1916 / 1937 Nasce em Araripe (CE) no dia 15 de dezembro de 1916, filho de um pequeno comerciante e produtor agrícola. Forma-se em Direito em 1937
1950 Torna-se primeiro suplente na Assembleia Legislativa de Pernambuco pelo Partido Social Democrático (PSD) . Em 54, é eleito deputado estadual pelo Partido Social Trabalhista (PST)
1959 Assume como prefeito de Recife
1962 É eleito governador de Pernambuco
1964 Participa do comício da Central. Com o golpe militar, o Palácio das Princesas, sede do governo de PE, é cercado. Arraes é preso e deposto em 1º de abril, ao se negar a renunciar. É libertado em 65, mas, no mesmo ano, é enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Vai para o exílio na Argélia. Em 67, é condenado por subversão
1979 Em agosto, é beneficiado pela Lei da Anistia e tem a pena suspensa, voltando ao Brasil em 15 de setembro daquele ano. Um grande ato é realizado em Recife em sua homenagem. Nesse ano, filia-se ao MDB. Depois, participa da fundação do PMDB, convidado por Ulysses Guimarães
1989 É eleito deputado federal pelo PMDB, em 1982, com a maior votação já registrada para o cargo em PE. Em 1986, é eleito governador. Em 1989, apoia a candidatura de Brizola à Presidência no 1º turno, e a de Lula, no 2º. Depois das eleições, sai do PMDB e se filia ao PSB
1990 Torna-se o deputado federal proporcionalmente mais votado do
país. Em 1992, vota pela abertura do processo de impeachment contra Fernando Collor. Em 95, é eleito governador de PE pela terceira vez, feito até então inédito na História do estado. Em 2002, é eleito deputado federal
2005Morre em 13 de agosto, no Recife
‘Eu vi, pela primeira vez na vida, um político chorar’
• O GLOBO relembra histórias marcantes de um dos maiores expoentes da política brasileira
Jorge Bastos Moreno - O Globo
“A liberdade do homem é uma conquista do homem, não é doação de nenhuma lei ou governo"
Em 1963 Na posse como governador de Pernambuco
“Não defendemos nem um Estado mínimo nem máximo. Defendemos um Estado que cumpra suas finalidades” Em 1991 Presidente do PSB
“Dinheiro é uma coisa perigosa. Na mão de um homem público é um desastre" Em 1998 Deputado federal (PSB)
Numa manhã ensolarada do sábado 15 de setembro de 1979, Recife se vestia de alegria às vésperas da chegada do mito. Depois de quase 15 anos de exílio, ele já estava no Brasil. Chegou, como todos os retornados, pelo Rio e foi direto para o Crato (CE), sua terra natal, para realizar um único desejo de quase duas décadas: comer mungunzá feito por dona Maria Benígna, sua mãe. Nas ruas da capital pernambucana, carros com alto-falantes anunciavam: “Neste domingo, no Largo de Santo Amaro, Pernambuco vai receber o governador arrancado dos braços do povo, Miguel Arraes de Alencar”. Praias lotadas de bandeiras anunciavam o grande evento. No velho Mercado Municipal, o ator José Wilker entrevistava feirantes e repentistas que vendiam cordéis, cantando a saga de Arraes.
Anoitece, e Recife parecia a capital política do país: políticos, artistas, jornalistas do mundo todo a postos para o comício de Arraes. A maior concentração deles, no “Hotel do Sol”, de propriedade da tradicional família Tavares. No bar lotado do hotel, uma cena inusitada chamava a atenção de todos: o então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva, pulando sobre mesas e cadeiras, fugia de uma fã, que o queria agarrar à força. Na varanda, outro grupo, banhado pela brisa do mar, ouvia Darcy Ribeiro falar das suas aventuras amorosas dentro de hospitais e da passageira paixão por Gal Costa, ao assisti-la, durante uma das vindas consentidas e vigiadas dele ao país, cantando “Índia” no Fantástico. A noite parecia não terminar.
E, finalmente, o grande dia chegou. Às cinco da tarde, o Largo já estava lotado. Às 19h30m começaram os discursos. Entre os oradores ilustres, além de Lula, Pedro Simon e Teotônio Vilela, estava Alencar Furtado, o último cassado pela ditadura. Quando Arraes começou a falar, já havia um mar de gente. Os organizadores contavam mais de cem mil pessoas, mas os jornais da segunda-feira falavam em 30, 40, não mais de 50 mil. Ainda estávamos em plena ditadura, apesar de a Anistia ter sido promulgada dias antes, em 28 de agosto.
Jarbas, que organizara a volta de Arraes ao país quando este ainda estava no exílio, negociara também a ida dele para o MDB, mesmo sabendo da resistência da cúpula moderada do partido, Tancredo Neves e Thales Ramalho à frente. Mas tinha o apoio de Ulysses Guimarães, presidente da legenda. Jarbas e Ulysses combinaram então com Arraes que a sua filiação ao MDB ocorreria 15 dias após o seu retorno ao país, mas os moderados tentaram impedi-la. Numa conversa a portas fechadas, nunca revelada até hoje, Ulysses pediu a Tancredo para estancar a rebelião, comparecendo à solenidade de filiação de Miguel Arraes, no auditório Nereu Ramos da Câmara.
— Antes não tivesse eu pedido isso a Tancredo. Avaliei mal — lamentaria Ulysses, ao ser golpeado pelo companheiro mineiro, com uma “saudação” de Tancredo a Arraes, que ofuscou a festa e virou manchete dos jornais do dia seguinte.
É que, terminado o ato, Tancredo divulgou este comunicado ao país, como se estivesse dando satisfação aos militares:
“Fui à cerimônia levar a Miguel Arraes o meu apreço ao homem público que nunca disfarçou nem ocultou suas convicções e em razão delas curtiu um exílio de quase 16 anos. Acontece, porém, que o MDB do senhor Miguel Arraes não é o meu, e nem o meu MDB é o MDB do senhor Miguel Arraes. Ambos sabemos disso muito bem”.
Essa declaração foi também a senha para Tancredo anunciar que estava com os dois pés já fora do MDB, articulando com Magalhães Pinto, seu adversário de vida inteira, a criação do malfadado Partido Popular (PP), que viveu pouco. Em 82, Tancredo e Arraes estavam de novo sob as asas do PMDB de Ulysses, e os autênticos acabaram fazendo com os moderados um acordo para acomodar ambos na mesma mesa da Comissão Executiva do partido, que reunia os maiores cardeais da política brasileira da época.
Miguel Arraes, apesar de ter retornado à vida pública pelo MDB, seguindo para o seu sucedâneo PMDB, pelo qual viria a se eleger deputado federal e governador, sempre foi um estranho naquele ninho. Tinha mais familiaridade com Jarbas, Simon e Teotônio. Mas, quando Ulysses Guimarães desapareceu no mar, o encontrei no meio da praça dos Três Poderes, vindo de um encontro com o então presidente Itamar Franco:
— O ministro da Aeronáutica nos fez um relato horrível. Disse que, pelas péssimas condições meteorológicas, nem o piloto nem os passageiros tinham noção de onde estavam quando o helicóptero caiu no mar. Não havia visibilidade.
E, à medida que fazia esse relato, sua voz ficava cada vez mais embargada e inaudível e foi aí que vi, pela primeira vez na vida, um político chorar. Eu achava que eles não sabiam chorar. Eu posso dizer: eu vi, meninos, eu vi aquele frio sertanejo chorar.
Outro encontro marcante foi na primeira posse de Lula. Vi que estava bastante emocionado. E perguntei-lhe:
— De tudo o que o senhor já passou na vida, qual é o fato político mais significativo: a sua deposição do cargo de governador, sua prisão em Fernando de Noronha, sua ida para a Argélia, seu retorno ao país, sua volta ao governo de Pernambuco, o impeachment de Collor ou a posse de Lula?
A pergunta provocou demorada reflexão de Arraes. Dava para ver pelos seus olhos que, para respondê-la, ele estava fazendo uma verdadeira viagem pela História. Depois de quase um minuto, pigarreou e respondeu com um fato de não constava da minha lista. Foi curto e grosso e eu me senti um imbecil por ter ocultado esse acontecimento:
— A morte do doutor Getúlio.
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