quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Lula no deserto da turma do poder - Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

O prestígio de Michel Temer baixa. O de Lula sobe, ainda que pelas beiradas do balde de desprezo em que os políticos estão a boiar, se tanto.

Os tucanos, pior ainda, afundam na água turva da política como o eleitorado a vê.

Pesquisas de popularidade e voto dizem nada sobre a eleição distante, mas indicam que, no curtíssimo prazo:

1) Lula será caçado;

2) Há espaços de sobra na feira já agitada de especulações de pré-candidaturas a presidente;

3) O "bloco de poder" terá muitos problemas em 2018, pois suas figuras de proa, já carcomidas, vão atravessar um deserto socioeconômico.

A rejeição ao governo aumenta desde que Temer assumiu, em junho, segundo pesquisa encomendada pela CNT. As pesquisas de outubro de 2016 e fevereiro confirmam a tendência captada pelos Datafolha de julho e dezembro de 2016.

Lula venceria a eleição de presidente contra qualquer candidato. Aécio Neves e Geraldo Alckmin estão na sombra das trevas de Jair Bolsonaro, empatados.

Lula, por ora, está mais vivo que os tucanos. Pouco pode fazer para evitar condenações na Justiça além de uma campanha nacional a fim de recauchutar um tanto de sua imagem, o que seria bastante ao menos para fazer de sua prisão um problema, dado que haveria um risco aumentado de comoção.

O mero risco de que não se torne inelegível deve ser um incentivo para que Lula seja mais atacado. Entre o Carnaval e a Semana Santa, deve dizer ao PT o que fará da vida.

O PT não sabe o que fazer. Está em um impasse, entre uma burocracia presa a seus cargos e à podridão do partido e parlamentares que plantam nos jornais ameaças de que vão dar o fora.

No Datafolha ou na CNT, o governo Temer é desaprovado (ruim ou péssimo) por praticamente metade dos eleitores. Seus aliados tucanos maiores descem juntos a ladeira, mesmo desde antes o impeachment.
Nenhuma surpresa.

Mesmo antes da deposição de Dilma Rousseff, três em cinco eleitores queriam eleger um novo presidente, diretas-já. O país está no terceiro ano de recessão. Não há plano, econômico ou outro, que inspire ânimo na população, o que já se viu em momentos de economia avariada. Nunca é apenas "a economia, seu burro".

A memória de crescimento dos anos Lula piora a sensação de horror econômico, ainda mais agora que, para muito povo comum, "é todo o mundo ladrão mesmo".

A previsão mediana para 2017 é de economia estagnada. Para 2018, de crescimento de 2,3%. Não se recupera assim nem o tombo de 2017. O problema nem é apenas esse.

No caminho, o governo pretende mudar as leis da Previdência e do trabalho. Não importa o que se pense no assunto, a impressão e o efeito dessas reformas no curto prazo são politicamente ruins.
O eleitorado diz e repete que quer caras nacionais novas ou que tenham escapado da moenda recente.

Essas pesquisas devem incentivar o lançamento de balões, como Carmen Lúcia outro dia e, agora, até João Doria, prefeito de São Paulo, e Raul Jungmann, ministro da Defesa.

Também deve animar estudos precoces de viabilidade de nomes como Henrique Meirelles, há mais tempo na feira política, de Ciro Gomes, que acaba de se lançar, ou de Geraldo Alckmin, que está para começar campanha pelo Nordeste, antes que seja tarde demais.

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