Paulo Celso Pereira – O Globo
O fim deste 2016 de crises profundas é esperado ansiosamente por muitos. No entanto, como os fatos ignoram o calendário gregoriano, as dificuldades econômicas, a crise entre Legislativo e Judiciário e, sobretudo, as delações da empreiteira Odebrecht já anunciam um 2017 com muitas tempestades.
Os poucos trechos da colaboração premiada da Odebrecht que já vieram a público justificam, com louvor, o epíteto de “delação do fim do mundo”. As 82 páginas jogam a crise no gabinete presidencial, na cúpula da Câmara e do Senado, no partido do governo e ainda respingam em políticos importantes de muitas outras legendas.
Qual um boxeador que suplicava o soar do gongo e finalmente chega ao corner, os congressistas estão neste momento festejando o início do rePlanalto, cesso parlamentar, que lhes permitirá se ausentar de Brasília, evitar os holofotes e reorganizar suas estratégias de defesa.
Estas férias, no entanto, têm tudo para serem diferentes. De imediato, o presidente Michel Temer, já fragilizado pela crise econômica e pelos escândalos envolvendo ministros próximos, precisará mostrar que tem condição de se confirmar como a “pinguela” até 2018. Mas é difícil que consiga desempenhar este papel se as denúncias que batem à sua porta entrarem em seu gabinete.
Seu problema central é o envolvimento de dois de seus melhores amigos: o ministro Eliseu Padilha e o advogado José Yunes, que pediu demissão do governo na última semana. Dada a intimidade que tinha com ambos, dificilmente Temer poderá usar com eles a estratégia de entregar os anéis para preservar os dedos. Se verdadeira a delação, ainda pendente de provas e homologação, o que está sendo dito é que Padilha e Yunes eram os próprios dedos de Temer junto à Odebrecht. No Congresso, até agora principal lastro de estabilidade para o o equilíbrio prometido para 2017 corre risco. O líder do PMDB, Eunício Oliveira, favorito para presidir o Senado, foi acusado de completar a trinca que comandava as negociações de medidas provisórias, ao lado de Renan Calheiros e Romero Jucá.
Na Câmara, o centrão tenta impedir no Supremo Tribunal Federal que Rodrigo Maia seja reconduzido à presidência da Casa. A Corte ainda terá de resolver outras questões que podem gerar atritos entre os Poderes: se a decisão do ministro Luiz Fux, de anular a votação do pacote anticorrupção, deve prevalecer e se qualquer réu pode ocupar as presidências das Casas e figurar na linha sucessória da Presidência da República.
Somam-se a este cenário turvo a resistente crise econômica e o processo que pode anular a eleição da chapa Dilma-Temer no TSE. Assim, este 2017, ainda prestes a nascer, já promete rivalizar com 2016.
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