Um pouco por coincidência, muito por fragilidade institucional, uma sucessão de crises e conflitos eclodiu na América do Sul ao longo dos últimos dias.
Os fatos mais graves, de novo, ocorreram na Venezuela, já vitimada por um colapso da economia —contração estimada em 10% no ano passado e inflação a caminho dos quatro dígitos.
Lá, o regime chavista ensaiou um golpe de Estado, com o fechamento, na prática, do Legislativo. A pressão internacional levou o governo de Nicolás Maduro a recuar, o que agora anima a oposição a promover manifestações de rua.
No Equador, o candidato governista à Presidência, Lenín Moreno, venceu a eleição por estreita margem, e o postulante derrotado, Guillermo Lasso, fala em fraudes e contesta o resultado do pleito.
No Paraguai, protestos violentos foram desencadeados por uma manobra parlamentar patrocinada pelo presidente Horacio Cartes, que aliou-se à oposição de esquerda para votar, sem a participação de outros partidos, emenda que permitiria a reeleição do mandatário.
A Constituição veda tal possibilidade, em consequência da traumática experiência da ditadura de 35 anos sob o comando do eterno presidente Alfredo Stroessner.
Em graus variados, os três países —bem como grande parte do continente, incluindo Brasil e Argentina— viveram na década passada um período de prosperidade material e redução da desigualdade sob o comando de governos à esquerda, democraticamente eleitos.
Sem desconsiderar iniciativas meritórias de políticas públicas, que existiram, o bom desempenho amparava-se num vigoroso ciclo de alta dos preços das commodities, como são chamados os produtos agrícolas e minerais negociados no mercado global.
Com o advento da crise internacional, e o menor apetite da China por importações, os problemas começaram a aparecer —e forças políticas ao centro e à direita puderam explorar os equívocos acumulados nos tempos de bonança.
É natural que nas democracias os diferentes grupos se alternem no poder ao sabor dos ventos econômicos. No caso sul-americano, entretanto, as tensões se exacerbam porque as instituições são deficientes em vários dos países.
Onde elas são mais frágeis (ou foram mais corrompidas), os impasses podem se arrastar sem solução. O exemplo mais evidente é o da Venezuela, em que não se pode excluir a hipótese de um desfecho sangrento para o chavismo.
O subcontinente como um todo ainda claudica no rumo ao desenvolvimento que combine progresso social, responsabilidade econômica e primado do Estado de Direito.
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