terça-feira, 18 de abril de 2017

Temer: é ‘muito provável’ que ministros ‘fiquem desconfortáveis e saiam’

Palácio aposta, porém, nas regras de afastamento criadas em fevereiro

Eduardo Barretto e Leticia Fernandes | O Globo

-BRASÍLIA- O presidente Michel Temer afirmou ontem pela manhã à rádio Jovem Pan que ministros citados na delação da Odebrecht podem deixar o governo, caso “achem que não possam continuar”, mas reiterou que não os demitirá. Desde a divulgação da lista de pedidos de inquéritos pelo relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, Temer tem dito que o país não pode ficar paralisado:

— É muito provável que alguns ministros achem que não possam continuar, fiquem desconfortáveis e saiam. Mas tenho um vício que é o vício de cumprir a ordem jurídica.

Temer qualificou os depoimentos de ex-executivos da Odebrecht, base da lista de Fachin, como “absolutamente estarrecedores”, “desagradáveis” e “preocupantes”, destacando que eles mancham a imagem do Brasil inclusive no exterior.

Apesar de ter dito que considera “muito provável” a saída de alguns dos oito ministros alvos de inquéritos no STF, Temer não recebeu nenhuma manifestação de desconforto de qualquer um deles. A avaliação no governo é que, como Temer definiu as “regras do jogo” em fevereiro, ao estipular que apenas ministros denunciados seriam demitidos, os ministros estão “confortáveis” em permanecer no cargo, assim como o presidente em mantêlos à frente de suas pastas.

Segundo um interlocutor do Planalto, nenhum ministro está se sentindo “patinho feio” ou sendo pressionado a deixar sua função. Nem por Temer, nem pela sociedade, que está preocupada, segundo ele, com a reforma da Previdência e outros temas polêmicos.

— Não tem ministro com carta de demissão pronta. Hoje ninguém se sente o patinho feio, estão todos cisnes por conta da vacina dada pelo presidente em fevereiro — disse.

Outro assessor do Planalto conta que a fala de Temer é apenas um discurso para a sociedade, mas pontua que não há pressão real nas ruas para que ministros citados sejam tirados do cargo.

“MUITO CONFORTÁVEIS”
Além disso, os ministros mais próximos ao presidente são os que têm citações mais robustas nos inquéritos, e está descartada a possibilidade de mudança na linha de corte para demitir alguém da cúpula.

— A sociedade não está gritando “Fora, Moreira!” ou “Fora, Padilha!”. Você tem “Fora, Temer!” e “Fora, tudo!”, menos “Fora, ministros!”. O presidente e os ministros estão muito confortáveis. Até porque, se mudar o critério tem que demitir todo mundo. E como demitir os mais próximos e achar oito substitutos? Não é simples — afirmou esse assessor.

Temer foi citado em dois inquéritos, mas não pode ser investigado por atos anteriores ao mandato, segundo ressaltou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Portanto, tem “imunidade temporária”. Contudo, oito ministros do governo — dois do Palácio do Planalto, Eliseu Padilha e Moreira Franco — serão investigados. Eles só serão afastados temporariamente quando o Ministério Público oferecer denúncia à Justiça. Se a denúncia for aceita, eles virarão réus e saem dos ministérios definitivamente. Essa “linha de corte” foi definida por Temer em fevereiro, e agora defendida como “vício” em seguir a lei.

Temer disse que “jamais” fez pacto com os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique para blindar a classe política de investigações da Operação Lava-Jato. Na entrevista, Temer afirmou que só tratou com os antecessores sobre a reforma política.

— Hoje mesmo o ex-presidente Fernando Henrique disse que não tem conversa nenhuma nessa direção. E não tem mesmo. Isso tudo ocorreu porque fomos fazer uma visita, tendo em vista um doloroso acontecimento que envolveu o ex-presidente Lula — declarou Temer, referindo-se a um encontro em função da morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia, em fevereiro.

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