- Folha de S. Paulo
O Ministério Público Federal denunciou Sérgio Cabral sob acusação de 184 crimes de lavagem de dinheiro, nesta terça (14). Foi a quarta denúncia contra o ex-governador, acusado de ter levado propina em praticamente todas as grandes obras que aconteceram enquanto estava no cargo.
O vice que esteve com ele durante os sete anos de mandato, no entanto, "não via este lado dele", segundo disse em entrevista a Bernardo Mello Franco, nesta Folha. "Nunca vi isso, nunca percebi. Para mim, é uma grande surpresa", disse Pezão.
Acreditar em tal assertiva demanda uma imensa suspensão da descrença, até porque Pezão não era apenas vice e correligionário, mas amigo de Cabral, tendo frequentado os luxuosos imóveis do atual presidiário e testemunhado seu padrão de consumo incompatível com o de um político honesto que vive apenas do salário.
Pressionado a explicar tal incongruência, Pezão lembrou que "a Adriana tinha o escritório dela...", outra possível fonte de renda. É verdade. A mulher de Cabral tem seu escritório de advocacia, que foi outro canal de recebimento de propina, segundo o MPF —motivo por que a ex-primeira-dama também está na cadeia. "Aí eu não vou entrar na vida pessoal deles", disse o governador.
Tal cegueira não inspira confiança em sua aptidão para o Executivo, mas conceda-se o benefício da dúvida. Mais difícil é perdoar a incapacidade do governador de recriminar a roubalheira. "Não sou eu que tenho que julgar as pessoas", disse Pezão.
É sim, governador. Se o senhor não for capaz de julgar os que escolhe como aliados políticos, põe em risco toda a administração do Estado e, por extensão, a população. Vide a ruína atual do Rio.
Arrisca-se também a atolar no lamaçal e acabar sendo colocado sob suspeita de fazer parte da quadrilha. Exatamente como lhe sucedeu.
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