Temer. Os outros três são o chanceler José Serra, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, e Araújo nas Cidades. O PMDB tem cinco pastas, a maioria de menor expressão e orçamento que as ocupadas pelos tucanos.
Imbassahy esteve ontem em São Paulo. Ele tinha previsto ir a um jantar em homenagem ao vice-prefeito eleito de São Paulo, Bruno Covas, em que compareciam integrantes da cúpula do PSDB.
O PMDB reivindicava a cadeira e demonstrou irritação com a escolha do tucano. Mas Temer viu a necessidade de consolidar o apoio do PSDB ao governo depois que nas últimas semanas o partido deu sinais de insatisfação com a política economia do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Na semana passada, Fernando Henrique deu uma entrevista em que chamou o governo Temer de "pinguela".
Embora a cúpula da bancada na Câmara defenda a aproximação com o governo, parte dos pemedebistas defendeu que, com o PSDB na articulação política, o PMDB lance candidato à presidência da Câmara. Grupos da legenda articulam que o assessor especial da presidência e ex-deputado Sandro Mabel (PMDB) fique com a vaga de Geddel. (Colaboraram Bruno Peres, de Brasília, e Ricardo Mendonça, de São Paulo)
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