- O Globo
Há pouco mais de um ano, o dólar atingiu a marca de R$ 4,15. Ontem, a moeda americana ficou abaixo de R$ 3,10 pelo segundo dia consecutivo. O pico que houve em 21 de janeiro do ano passado foi num período de forte desconfiança com o Brasil. O risco-país havia atingido 505 pontos três dias antes. Hoje, ele está na faixa de 220. Isso tem ajudado a fortalecer o real.
Vários fatos contribuem para essa reversão do dólar. Um deles é a alta dos preços das commodities, mas o mais determinante no fortalecimento do real é a melhora na percepção de risco.
O Credit Default Swap (CDS) é uma espécie de seguro contra calotes dos países. Quanto se paga para comprar uma cobertura para o risco de se carregar papéis do governo. O gráfico mostra a correlação entre a percepção de risco que se tem de uma economia e a taxa de câmbio. No auge das incertezas, tanto na economia quanto na política do Brasil, esse número disparou, levando junto a taxa de câmbio. Com a troca de governo e o aumento gradativo da confiança na nova equipe econômica, houve queda do CDS e do dólar.
O economista Walter Maciel, CEO da AZ Quest, acredita que o país vive um momento único de transição. Ele tem uma visão positiva da conjuntura política e econômica, e diz que o mercado começa a enxergar essas mudanças.
— Acho que o Brasil vive um momento extraordinário do ponto de vista institucional. Pela primeira vez na história, acho que é possível o país fazer uma travessia de um Estado muito patrimonialista para um outro que vai ter que crescer via iniciativa privada. Hoje, eu começo a acreditar que para investir aqui o que vai prevalecer são os bons projetos, e não a influência política.
Nem todo mundo tem uma visão assim tão otimista, mas em geral, no mercado, o que é visto é o movimento das reformas e não a confusão política que está sempre associada ao governo Temer.
Um ponto mais concreto é a alta dos preços das commodities. O minério de ferro voltou à casa dos US$ 90 — o que tem impulsionado a Vale na bolsa — mas também houve crescimento da soja e de vários produtos agrícolas. Com isso, aumenta a perspectiva de entrada de moeda no país via exportações.
O economista Sílvio Campos Neto, da Tendências, diz que a alta do real foi mais intensa até do que a de outras moedas de países exportadores de matérias-primas. Desde dezembro, a valorização chega a 12%, empatando com o rublo russo, mas acima do rand sul-africano (7,5%), peso colombiano (6,9%), peso chileno (5%) e dólar australiano (3,1%).
— Quando a percepção de risco de um país melhora, a moeda se fortalece. Além disso, também houve o aumento dos preços das commodities — disse.
José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), explica que o setor exportador está preocupado, porque a exportação de manufaturados perde competitividade quando o real se fortalece. Por outro lado, explica, o aumento dos preços das matérias-primas melhora o PIB da América do Sul, que é destino de vários de nossos produtos industrializados:
— O Brasil voltou a liderar o índice Big Mac, que faz uma comparação internacional de preços do sanduíche, de acordo com o peso de cada moeda. Isso mostra que o câmbio está tirando competitividade do país.
O enfraquecimento da moeda americana ajuda a derrubar ainda mais a inflação, o que leva à redução dos juros. Dólar sobe e desce, mas a tendência tem sido de queda, o que é bom principalmente porque em parte é determinado pela diminuição do risco-país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário