terça-feira, 18 de abril de 2017

Lula sofre 'nova leva' de desencanto na esquerda com delações da Odebrecht

Thais Bilenky | Folha de S. Paulo

Com acusações de delatores da Odebrecht como a de que a empreiteira destinou um saldo de R$ 40 milhões de propina ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o petista sofre uma nova leva de desencanto entre intelectuais e jornalistas da esquerda.

Alguns mantêm seus comentários em grupos reservados. Admitem que a defesa de Lula arrefeceu, embora opinem que ele ainda tem um caminho a percorrer na defesa de direitos do povo.

Outros manifestam publicamente a frustração. "Lula foi o melhor presidente que esse país já teve, sem dúvida, e isso não muda", disse a psicanalista Maria Rita Kehl, simpatizante do PT, que então reconheceu: "É claro que é muito decepcionante que ele tenha sido delatado na Lava Jato".

Para ela, a frustração é com "a pessoa" do Lula —"ele não era uma pessoa tão bacana e tão íntegra". Mas não com o governante —"não muda que ele tenha feito um governo espetacular", afirmou.

Como relatou o colunista da Folha Clóvis Rossi, o linguista americano Noam Chomsky fez críticas à esquerda latinoamericana e especificamente à brasileira.

"É simplesmente doloroso ver que o Partido dos Trabalhadores no Brasil ""que implantou medidas significativas"" simplesmente não pôde manter as mãos fora da caixa registradora. Juntaram-se à elite extremamente corrupta", afirmou, ao programa "Democracy Now".

Delatores da Odebrecht disseram que a empresa pagou mesadas ao irmão do ex-presidente, ajudou o seu filho a impulsionar a carreira e reformou um sítio como presente ao ex-presidente, entre outras menções.

Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira, disse que, a pedido de Antonio Pallocci, foi aberta uma conta para "atender demandas que viessem de Lula". Inicialmente, falou em R$ 35 milhões. Depois, em R$ 40 milhões.

O site "The Intercept Brasil", cofundado pelo jornalista Glenn Greenwald, escreveu um texto intitulado de "O amigo de 35 milhões".

Nele, diz que as acusações são graves "a ponto de, eventualmente, impedir sua candidatura à Presidência no ano que vem, caso seja condenado pelo juiz Sergio Moro e tenha a sentença confirmada em segunda instância".

A assessoria do ex-presidente afirma que ele desconhece a conta com milhões de reais que teria sido aberta para seu uso. Segundo a assessoria de Lula, os depoimentos "estão sendo manipulados para falsificar a história do governo Lula".

No mensalão, alianças com empresários e concessões políticas em troca de governabilidade fizeram fundadores do PT deixarem a sigla. Desta vez, a alegada contradição entre discurso e prática foi a gota d'água.

"Eu conheço o Lula, nunca vi ele levar vantagem pessoal. É claro que se envolveu nos negócios do Estado e das empresas, porque elas têm uma relação muito próxima do Estado, como FHC, como todos, é uma coisa complicada", afirmou o economista Luiz Gonzaga Belluzzo.

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