• Para reagir aos efeitos da Lava Jato no governo, presidente estuda substituir Padilha e dar um perfil 'técnico' à pasta que coordena as ações da equipe ministerial
Vera Rosa - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Preocupado com os efeitos das delações de ex-executivos da Odebrecht, o presidente Michel Temer quer dar uma "cara nova" ao governo após a eleição para o comando da Câmara e do Senado, em fevereiro de 2017. O plano imediato de Temer para enfrentar a crise sem fim e se manter no cargo é mexer na equipe alvejada por denúncias de corrupção, substituir ministros ineficientes em áreas sociais e investir em mais medidas para alavancar o crescimento.
A permanência do chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e do secretário do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco, é considerada incerta, apesar dos desmentidos oficiais. Temer, Padilha e Moreira foram citados na delação do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho. O nome do presidente também apareceu no depoimento de Márcio Faria, outro dirigente da construtora, à força-tarefa da Lava Jato.
Com o núcleo político do governo combalido e a popularidade despencando dia após dia, o presidente pretende repaginar a Casa Civil, dando um perfil mais técnico e mais "interno" à pasta que coordena as ações da equipe. Na outra ponta, a ideia é criar uma secretaria especial no Ministério da Fazenda, hoje comandado por Henrique Meirelles, para abrigar discussões voltadas a novas iniciativas que possam reaquecer a economia e ter impacto mais rápido no bolso do consumidor.
Embora o pacote anunciado na quinta-feira pelo governo tenha como foco o combate ao desemprego e a redução do endividamento das empresas, a avaliação do mercado financeiro é a de que essas medidas somente terão efeito a longo prazo.
"É evidente que os números da economia não são motivo de alegria, mas temos um rumo sendo construído", afirmou o líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).
O agravamento da crise, porém, aflige cada vez mais o Palácio do Planalto, que conseguiu aprovar no Senado a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Teto de Gastos, mas com oito baixas em sua base de sustentação. A semana foi marcada por tensões, choque entre Poderes e até mesmo o senador aliado Ronaldo Caiado (DEM-GO) roubou a cena ao sugerir a renúncia de Temer. O DEM comanda o Ministério da Educação. A bancada do PSB - partido que controla Minas e Energia - também se rebelou e avisou que votará contra a reforma da Previdência.
Chacoalhão. Temer vai esperar o fim da disputa na Câmara e no Senado, daqui a 45 dias, para promover as trocas no primeiro escalão. No Planalto, seus auxiliares falam em "chacoalhão" no governo, mas adversários veem na estratégia mais uma ação de marketing, em busca de sobrevivência política, a exemplo do que a ex-presidente Dilma Rousseff fez, sem sucesso, em outubro de 2015.
"Esse governo nos tirou do poder, mas o Brasil segue em crise profunda, dividido e hoje sob risco de uma convulsão social", disse o vice-presidente do Senado, Jorge Viana (PT-AC), que agiu para jogar água na fervura da briga entre o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o Supremo Tribunal Federal.
Além de mudanças na Casa Civil e na secretaria que cuida das concessões serem vistas nos bastidores como uma questão de tempo, substituições nos ministérios do Trabalho e da Saúde viraram "pule de dez" na bolsa de apostas.
PSDB. Na tentativa de contornar mais uma revolta em sua base de apoio, Temer também adiou a nomeação do líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), para a Secretaria de Governo. Ele acertou com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) que Imbassahy ocupará o lugar do ministro Geddel Vieira Lima na articulação política, mas somente depois que a Câmara escolher seu novo presidente.
Temer teve de recuar do anúncio porque depende do Centrão - grupo que reúne 13 partidos e cerca de 200 deputados - para sobreviver nesses tempos sombrios, nos quais pedidos de impeachment não faltam. Foi justamente o Centrão que se queixou da indicação de Imbassahy, pois viu ali uma manobra do Planalto para beneficiar a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara, com o aval do PSDB.
Antes mesmo das delações da Odebrecht, o presidente já havia perdido seis ministros. Geddel tinha sido o último importante auxiliar a cair, acusado de tráfico de influência em um negócio envolvendo a compra de um apartamento, em Salvador. O depoimento de Melo Filho, no entanto, provocou a queda, na quarta-feira, do advogado José Yunes, amigo de Temer e seu assessor especial. O gabinete de Yunes ficava a poucos metros do ocupado pelo presidente, no terceiro andar do Planalto.
À Lava Jato, o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht disse que parte dos R$ 10 milhõesdoados ao PMDB, na campanha eleitoral de 2014, foi entregue no escritório de Yunes, em São Paulo. Na carta de demissão, o advogado chamou a delação de "fantasiosa" e "abjeta". Temer não escondeu dos amigos que Geddel e Yunes foram as saídas mais sentidas por ele.
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