O carnaval é, ao lado do réveillon e do Rock in Rio, um dos três maiores eventos da cidade
O prefeito Marcelo Crivella anunciou que cortará pela metade a verba destinada a cada uma das 13 escolas de samba do Grupo Especial — de R$ 2 milhões para R$ 1 milhão. Alegou que precisará do dinheiro para aumentar o valor da diária — de R$ 10 para R$ 20 — das 12 mil crianças mantidas nas 158 creches conveniadas do município. A subvenção da prefeitura corresponde hoje a cerca de 25% do orçamento de uma escola com o carnaval. Como, em tempos de crise, patrocínios costumam minguar, os recursos certamente farão falta aos sambistas.
A notícia surpreendeu o mundo do samba. Até porque, no ano passado, quando disputava a eleição para prefeito do Rio, o então candidato Marcelo Crivella (PRB), bispo licenciado da Igreja Universal, recebeu o apoio do presidente da Liesa, Jorge Castanheira, e de representantes das escolas. No encontro, em que chegou a cantarolar antigo samba do Salgueiro, prometeu que não mexeria no carnaval.
Mas, ao assumir, em 1º de janeiro, Crivella já não mostrou o mesmo entusiasmo com a festa profana. Em seu primeiro carnaval como prefeito do Rio, negou-se a passar ao Rei Momo as chaves da cidade, rompendo tradição de anos. Também não compareceu ao Sambódromo, como faziam seus antecessores. Quando aconteceram os acidentes com os carros alegóricos da Paraíso do Tuiuti, na noite de domingo, e da Unidos da Tijuca, na segunda-feira — que vitimaram 35 pessoas — a autoridade máxima da cidade estava ausente.
Convém lembrar que, independentemente de suas crenças, Crivella foi eleito para um cargo laico. E, como prefeito do Rio, precisa dar ao carnaval a importância que a festa merece. Não se discute a relevância de aumentar os recursos destinados às creches. Mas o raciocínio não pode ser tão simplório.
Segundo números da Riotur, o carnaval deste ano atraiu 1,1 milhão de turistas ao Rio e movimentou R$ 3 bilhões na economia da cidade. A ocupação média da rede hoteleira ficou em torno de 80%. Esse impacto positivo não é sentido apenas nos hotéis, mas também em bares, restaurantes, comércio etc. Além disso, a Cidade do Samba, onde são confeccionadas as alegorias, emprega centenas de pessoas o ano inteiro. Portanto, a subvenção dada ao carnaval é uma forma de investimento.
É claro que, por se tratar de verba pública, as escolas precisam prestar conta desses recursos. E o Ministério Público faz bem quando cobra explicações sobre a aplicação do dinheiro. Quanto mais transparência, melhor.
Mas a prefeitura não pode perder de vista que o carnaval é, ao lado do réveillon e do Rock in Rio, um dos três maiores eventos da cidade, que, aliás, carece deles. É nossa grande marca, um de nossos maiores ativos. Não por acaso, foi destaque nas festas de abertura e encerramento da Olimpíada, transmitidas para 3 bilhões de espectadores no mundo inteiro. Carnaval não é apenas fantasia. É um grande negócio para o Rio.
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