Por Bruno Peres, Marcelo Ribeiro e Andrea Jubé | Valor Econômico
BRASÍLIA - O presidente Michel Temer afirmou ontem que "o Brasil venceu a recessão". A quatro dias do início do julgamento no Tribunal Superior Eleitoral, que pode cassar o seu mandato, Temer aproveitou o crescimento de 1% do PIB no primeiro trimestre do ano para enfatizar realizações positivas de sua gestão. A aposta é de que o novo fôlego econômico influencie o cenário político para que ele se sustente no cargo. Contudo, lideranças do PSDB, partido que desponta como o fiel da balança na crise, descartam essa hipótese.
"Há pouco mais de um ano, quando assumi a Presidência, o Brasil estava mergulhado na mais profunda recessão da sua história. O número de hoje marca o renascimento da economia, em bases sólidas e sustentáveis", disse Temer ontem, em vídeo gravado para as redes sociais.
O presidente mencionou, ainda, o controle da inflação e a redução da taxa básica de juros - seis quedas consecutivas -, chegando à decisão unânime do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira de novo corte, de um ponto percentual, registrando 10,25% ao ano.
Temer disse que o crescimento do PIB é "resultado de um ano de trabalho" de seu governo, "em sintonia com o Congresso e ouvindo a sociedade para promover as reformas adiadas por tanto tempo".
Os ministros do núcleo político - Eliseu Padilha, da Casa Civil, e Moreira Franco, da Secretaria-Geral - também repercutiram a alta do PIB. Padilha apontou, ainda, o resultado da balança comercial brasileira, que registrou em maio superávit de US$ 7,66 bilhões - o maior desempenho para um único mês desde o início da série histórica do Ministério do Desenvolvimento de Indústria e Comércio (Mdic), ou seja, o maior superávit mensal em 29 anos.
Contudo, o entusiasmo do presidente não reflete o sentimento de líderes tucanos, que aguardam o início do julgamento sobre a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer no TSE para decidir sobre o eventual rompimento com o governo.
Ontem o presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), relativizou o desempenho da economia. "O PIB foi muito bom, mas o cenário ainda é recessivo. O país precisa de definições. Enquanto isso não acontecer, tudo ficará paralisado. Qualquer que seja a decisão do TSE, é importante que ela seja dada logo", disse o tucano.
Na mesma diretriz de Tasso, o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), afirmou que é preciso dissociar as questões econômicas da crise política. "A decisão do PSDB da próxima semana será independente das questões econômicas. Seguiremos leais à agenda econômica, com Temer na Presidência ou sem. Uma decisão final deve sair em uma reunião na quarta ou quinta-feira da próxima semana", alertou.
Da ala jovem do PSDB, que defende o rompimento com o governo, o deputado Daniel Coelho (PSDB-PE) disse ao Valor que não acredita que números econômicos sejam capazes de reverter o quadro de crise política na qual o governo se encontra. "Um sinal de recuperação da economia não vai reverter tudo do dia para a noite. A situação está insustentável", declarou.
Um tom abaixo do PSDB, lideranças do DEM e do PR avaliaram positivamente o resultado do PIB e acreditam que os sinais de recuperação da economia devem colaborar para a reunificação da base.
Para Efraim Filho (PB), líder do DEM na Câmara, a melhora da economia dará fôlego ao governo Temer e representa "um bom sinal e um bom argumento para que a base se reunifique".
No mesmo sentido, o líder do PR, deputado José Rocha (BA) afirmou que a retomada da economia reforçou a decisão da legenda de "permanecer firme no sentido de seguir caminhando junto com o governo".
Menos enfático, o líder do PSD na Câmara, deputado Marcos Montes (MG) afirmou que a próxima semana será importante, sem mencionar se o julgamento do TSE funcionará como a linha de corte do partido para definir se continua na base aliada.
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