Se já eram cautelosos os prognósticos para a retomada do crescimento da economia, a crise política agora suscita incertezas que tão cedo não serão dirimidas.
Reforça-se, assim, o temor de que o resultado positivo do Produto Interno Bruto —indicador da produção e da renda total do país— no primeiro trimestre seja pouco mais que um alívio efêmero.
Há razões para tanto. Embora significativa para um período tão curto, a expansão de 1% do PIB, que interrompeu uma sequência de dois anos de encolhimento, ancorou-se sobretudo na safra recorde de grãos –o setor agropecuário avançou extraordinários 13,4% sobre o trimestre anterior.
O desempenho das demais atividades está longe de ser animador. A indústria contabilizou alta de 0,9%, mero respiro após a devastadora contração acumulada do início de 2014 ao final do ano passado. Os serviços, que respondem por quase três quartos da economia nacional, ficaram estagnados.
Enquanto a oferta de produtos cresceu de forma irregular, a demanda por parte das empresas e famílias mostrou-se ainda decepcionante. Tanto o consumo como os investimentos —obras de infraestrutura e compra de máquinas e equipamentos, por exemplo– mantiveram-se em queda.
Nesse cenário, coube ao mercado externo dar impulso à melhora do PIB —as exportações do país subiram expressivos 4,8%.
Não é o bastante, porém, para uma recuperação consistente. Dados preliminares deste segundo trimestre, aliás, apontam o risco de uma nova retração da atividade, ainda que suave.
Em meio a tais dificuldades, qualquer abalo na confiança depositada na agenda econômica pode deteriorar as expectativas de empresários e consumidores.
Um sinal nessa direção, aliás, já aparece na atitude do Banco Central, que indicou a intenção de moderar, daqui para a frente, o ritmo dos cortes nas taxas de juros. Entre as ponderações do órgão, destaca-se "o aumento recente da incerteza associada à evolução do processo de reformas".
Trata-se de reação típica de cautela que se pode esperar no setor privado, mas que soa precipitada vinda do BC. A crise política mal conta duas semanas; a inflação cairá abaixo da meta de 4,5% anuais; não há sinal de disparada das cotações do dólar. Ademais, persistem o endividamento elevado e a escassez de crédito.
Diante da fragilidade do país, tamanho conservadorismo parece excessivo. Cumpre, em primeiro lugar, evitar que o crescimento do primeiro trimestre seja um falso positivo. Não se pode correr o risco de recidiva de uma recessão que sem dúvida está entre as mais longas e profundas da história.
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