Por Arícia Martins, José de Castro, Lucinda Pinto e Silvia Rosa | Valor Econômico
SÃO PAULO - Instituições financeiras, gestoras de recursos e empresas de consultoria começam a acreditar que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o índice oficial de inflação, ficará abaixo da meta de 4,5% neste ano. Esta ainda não é a opinião predominante no mercado, mas o grupo de analistas que pensa assim vem crescendo.
De 28 consultorias e bancos consultados pelo Valor, nove já trabalham com essa hipótese, que não se materializa desde 2009, quando o IPCA ficou abaixo da meta pela última vez: 4,31%. Está sendo determinante para as revisões a surpresa favorável nas últimas coletas de preços, principalmente de alimentação e serviços. Outros itens que também subiram menos que o esperado nos últimos meses foram bens duráveis e preços administrados.
Depois da divulgação do IPCA-15 de janeiro, que avançou apenas 0,31% - menor alta para o mês desde 1994 -, o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, cortou para 4,37% sua projeção de inflação para 2017. "Tudo está indo mais rápido do que se imaginava", disse.
Uma inflação abaixo da meta coloca o Banco Central diante de dois desafios: acelerar ainda mais o ritmo de redução da taxa básica de juros (Selic), hoje em 13% ao ano, e propor ao Conselho Monetário Nacional (CMN), do qual faz parte ao lado dos ministros da Fazenda, Hen-rique Meirelles, e do Planejamento, Dyogo Oliveira, a redução da meta de 2019, a ser anunciada em meados deste ano.
Não há ainda uma decisão, mas a tendência é o BC aproveitar o forte recuo da inflação para propor a diminuição da meta. Como a meta de um ano é sempre fixada dois anos antes, a redução do objetivo a ser perseguido ajudaria a levar as expectativas dos agentes econômicos para o novo patamar, mais baixo, o que, por sua vez, seria feito a um custo menor em termos de política monetária.
O presidente do BC, Ilan Goldfajn, declarou há dois dias que a meta poderia cair para 3%, mas isso não seria para 2019. O Valor apurou que ele pensa, na verdade, em um prazo de dez anos para atingir esse objetivo. A preocupação é evitar um custo muito alto, em termos de atividade econômica, na busca por uma inflação mais baixa neste momento.
Previsão de inflação inferior a 4,5% este ano ganha corpo
Embora ainda não seja cenário dominante, mais economistas estão revendo suas projeções e avaliam que a inflação vai ficar abaixo da meta, de 4,5%, em 2017. De 28 consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor, nove já contam com essa hipótese, algo que não ocorre desde 2009, quando o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 4,31%.
Foi determinante para as revisões, de acordo com analistas, a surpresa favorável com os últimos dados de inflação, em especial com os números de alimentação e serviços. Outros itens que subiram menos que o esperado nos últimos meses, avaliação que não é consenso, foram os bens duráveis e os administrados.
Depois da divulgação do IPCA-15 de janeiro, que avançou apenas 0,31% - menor alta para o período desde 1994 - o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, cortou a 4,37% sua estimativa para o aumento do IPCA em 2017. "Tudo está indo mais rápido do que se imaginava", afirma Gonçalves, referindo-se à descompressão dos preços de serviços, alimentos e itens administrados.
É "bastante razoável" projetar que os serviços, que aumentaram 6,48% em 2016, encerrem esse ano com variação abaixo de 5%, diz. "O mercado de trabalho arrebentou a demanda por serviços das famílias", disse o economista, para quem os dados de emprego só devem se estabilizar ao fim deste ano. Ontem, o IBGE informou que o número de desocupados no quarto trimestre de 2016 atingiu o recorde de 12,3 milhões de pessoas.
Do ponto de vista da atividade, o quadro é propício para desaceleração dos preços, avalia Nelson Rocha, presidente do Banco Ribeirão Preto (BRP). Ao contrário do que muitos analistas e o próprio governo preveem, Rocha acredita que o Produto Interno Bruto (PIB) não vai parar de cair já neste primeiro trimestre. "A taxa de juros real cresceu, o lado fiscal tem sido extremamente contracionista e vários setores da economia estão fazendo cortes dramáticos, como os bancos."
Motivado pela dinâmica ainda ruim da economia no curto prazo, mas também pelos preços de alimentação e de administrados mais comportados, Rocha revisou ontem, de 4,45% 4,35%, sua previsão para o taxa anual do IPCA. "Tivemos que ser um pouco conservadores nessa projeção, porque o Brasil tem mecanismos de inércia e indexação. Se fôssemos trabalhar item por item, poderíamos chegar a uma inflação menor do que essa". Dessazonalizada e anualizada, a inflação do último quadrimestre é de apenas 3,3%, calcula o economista.
André Muller, da AZ Quest, reduziu em 0,5 ponto a estimativa para o aumento do IPCA em 2017, que caiu para 4,4% na última semana. Dentro da nova projeção, o grupo alimentação e bebidas deve registrar inflação de 4,7% - a menor para o segmento desde 2009. No ano passado, esses itens subiram 8,6%. A apreciação recente do câmbio, que reduz as cotações de commodities no mercado interno, e as safras agrícolas mais robustas serão os responsáveis pela perda de fôlego, disse.
Considerando apenas os preços de alimentos consumidos em casa, a estimativa é de alta de 3,7% para este ano, afirma Elson Teles, do Itaú. Caso essa taxa seja zerada - cenário que avalia como provável, depois de dois anos seguidos em que o grupo foi afetado por choques de oferta - a previsão para o IPCA no ano cairia dos atuais 4,7% para um número mais perto de 4%, diz.
Nos demais preços livres, as surpresas favoráveis nos indicadores de inflação têm sido menores, pondera Teles, mas a atividade fraca está contribuindo para reduzir a inflação de serviços e de bens industriais, que devem terminar 2017 em 5,3% e 3,5%, respectivamente. A taxa de câmbio, que teve apreciação de 5% entre dezembro e janeiro, na média, também é outro vetor de alívio inflacionário, acrescenta. Tendo em vista todos esses fatores, a estimativa do Itaú para o IPCA está com viés de baixa.
Gonçalves, do Fator, também menciona o real mais forte em relação ao dólar como outra surpresa inflacionária. Em sua avaliação, o Banco Central está usando o câmbio para ancorar as expectativas de inflação, estratégia que tem funcionado.
Com ajuda da trajetória recente do câmbio, mas principalmente devido à demanda em queda, bens de consumo duráveis - que representam cerca de 9% do IPCA - vão registrar deflação de 0,8% em 2017, diz Muller, da AZ Quest, depois de subir 1,3% em 2016.
"Vendo a ociosidade na economia e o desemprego crescendo a 13%, vamos demorar bastante para falar sobre uma possível pressão da atividade sobre a inflação", diz Muller, para quem o PIB terá crescimento nulo este ano. (Colaborou Camilla Veras Mota, de São Paulo)
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