• Líderes do PSDB acertam com Temer participação maior em sua equipe para abafar discurso da oposição de que estariam articulando um golpe
Maria Lima e Simone Iglesias – O Globo
Num momento de raro entendimento entre os tucanos, a indicação de Antonio Imbassahy para o núcleo do governo teve o aval das três principais forças do partido: o presidente do PSDB, Aécio Neves, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ministro das Relações Exteriores, José Serra. Com a saída de Imbassahy da Câmara, o deputado Jutahy Júnior (BA), ligado a Serra, deverá ser indicado líder da bancada tucana. Em contrapartida, Serra demonstrou apoiar a permanência de Aécio no comando do partido.
Pelo acerto firmado com o presidente Michel Temer, a Secretaria de Governo será turbinada e assumirá todas as questões federativas, dando novas atribuições à Subsecretaria de Pequenas e Microempresas. Outra função será a interlocução com os movimentos sociais, que nos governos petistas era atribuição do então ministro Gilberto Carvalho.
O plano é que Temer edite uma medida provisória, definindo as novas atribuições da pasta. Ficaria em segundo plano a tarefa de cuidar de nomeações, para que fosse incrementada a pauta federativa, com forte discurso social — esse é o maior interesse do PSDB.
Com as mudanças, Imbassahy assumirá parte das atribuições econômicas e sociais do Ministério do Planejamento, que continua sob o comando de Dyogo Oliveira.
— Ficará a cargo da nova secretaria todos assuntos de pacto federativo, negociação com municípios, financiamentos, e além da interlocução com empresários, a pasta também fará uma interlocução forte com movimentos sociais. Nos interessa muito focar nesse discurso mais na área social e sair um pouco do rentismo fiscal — disse um tucano da cúpula.
A indicação de Imbassahy começou a ser construída diante do recrudescimento das dificuldades políticas do governo, agravadas pela divulgação de indicadores econômicos ainda muito ruins. Foi então que as críticas do PSDB à condução lenta da retomada do crescimento pelo ministro Henrique Meirelles (Fazenda) se tornaram públicas nas duas últimas semanas. Coube a Fernando Henrique, ao chamar a gestão Temer de “pinguela”, dar a senha aos tucanos de que era preciso intensificar as cobranças e buscar participar da formulação das medidas do governo.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), passou a defender que o PSDB tivesse seu espaço no núcleo do governo ampliado. Principal avalista do governo de transição, após a manifestação de Renan, o comando do PSDB cobrou um pacote de medidas na área econômica e social, para melhorar a imagem do governo Temer.
Aécio e outros líderes tucanos tiveram várias reuniões com Fernando Henrique, nas quais discutiram a necessidade de entrar para valer no governo e acabar com a narrativa, alimentada pela oposição, de que o PSDB “daria um golpe dentro do golpe”: derrubaria Temer e elegeria indiretamente FH para o mandato-tampão até as eleições de 2018.
Os tucanos negam que tenham pressionado para ter alguma pasta econômica: Planejamento ou Fazenda.
— Se a gente quisesse a economia, tinha nomeado no início. E seria pouco inteligente criar uma confusão na economia e ficar na nossa conta! Fomos para o núcleo duro do governo para ajudarmos, sem desestabilizar a área econômica — disse um dos caciques tucanos que participaram das conversas com Fernando Henrique e Temer.
Para os tucanos, o fundamental que o partido esteja no núcleo do governo, participando da elaboração das políticas econômicas e sociais.
— Temos que entrar para valer e acabar com essas bobagens que só interessam aos adversários, de criar cizânia. Vamos fazer a travessias com Temer até o final, o que é bom para o país. Tenho o convencimento de que ou entramos para ajudar para valer o governo a fazer essa travessia, ou o governo terá muita dificuldade — disse um líder tucano ao GLOBO.
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