- Folha de S. Paulo
Parcelas da elite brasileira engajam-se numa guerra que ruma para o impasse. Ninguém mais avança, pois a linha de defesa do polo mais fraco, a Presidência e o Congresso, está prestes a fixar-se em trincheiras inexpugnáveis.
Não se derruba facilmente um presidente da República no Brasil de hoje. Não bastam as acusações graves contra o mandatário, a sua impopularidade vultosa, a carga pesada da Procuradoria, abonada pela maioria do Supremo, ou a manifestação de grupos de imprensa pela sua queda.
É necessário cumprir o rito constitucional, que passa, com a exceção da via já bloqueada do TSE, por obter 342 dos 513 votos na Câmara. Se 1/3 dos deputados entrincheirar-se com Temer, não haverá afastamento nem deposição.
É triste constatar que os generais no comando da ofensiva contra Temer deram pretexto e argumento para a aliança cínica de proteção ao presidente inviável.
Procuradores tornam-se líderes declarados de cruzada contra "tudo o que está aí" na política. Juízes da corte constitucional suspendem prerrogativas obtidas nas urnas, contornando o que a Carta expressa, como se fosse ato banal.
Para abater o inimigo, o procurador-geral dá imunidade a um dos maiores corruptores da história. O Supremo diz que é isso mesmo e nada pode fazer diante de um acordo de delação. Criou um monstro inquisidor capaz de tudo devorar.
Temer olha em volta e detecta parlamentares atônitos em busca de proteção. Acena com a nomeação breve do novo procurador-geral e com mudanças na Polícia Federal. Mostra os braços financeiros e regulatórios do Executivo a sufocar empresas dos delatores de políticos.
Cava-se, desse modo, a última trincheira presidencial. A guerra não acaba, mas vai destruindo os liames de confiança sem os quais nenhuma nação prospera.
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