Por Assis Moreira e Daniel Rittner | Valor Econômico
DAVOS (Suíça) - Nem tão bom quanto se falava há cinco anos, nem tão ruim como muitos apontam agora. Essa avaliação, feita pelo espanhol Ignacio Sánchez Galán, resume o sentimento sobre o Brasil no Fórum Econômico Mundial. "Vamos continuar no país, apesar de todos os problemas", disse o presidente da multinacional Iberdrola, lembrando que estão mantidos os planos da empresa de energia de investir mais US$ 4 bilhões até 2020.
Apoio às investigações da Operação Lava-Jato, dúvidas sobre a capacidade de aprovação de reformas consideradas agressivas, expectativa de uma recuperação gradual da economia e muitas reclamações sobre a complexidade do sistema tributário foram comentários frequentes sobre o Brasil nos dois primeiros dias em Davos.
Uma avaliação quase consensual é que, apesar das incertezas políticas em torno do novo governo, as autoridades brasileiras souberam "vender" o Brasil melhor do que em anos anteriores. "Eles sabem falar a língua de Davos", resumiu um empresário latino-americano com operações no país, em referência ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e ao presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn.
De fato, ao iniciar uma entrevista coletiva dos dois brasileiros à imprensa internacional, um assessor do fórum dispensou apresentações. "Acho que vocês todos já os conhecem", disse. Meirelles está na sua 10ª edição. Ilan era um porta-voz habitual no evento, como economista-chefe do Itaú Unibanco, para falar sobre América Latina.
"Continua sendo um mercado com enormes potencialidades", diz o presidente da Nestlé, Peter Branbeck, com a convicção de lenta melhora da situação econômica. "Estou ligeiramente otimista."
As propostas de reformas apresentadas pelo presidente Michel Temer são bem vistas, mas poucos têm uma opinião sobre a real capacidade do governo de aprová-las no Congresso. Um empresário afirma que falta a Temer apoio popular, mas que ele parece ter base parlamentar mais sólida.
De todo modo, o tom é de cautela com as perspectivas de volta do crescimento. "Há um período entre as sinalizações e uma mudança de humor que destrave os investimentos", avalia Martín Eurnekián, CEO de aeroportos da argentina Corporación América, que administra terminais de Brasília e Natal.
Mais do que impostos altos, o que assusta é a complexidade da carga tributária. Um executivo da empresa americana de telecomunicações AT&T (controladora da Sky) fez chegar uma queixa ao governo. "Por que todo ano, quando chega meados de dezembro, nenhum dos meus contadores sabe dizer quanto preciso deixar reservado para pagar impostos?", perguntou a um ministro em Davos.
O presidente da espanhola Acciona Energia, Rafael Alcalá, cita o PIS/Cofins como exemplo de aberração tributária. "O sistema é excessivamente complexo", lamenta. A empresa tem uma fábrica na Bahia de equipamentos eólicos. Outro problema citado com frequência, diz Alcalá, é a sobrevalorização do real e seus efeitos na perda de competitividade industrial.
No fim da tarde, ministros brasileiros e empresários ficaram frente a frente no Business Interaction Group, um encontro do fórum para permitir interlocução direta entre os dois lados.
Para certa surpresa dos brasileiros, uma das primeiras intervenções foi um elogio rasgado ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). "É uma autarquia extremamente eficiente", disse Stanley Bergman, presidente da Henry Schein, empresa americana de equipamentos dentários que recentemente adquiriu sua concorrente no Brasil. "É um dos órgãos antitrustes mais eficientes que já vimos no mundo", afirmou.
Meirelles não escondeu sua satisfação. "Se alguém mais tiver comentários assim, não fique tímido", disse ele, sob risadas da plateia. "Mas, antes de fazer comentários, façam as aquisições", completou o presidente do BC.
Um executivo da Suzlon, multinacional indiana com parques eólicos instalados no Ceará, observou que um dos motivos pelos quais chegou a suspender investimentos no Brasil foi a falta de clareza sobre as perspectivas da energia eólica no país. John Nelson, presidente do conselho de administração do Lloyd's Bank, lembrou que há poucos anos o Brasil se apresentava como potencial centro de serviços financeiros na América Latina, mas a recessão acabou engavetando os planos.
O governo procurou acalmar os investidores. Meirelles e o ministro da Indústria, Marcos Pereira, falaram sobre medidas de desburocratização e simplificação. Um grande empresário brasileiro que circula no fórum concluiu: "Dá vontade de chegar ao Brasil, ligar para o Temer e implorar para ele vir a Davos em janeiro de 2018. O que não dá é para chegar aqui, prometer tanto e fazer diferente na volta. A nossa fama, acumulada nos últimos anos, é mais ou menos essa."
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