A promessa de futuro trazida pelo crescimento de 1% do Produto Interno Bruto no primeiro trimestre se transformou rapidamente em passado com as incertezas criadas pelo agravamento da crise política. O resultado, o primeiro positivo em oito trimestres, era amplamente esperado pelo salto da agricultura (13,4%), que superou as melhores expectativas. Mas nada está assegurado daqui para frente, apesar do suspiro oficial de alívio do governo. Os números divulgados pelo IBGE não melhoraram as perspectivas de crescimento para o ano - com base neles, houve até várias revisões para baixo. À previsão de uma recuperação lenta e modesta foi acrescentado agora um viés de baixa.
Os fatores positivos para o crescimento no primeiro trimestre em relação ao último de 2016 - na comparação com o mesmo período do ano passado, o PIB declinou 0,4% - não deverão se repetir com a mesma intensidade. A indústria cresceu 0,9% de um trimestre para outro, mas os últimos dados indicam que deverá haver recuo no segundo trimestre. O setor de serviços, que determina 73,3% do resultado do PIB, estabilizou-se agora, em um nível que é, porém 1,7% inferior ao do primeiro trimestre de 2016. A forte contenção do crédito e a diminuição da demanda por produtos derrubou a intermediação financeira (-4% na comparação anual e -1,2% na sequência trimestral). É possível esperar alguma reação nos próximos meses, diante da redução dos juros e de uma demanda maior, ainda que cautelosa, por crédito.
Se a agricultura foi a protagonista da expansão no caso da oferta, a formação de estoques teve a primazia pelo lado da demanda, ao lado das exportações líquidas. As contribuições para o resultado final foram de 1,13 e 0,41 ponto percentual, respectivamente, segundo cálculos de Alberto Ramos, diretor de pesquisas para a AL do Goldman Sachs. Isso compensou parcialmente o panorama absolutamente desolador dos investimentos. A formação bruta de capital fixo não só não apresentou recuo marginal, de 0,1%, como se esperava, como caiu 1,6% ante o trimestre anterior, na série com ajuste sazonal. Na comparação anual, a redução é de 3,7%.
Isoladamente, esse é o fator mais preocupante para o comportamento futuro da economia. Desde que começou a se retrair, no segundo trimestre de 2013 até o primeiro trimestre de 2017, os investimentos tiveram uma queda abissal de 30%. A ampla ociosidade da indústria não favorece melhorias nesse indicador, cuja possibilidade de alguma reação repousa em um estímulo via concessões e privatizações na infraestrutura. Estas, por sua vez, dependem de confiança e de estabilidade econômica e política, ambos em falta hoje.
O consumo das famílias, cuja fatia no resultado, pelo lado da demanda, é de 65%, decepcionou, com redução de 0,1% entre trimestres - são nove trimestres em queda - quando se esperava um desempenho já positivo agora. Se o desemprego, que deve ter atingido seu ápice no primeiro trimestre do ano, deprime esse consumo, a melhoria dos salários com a queda da inflação e condições um pouco menos hostis de crédito tendem a melhorá-lo aos poucos.
A reação do consumo não será rápida pelas características da atual recessão, que encontrou famílias e empresas endividadas. Nesse ponto há razões para otimismo moderado. A taxa de poupança deu um pulo de 1,9 ponto percentual, para 15,7% do PIB, e superou a taxa de investimentos, de 15,6%, pela primeira vez em uma década. Boa parte da explicação encontra-se na desalavancagem dos agentes econômicos e no acúmulo de caixa das empresas, que não veem como opção no momento os gastos de investimentos.
O setor externo surpreende no curto prazo e pode fazer diferença no resultado do segundo trimestre. A pasmaceira econômica não sanciona recuperação forte das importações, mas as vendas externas batem recordes. Em maio, a balança comercial teve o maior saldo mensal da história, de US$ 7,66 bilhões, e atingiu, em apenas cinco meses, US$ 29 bilhões. Os efeitos dessa performance sobre a indústria e serviços correlatos podem ajudar a estabilizar esses setores ou reduzir a magnitude da queda.
Antes da delação de Joesley Batista, o crescimento do PIB do primeiro trimestre era um ponto de passagem de uma longa e tenebrosa recessão para um período de expansão moderada, com força de aceleração em 2018. Após a delação e o acirramento da crise política, essa perspectiva se esvaiu para 2017 e rebaixou os horizontes de 2018.
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