Integrantes do PSOL, PT e movimentos sociais articulam novo modelo de partido com base no espanhol Podemos
Ricardo Galhardo, O Estado de S. Paulo
Integrantes do PSOL, do PT e de movimentos sociais como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) articulam a criação de uma alternativa política que possa ampliar o alcance atual dos partidos de esquerda. Alguns participantes comparam a articulação ao Podemos, partido político espanhol que surgiu no espaço deixado pelas legendas tradicionais depois da crise econômica global iniciada em 2008.
No domingo passado, atendendo a uma convocação do líder do MTST Guilherme Boulos, cerca de 40 pessoas participaram de uma reunião em São Paulo na qual ficou acertada a realização de um ciclo nacional de debates com o objetivo de elaborar um programa de governo que seria a base para outros passos do movimento.
“Muitos países da América Latina têm feito coisas parecidas. O Podemos, na Espanha, também”, disse Pablo Capilé, do coletivo Mídia Ninja. A comparação com o partido espanhol vem do formato aberto dos debates e da participação de agentes da sociedade civil que nunca disputaram eleições. Segundo Capilé, a Mídia Ninja vai dispor uma plataforma online para que cidadãos de todo o País possam participar das discussões.
Durante a reunião alguns participantes chegaram a falar de cenários eleitorais com e sem a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não foi convidado. Segundo relatos, o professor Valério Arcary disse que, “se Lula não for candidato, haverá um inverno siberiano” e será o início de “uma longa travessia para recompor a esquerda”. Procurado, Arcary não respondeu ao contato do Estado.
A repercussão posterior ao encontro também foi grande. O ex-deputado Milton Temer distribuiu texto defendendo que, sem Lula na disputa, o PSOL abra mão de lançar candidato próprio à Presidência e forneça uma “filiação democrática” a Boulos para que o líder dos sem-teto seja candidato ao Planalto. Procurado, Milton também não respondeu.
Pós-PT. Integrantes da corrente majoritária do PT, Construindo um Novo Brasil (CNB), viram no movimento sinais de que a ala à esquerda se prepara para deixar o partido.
Participantes da articulação negam que o objetivo seja criar uma nova legenda. O ex-ministro da Justiça Tarso Genro, que esteve na reunião, disse que uma comparação possível é com a esquerda de Portugal.
Ao contrário do Podemos, que se recusou a fazer aliança com o tradicional PSOE na Espanha e perdeu espaço, os movimentos da nova esquerda portuguesa conseguiram deixar de lado as diferenças e criaram uma frente única que venceu as eleições, a Geringonça, criada em 2015. “Acho que a nossa analogia, hoje, é mais com o que ocorre em Portugal do que com a Espanha”, disse Tarso.
Nesse caso, o objetivo seria criar condições para que um eventual novo governo Lula fosse mais à esquerda do que os dois primeiros. A reunião de domingo passado não foi a primeira. Desde o impeachment de Dilma Rousseff, setores da esquerda têm se reunido para pensar alternativas, até mesmo com a participação formal do PT. “O PT se reaproximou bastante dos movimentos sociais e acha importante ter uma ação unitária”, disse o ex-presidente nacional da legenda Rui Falcão.
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