- O Estado de S.Paulo
Nesta quinta-feira, o Conselho Monetário Nacional (CMN) tem reunião para definir a meta de inflação de 2019.
Aos desavisados, este pode parecer assunto árido e sem aplicação prática. Mas não é assim, estão em jogo orçamentos domésticos e o patrimônio dos brasileiros. Juros são o principal preço do dinheiro e ter boas indicações de quanto ele valerá, e em que moeda, num prazo de dois anos é parâmetro importante para administração das finanças públicas e privadas.
O sistema de metas de inflação prevê que o governo federal, por meio do Conselho Monetário Nacional, defina quanto de inflação pretende chegar ao final de cada ano. Cumpre ao Banco Central manejar a política monetária (política de juros) para empurrar a inflação para dentro da meta. Desse Conselho fazem parte os ministros da Fazenda e do Planejamento mais o presidente do Banco Central. Mas quem faz a proposta que é submetida aos votos dos três é sempre o ministro da Fazenda.
Até 2018, a meta é 4,5%, com uma válvula de escape de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo, que é para acomodar imponderáveis. Ou seja, até 2018, a inflação pode chegar aos 6% e não deve ficar abaixo dos 3,0%. A meta está nesse nível desde 2005 e só foi cumprida em 2006, 2007 e 2009 (veja o gráfico), para grave prejuízo da credibilidade do Banco Central e da luta contra a inflação.
A ideia agora é baixá-la em 0,25 ponto porcentual para 4,25% em 2019. Mas há boas razões para que o governo seja mais ousado. Vamos a elas.
A proposta de ficar nos 4,25% baseia-se em duas razões. A primeira olha para o nível de incerteza da economia insuflado pela crise política e pelas novas dúvidas que pairam sobre a aprovação das reformas. São fatores potencialmente geradores de inflação que precisam ser levados em conta para que a meta tenha credibilidade e para que o Banco Central conte com mais condições de gerenciar as expectativas dos marcadores de preços.
A segunda razão tem a ver com juros. Quanto mais baixa for a meta, mais altos têm de ser os juros para garantir seu cumprimento. Como o que se pretende agora é alavancar o crescimento econômico e o emprego, seria também desejável que os juros pudessem ser mais baixos.
A essas boas razões se podem contrapor outras, para que a meta caia um pouco mais, para 4,0% ao ano. A primeira tem a ver também com juros mais baixos, argumento que defenderia meta mais ampla, como ficou dito. Como este Banco Central conseguiu reunir forte capital em credibilidade, a meta de inflação de 4,0% contribuiria para que o mercado calibrasse seu jogo a juros de longo prazo também mais baixos.
Outro argumento: quando surgiu a ideia de corte da meta de apenas 0,25 ponto porcentual ao ano, a expectativa de inflação era mais alta. Era de 4,5% em 2017 e em 2018. No momento, a expectativa é de 3,8% e de 4,4%, respectivamente, portanto já abaixo dos 4,5%. Fixar meta mais alta parece perda de um bom momento histórico para ajudar a derrubar ainda mais a inflação. Até faria sentido fixar meta mais baixa do que a inflação em curso e do que a prevista para mais de um ano depois. Mas o que está sendo proposto agora é uma meta alta demais em relação à inflação esperada. É como o comportamento idiota do lutador de boxe que resolve aliviar as pancadas justamente quando o adversário está grogue, prontinho para desabar a nocaute.
Vale também avaliar o comportamento dos juros reais. Se a inflação deste ano ficar em torno dos 3,5%, juros básicos (Selic) de 8,5%, que é o número que está nos demonstrativos, implicam, numa conta de padeiro, operar com juros reais de 5%, altos demais.
Não há elementos para calcular os juros reais de 2018 e 2019. Se houver indicação sólida de que possam cair, então parece melhor acenar com isso desde já.
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