Para fundador do PSDB, partido tem dificuldade de definir posição
Fernanda Krakovics, O Globo
Principal liderança do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem dado sinais trocados desde que a crise que atinge o governo Michel Temer se agravou com a delação da JBS. A defesa de FH da antecipação de eleições gerais, por exemplo, pegou seu partido de surpresa e não foi bem recebida entre os tucanos. A guinada aconteceu três dias depois de o PSDB ter mantido o apoio à gestão peemedebista.
— Isso é fora de propósito, não há como fazer eleições gerais. Isso aqui não é regime parlamentarista, que o gabinete cai — disse um integrante da Executiva Nacional do PSDB.
Em texto enviado ao GLOBO, no último dia 15, o ex-presidente defendeu que seria um “gesto de grandeza” de Temer pedir a antecipação de eleições gerais. FH começa dizendo que sua percepção sobre a situação política do Brasil tem sofrido “abalos fortes”. Para ele, falta “legitimidade” a Temer para governar. Diante desse cenário, o ex-presidente diz ter mudado sua opinião de que seria um golpe a convocação de eleições antes do término do mandato de Temer, em 2018.
Um dos fundadores do PSDB, o ex-deputado Arnaldo Madeira disse discordar da proposta de antecipação das eleições. Mas comenta que o partido tem dificuldade de definir posição:
— Do ponto de vista de posicionamento político, o PSDB sempre teve dificuldade de definir claramente o que é. O partido não consegue ter posição clara sobre as questões fundamentais do país.
No final de maio, Fernando Henrique avaliou, a dois interlocutores, que Temer não conseguiria se manter até o fim do mandato. Por outro lado, FH afirmou a pessoas próximas que o PSDB não podia “trair” Temer. Na mesma época, o ex-presidente ligou para o peemedebista e o aconselhou a “resistir”.
Dois dias antes, o tucano havia publicado um texto em suas redes sociais argumentando que, caso as alegações da defesa dos implicados na delação da JBS não fossem convincentes, eles “terão o dever moral de facilitar a solução, ainda que com gestos de renúncia”.
Procurado, o ex-presidente não quis falar. Uma pessoa próxima a ele disse que FH teria mais liberdade para manifestar opiniões, já que não possui um cargo formal no comando partidário. Ele é presidente de honra do PSDB.
Secretário-geral do partido, o deputado Silvio Torres (SP), ressaltou: FH defende que o PSDB ainda sustente o governo. E minimizou a divulgação do texto:
— Ele não está envolvido no dia a dia do partido. Ele olha de fora e cada hora vê uma coisa.
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