• A 'pinguela' Temer pode resistir até a eleição, por falta de alternativa, mas não dá soltar fogos
A mais singela (e feliz) definição do governo Michel Temer aparecida até agora pertence a Fernando Henrique Cardoso, ao dizer que se trata de uma "pinguela" até a eleição geral de 2018.
Quem concorda com ele fica obrigado a fazer duas perguntas decorrentes dessa avaliação: a "pinguela" resiste aos dois anos que restam até a posse do/da sucessor/a de Temer? Há alguma chance de que ele ou ela desperte o entusiasmo que nem Temer nem a antecessora, Dilma Rousseff, provocaram no público?
Meu palpite: a "pinguela" pode até resistir, mas o fará muito menos por seus (escassíssimos) méritos e muitíssimo mais porque a única alternativa possível, à esta altura, é a assustadora eleição indireta por um Congresso desmoralizado.
Claro que minha alternativa favorita (exposta, de resto, já em março, quando estavam no ar apenas os primeiros capítulos da novela do impeachment) seria uma nova eleição popular ou pela cassação pelo TSE da chapa completa (Dilma/Temer), ou pela renúncia deste.
O realismo me obriga a reconhecer que é ingenuidade esperar que uma dessas hipóteses se dê nos 13 dias que restam até o fim do ano, após o que a eleição será indireta.
Governo Temer
A "pinguela", portanto, é o que temos para hoje, o que é desanimador —e não só para mim, o que seria irrelevante.
O fato é que 72% dos pesquisados no mais recente estudo do Ibope não confiam em Temer.
O fato é que as expectativas, tanto do consumidor como do empresariado, estão em queda, após o primeiro momento pós-impeachment.
Informa a Confederação Nacional da Indústria que foram três quedas seguidas do índice de confiança dos industriais, que caiu para 48 pontos depois de 53,7 em setembro.
Já o consumidor reduziu suas expectativas em dezembro, pelo segundo mês consecutivo. Economia à parte, ainda há a bomba-relógio das delações premiadas.
A Agência Lupa, que faz valioso trabalho de checagem de informações/declarações, visitou partes do depoimento de Claudio Melo Filho, um dos executivos da Odebrecht, e apontou o seguinte: Renan Calheiros, Romero Jucá e Geddel Vieira Lima de fato agiram, no Congresso, em favor da empreiteira, conforme o denunciante informara.
É óbvio que dessa constatação não dá para inferir que todo o resto do depoimento corresponde aos fatos. Mas já permite afirmar que o núcleo duro do governo Temer tem comportamento nada republicano.
Como é possível, nessas circunstâncias, recuperar a confiança do público e, por extensão, melhorar as expectativas dos agentes econômicos?
Seria pelo pacote de supostas bondades anunciado na quinta (15)? Não faz nem cócegas na recessão, segundo meu guru em análise econômica, Vinicius Torres Freire.
A "pinguela" pode até resistir, por falta de alternativa, mas o brasileiro chegará exangue ao fim dela.
Aí virá a eleição. O candidato líder nas pesquisas, Lula, tem 22% ou 23% de apoio e 46% de rejeição. Se o líder não chega a entusiasmar, o que dizer do resto?
Tudo somado, só me resta desejar ao leitor um feliz 2022, ano da eleição seguinte.
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